2007/04/27
2007/04/26
QUEM É QUE NÃO ACHA?
RELÓGIO DE PÊNDULO
Carlos Drummond
De todas as medidas criadas pelo homem para definir o seu contexto existencial, a medição do tempo é a mais interessante. Se o contexto astrofísico da terra levou a rápida fixação uniforme da definição dos dias e dos anos, ainda que a constante mudança de calendários tenha provocado algumas situações bastante curiosas. O Calendário Juliano, que vigorou durante 1600 anos, continha na sua divisão temporal um erro de cálculo que o atrasava um dia em cada 128 anos. O resultado foi que, com o decorrer do tempo, os meses se deslocavam no ano, podendo o mês de Janeiro chegar ao Outono, sendo que à data da reforma já estava mais perto do que inicialmente do equinócio do Inverno.
A reforma deste calendário foi feita em 1582 pelo Papa Gregório XIII. Nesse ano, o mês de Outubro perdeu 10 dias para que a contagem do tempo fosse rectificada, depois do dia 4 de Outubro de 1582, os calendários saltaram para o dia 15. No ocidente este novo calendário, o Gregoriano, foi inicialmente adoptado nos países católicos, levando dois séculos a vigorar nos países protestantes. Nos países cristãos-ortodoxos só no século XX passou a ser utilizado. Daí a diferença de datas em relação à Revolução de Outubro. Os calendários mais antigos, nomeadamente os babilónicos ou lunares, pecavam pela diferença de 11 dias desse ciclo ao ano solar, tendo a necessidade de acrescentar 1 mês completo ao calendário em cada 3 anos.
A divisão do dia em fracções conheceu as mais variadas formas. Das medidas de tempo, as horas, foram a medida mais volátil nos vários sistemas. Nos sistemas em que o dia era a simples divisão do dia solar em partes iguais (12 fracções entre o nascer e o pôr-do-sol) uma hora no verão era significativamente maior que uma hora no Inverno, variando ainda com a latitude em que era medida. Apesar disso, é nas horas que os antigos sistemas sexagesimais continuam a vigorar até aos dias de hoje. Talvez a única medida que escapou à uniformização decimal. A divisão em 6 e múltiplos de seis, sendo o doze a medida de referência atravessou os milénios. Os doze meses lunares mantiveram-se, acrescentados dos dias necessários à sua adequação ao ano solar. As doze divisões do período solar do dia foi complementado com doze divisões do período nocturno (24 horas). O número doze, existente também no Zodíaco, foi a base da divisão da parte mais aleatória do tempo, a hora.
Esta introdução serviu para enriquecer a nota fundamental que se pretende fazer neste post. Manifestar uma profunda satisfação por ter tido conhecimento do Blogue Relógio de Pêndulo. Escrito por um amigo, contém a riqueza de quem navega em águas profundas e, por tal, tem desse oceano um conhecimento profundo que se denota na complexidade das suas análises e opiniões, partilhando a máxima de que o complexo é sempre mais completo.
A pequena introdução, a que fiquei obrigado para falar do Relógio de Pêndulo, é um humilde esforço de retribuir com conhecimento, o conhecimento que dele retiro. A dissertação sobre o tempo resulta do aproveitamento do título do Blogue, parodiando as conversas de circunstância que sempre fazemos sobre o tema (ainda que normalmente seja sobre o tempo atmosférico), mas também sobre a forma como a relatividade do tempo depende sobretudo do modo como o aproveitamos. O Relógio de Pêndulo é um bom aproveitamento do tempo, para quem o faz, mas também para quem o lê.
2007/04/24
UMA NO CRAVO, OUTRA NA FERRADURA
Na votação da Moção sobre o 25 de Abril, o PS associou-se ao texto, que não averbou nenhum voto contra, tendo apenas 7 abstenções da bancada do PSD. Na votação da Moção sobre o 1º de Maio, o PS não aguentou as referências à deriva neoliberal do Governo, às referências à desigualdade de distribuição da riqueza, nem às criticas à diminuição da qualidade de vida do povo trabalhador. Votou contra! Até o PSD encontrou margem para se abster, valorizando o que de essência existia no texto.
Sarcozy pode continuar espantado, a deriva neoliberal do PS já não é meramente conjuntural, ela tornou-se a cultura política do Partido.
MON AMI SARKOZY
Pode levar os nossos, dir-lhe-ia eu!
2007/04/19
NÃO HAVIA NECESSIDADE!
A mim parece-me uma excelente escolha. Passa-se o tempo a carpir o afastamento da geração pós-25 de Abril aos valores e à memória da revolução, facto verdadeiro. Existe unanimidade que esse é um problema a que urge dar atenção. Ensaia-se continuamente novos modos de abordagem à geração que será decisiva na manutenção do estado democrático e na defesa dos seus valores.
Neste caso, os promotores avaliaram a possibilidade de convidar a participar um membro dessa geração, que se tem destacado pela sua intervenção cívica e política, que publicamente perfilha valores de esquerda e que goza de grande notoriedade mediática junto da sua geração. O seu nome foi vetado! Porquê?
2007/04/18
URGÊNCIAS CONTINUAM
A decisão do Ministro levanta contudo algumas questões relativas a este processo de reorganização dos serviços de saúde. A Comissão Técnica de Apoio ao Processo de Requalificação da Urgências, designação cheia de eufemismos, concluiu tecnicamente pela recomendação de encerramento deste serviço no Hospital Curry Cabral. O Ministro decide em sentido contrário utilizando argumentos que a tal comissão poderia ter ponderado para obter igual desfecho, mas que lhe passaram ao lado. As Urgências do Curry Cabral atendem uma média de 270 utentes por dia, possuem serviços de qualidade, instalações construídas para o efeito em 1998, tem meios de diagnóstico adequados e é acessível. O Governo continua a ter em agenda a construção do Hospital de Loures, seguramente porque entenderá, que as actuais estruturas são insuficientes para a satisfação das necessidades dos utentes. Neste contexto, como pôde a Comissão Técnica avaliar pelo encerramento deste serviço? Neste caso, o Ministro foi técnico na sua decisão. Não podia ser de outra forma. Seria insustentável uma decisão em sentido oposto, técnica e politicamente.
Em Loures todos os agentes políticos e sociais perceberam isso. Todos, menos o Partido Socialista na Câmara e na Assembleia Municipal de Loures, que entendeu o anúncio da Comissão Técnica como um dogma político e tudo fizeram para o suportar politicamente. Esteve mal!
A razão vingou e confortou todos os que desde o início contestaram essa possibilidade. Os seus argumentos eram válidos e a sua determinação justificou-se.
2007/04/17
MAIS 3 TEXTOS
que programa o computador
que alarma o banqueiro
que alerta o embaixador
que janta com o general
que se encontra com o presidente
que intima o ministro
que ameaça o director geral
que humilha o gerente
que grita ao chefe
que viola o empregado
que despreza o operário
que maltrata a mulher
que agride o filho
que pontapeia-a o cão.
Introdução á história da arte
Janto com Nicole e com Adoum.
Nicole fala de um escultor que ela conhece, homem de muito talento e fama. O escultor trabalha num grande atelier e sempre rodeado de crianças. Todas as crianças do bairro são seus amigos.
Um bom dia a Câmara encomendou-lhe um grande cavalo para uma praça da cidade. Um camião trouxe ao atelier o bloco gigante de granito. O escultor começou a trabalha-lho, subindo a uma escada, a golpes de martelo e escopo. As crianças viam-no fazer.
Então as crianças partiram, de férias, rumo ás montanhas ou ao mar.
Quando regressaram, o escultor mostrou-lhes o cavalo terminado.
E uma das crianças, com os olhos muito abertos, perguntou-lhe:
- Mas…? Como sabias que dentro daquela pedra havia um cavalo?
Os pássaros proibidos
Os presos políticos uruguaios não podem falar sem autorização, assobiar, sorrir, cantar, caminhar depressa ou saudar outro prisioneiro. Também não podem desenhar nem receber desenhos de mulheres grávidas, de namorados, borboletas, estrelas ou pássaros.
Didaskó Pérez, professor, torturado e preso por ter ideias ideológicas, recebe num domingo a visita da sua filha Milay, de cinco anos. A filha traz-lhe um desenho de pássaros. Os censores rasgam-no á entrada da prisão.
No domingo seguinte, Milay traz-lhe um desenho de árvores. As árvores não estão proibidas e o desenho passa. Disdaskó elogia o desenho e pergunta-lhe pelos pequenos círculos que aparecem nas copas das árvores, muitos, entre os ramos.
- São laranjas? Que frutas são?
A filha fá-lo calar:
-Ssshhhh.
E de segredo lhe explica:
- Bobo. Não vês que são olhos? Os olhos dos pássaros que te trouxe ás escondidas.
Mais 3 textos recebidos por mail. Os autores continuam a não vir identificados.
2007/04/16
TÃO CONSCIENCIOSOS QUE NÓS SOMOS!
Quem conhece, a antiga Fábrica de Munições, pode desde já ficar com a seguinte pergunta no ar: Como é que a Câmara Municipal de Loures, os serviços de fiscalização, leva um mês a identificar esta acção da Obriverca? A antiga fábrica não era num beco escuro e toda a gente assistiu ao início dos trabalhos de demolição. Os próprios vereadores da oposição, que são apenas cinco e não têm serviços à sua alçada, alertaram recentemente numa reunião de Câmara para esta situação. Ela seria seguramente do conhecimento dos responsáveis autárquicos, até porque, apesar de ser intramuros, a própria Obriverca anunciou o seu empreendimento com um belo cartaz virado para o final da Av. de Moscavide. No mínimo impõe-se um esclarecimento sobre a eficácia dos serviços de fiscalização do município.
Fonte da empresa garante que só foram demolidos edifícios em ruína eminente, que não garantiam condições de segurança (!). Terão os serviços municipais verificado a veracidade dessa alegação? As declarações dos responsáveis da Obriverca terminam com uma demonstração do mais profundo altruísmo. “ Preferimos pagar a multa à eventualidade de ali vermos morrer alguém.” Quem quiser que compre, porque eu continuo a preferir lebre verdadeira.
2007/04/14
SOEIRO PEREIRA GOMES - 14 DE ABRIL 1910
O romance foi editado em 1941, contanto com ilustrações de Álvaro Cunhal. A escrita de Soeiro é um dos expoentes do neo-realismo português. O romance Esteiros, relata a existência de crianças cuja condição social as torna crianças-operárias numa fábrica de tijolo à beira-tejo. Os laços de solidariedade criados entre elas são a defesa que encontram para sobreviver num contexto profundamente hostil. Adultos à força, são na mesma crianças, sempre crianças.
Soeiro Pereira Gomes nasceu em 14 de Abril de 1910 e faleceu em 5 de Dezembro de 1949, vitimado pela tuberculose, doença para a qual, pela sua condição de resistente clandestino à ditadura, nunca recebeu os devidos cuidados médicos. Nasceu em Espinho, onde passou a sua infância. Estudou em Coimbra, de onde rumou a Angola para trabalhar, onde permaneceu cerca de um ano. De regresso a Portugal, fixa-se em Alhandra, começando a trabalhar como funcionário administrativo numa fábrica de tijolos. Foi um organizador e impulsionador da actividade cultural no meio operário. Notabilizou-se pela sua obra literária, maior legado que deixou. Passou longos períodos na resistência clandestina do PCP ao regime salazarista.
DO FUNDO DO BAÚ - O GASTRÓPODE D` OURO
“O Loures é um Blogue promove um concurso que visa distinguir a personalidade do Ano em Loures. As propostas de candidatos devem seguir, com a devida fundamentação, para o aconteceemloures@iol.pt, sendo depois publicadas no Blogue. Ao candidato vencedor será enviado, além do Gastrópode d`Ouro, um vale petisco, que poderá ser utilizado nos Periquitos em Loures, no Virgílio em Santa Iria de Azóia ou no Vilela em Sacavém. Envia as tuas propostas.O Loures é um Blogue não aceita propostas referentes a filhos, pais, noras, sobrinhos, enteados, cunhados, amigos ou companheiros de partido.
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O PS Loures - 56 votos, pela falta de humor com que durante este fim-de-semana reagiu neste Blogue. Obrigado pela vossa preferência. Sorria pela sua saúde.
Apesar disto não ser um concurso de cinema, também recebemos a proposta de atribuição de um Gastrópode d`Ouro para o melhor elenco de figuração para distinguir 92 assessores, 521 secretárias, 124 adjuntos, o Vereador Ricardo Leão e o Boxer do Baldo.
Chegou ainda a proposta do Prémio Gastrópode Excitado para o Carlitos pela frase "Deus está em todo o lado, Mário Soares já esteve.... e eu faço por estar" proferida durante a inauguração da remodelação de uma Escola Básica em Sacavém, em Novembro último.”
2007/04/13
NA CASA DO VIZINHO
“Ruben de Carvalho, Joana Amaral Dias e Medeiros Ferreira deixaram de ser colunistas do "Diário Notícias". A lista de colunistas ideologicamente indesejados pela nova direcção pode ser maior.
Pelas informações que recebi, Sarsfield Cabral terá sido dispensado no fim do debate da SIC Notícias, ali mesmo à porta do estúdio. Os restantes, pelo menos aqueles de que tenho conhecimento, foram demitidos por e-mail. Igual para todos. Diz muito do estilo.
Às cavalitas do seu director, Ferreira Fernandes herda no "Diário de Notícias" o lugar que ele já lhe tinha dado no "Correio da Manhã": a última página. Todos os dias. Quem é amigo, quem é?
A colheita de novos colunistas será feita aqui na blogosfera, todos de direita. Bem de direita. Bem conhecidos de todos nós. A direita terá finalmente o seu "Avante!"
SOBE A CALÇADA
A mulher que sobe, porque sobe, incessantemente, na dura luta da vida é a mesma que sobe, porque sobe na dura vida da luta.
Este poema, que agora já li, ficará como testemunho mais fiel do capital de agradecimento que à Deputada Odete Santos é devido.
Saiu de casa
Luísa é nova,
Passam magalas,
Chegou a casa
Na manhã débil,
2007/04/12
3 TEXTOS
Dos topos, aprendemos a fazer túneis.
Dos castores, aprendemos a fazer diques.
Dos pássaros aprendemos a fazer casas.
Das aranhas, aprendemos a tecer.
Do tronco que rodava pela encosta a baixo, aprendemos a roda.
Do tronco que flutuava á deriva, aprendemos os barcos.
Do vento, aprendemos a vela.
Quem nos terá ensinado as más manhas? De quem aprendemos a atormentar o próximo e a humilhar o mundo?
Almir D`avila entrou criança, declararam-no demente e nunca mais saiu.
Nunca ninguém lhe escreveu uma carta, nem nunca ninguém o visitou.
Ainda que pudesse sair, não tinha para onde: ainda que pudesse falar, não tinha com quem.
Faz mais de quarenta anos, que passa os seus dias no manicómio de San Pablo, deambulando em círculos, com um rádio pegado á orelha, e no seu caminho cruzando-se sempre com os mesmos homens que deambulam em círculos com uma rádio pegado á orelha.
Um dos médicos organizou uma visita a uma exposição de Joan Miró.
Almir vestiu o seu único fato, muito bem passado pelo colchão, meteu até aos olhos o seu boné de almirante e marchou com todos, rumo ao museu.
E viu. Viu as cores que estalavam, o tomate que tinha bigodes e o garfo que dançava, o pássaro que era uma mulher nua, os céus com olhos e as caras com estrelas.
Andou, de quadro em quadro, de testa franzida. Era evidente que Miró lhe tinha defraudado, mas o médico quis conhecer a sua opinião:
-Demasiada – disse Almir.
-Demasiada quê?
-Demasiada loucura.
A comédia do século
Em 1889 Paris festejou, com uma grande exposição internacional, os cem anos da revolução francesa.
Dos onze Onas enviados, dois morreram na viagem. Os sobreviventes foram exibidos numa jaula de ferro. Antropófagos sul- americanos, advertia um cartaz. Durante os primeiros dias não lhes deram nada de comer. Os índios uivavam de fome. Então, começaram a atirar-lhes alguns pedaços de carne crua. Era carne de vaca. Mas, ninguém queria perder aquele espectáculo horripilante. O público, que havia pago entrada, golpeava-se em torno da jaula, onde os selvagens canibais disputavam com garra e garras a comida.
Assim foram celebrados os primeiros cem anos da declaração dos Direitos do Homem.
Autor dos textos não identificado. Recebidos por mail.
A HISTÓRIA REINVENTADA
De um conjunto de 21 monumentos portugueses, a escolha dos telespectadores, “elegerá” os 7 que ocuparão o podium. Todos os candidatos são de pedra e cal, alguns têm betão. Por força das regras do concurso, não existe a escrutínio nenhuma paisagem, área ou região. Rapidamente se pode referir a Costa Vicentina, o Douro Vinhateiro, o Tejo Internacional ou a Peneda Gerês. De relevar as ausências na medida em que se resumem as potenciais maravilhas à dimensão construída, estrito senso. Não se abrindo o conceito aos valores naturais, talvez os mais necessitados de divulgação e defesa. É a lógica do concurso, pobre de facto.
Colectivamente ainda não lhe conseguimos escapar. Ela é pegajosa, certinha, romântica, uma bonita estória (bela palavra que nos permite rigor conceptual).
Na primeira metade do Século XX, já durante o Estado Novo o Castelo foi novamente intervencionado, sendo-lhe acrescentados mais alguns floreados decorativos. “No século XX, o conjunto foi adaptado a Residência Oficial da República Portuguesa, aqui tendo lugar alguns importantes eventos do Estado Novo. O processo reinventivo, iniciado um século antes, foi definitivamente consumado por esta intervenção dos anos 40 e 50, consumando-se assim o fascínio que a cenografia de Almourol causou no longo Romantismo cultural e político português.” (Fonte, IPAAR) Ficou o cenário em torno do qual se contava a estória.
O Mosteiro dos Jerónimos, não deixando de ter uma relevância arquitectónica, artística e histórica impar, não escapou imune à passagem do tempo, chegando ao final do século XIX em pleno estado de ruína. A sua reconstrução foi também o momento para retoques e aprimoramentos. A sua torre central viu substituído o seu telhado renascentista de quatro águas por uma cúpula, bem mais vistosa e ao gosto da época. Muitos dos elementos decorativos foram reinventados ao estilo manuelino.
MONUMENTOS E SÍTIOS
2007/04/10
ADRIANO POR MANUEL ALEGRE
ADRIANO CORREIA DE OLIVEIRA
Sendo vivo, Adriano Correia de Oliveira, teria completado ontem, 9 de Abril, 65 anos. Como modo de assinalar este dia, publico hoje um texto de Álvaro José Ferreira, publicado ontem no blogue Nossaradio.
"Adriano Maria Correia Gomes de Oliveira nasceu no Porto, a 9 de Abril de 1942. Filho primogénito de Joaquim Gomes de Oliveira, agricultor, e de Laura Correia, doméstica, Adriano passa a infância na Quinta de Porcas, em Avintes (concelho de Vila Nova de Gaia). Em Avintes faz a instrução primária e, depois, no Porto, o curso dos liceus no Colégio Almeida Garrett e no Liceu Alexandre Herculano. É ainda em Avintes que se inicia no teatro amador e colabora na fundação da União Académica de Avintes. Inicia-se também na prática do voleibol – beneficiando dos seus dotes atléticos e da sua altura – vindo mais tarde, já em Coimbra, a ser campeão nacional da modalidade. Em Outubro de 1959, aos 17 anos de idade, matricula-se na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, mas nunca chegará a concluir o curso.Passa a desenvolver grande actividade nos organismos estudantis da academia: canta e é solista no Orfeão Académico, fez parte do Grupo Universitário de Danças Regionais e integra o CITAC (Círculo de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra) onde representa várias peças. A sua primeira ambição musical, ainda caloiro, é tocar viola eléctrica no Conjunto Ligeiro da Tuna Académica, do qual faziam parte José Niza, Daniel Proença de Carvalho, Rui Ressurreição, Joaquim Caixeiro, entre outros. Como José Niza já ocupava o lugar de guitarrista, Adriano abandona a ideia e dedica-se ao canto, iniciando-se naturalmente pelo fado de Coimbra. Nessa altura vivia-se em Coimbra uma das fases mais ricas da canção feita pelos estudantes. Depois da época áurea – anos 30 – protagonizada por nomes como António Menano, Francisco Menano, Edmundo Bettencourt e Artur Paredes, os anos 50 e 60 conduziram a canção coimbrã ao mais alto nível com vozes como Luiz Goes, Fernando Machado Soares e José Afonso e guitarristas como António Brojo, Eduardo Melo, Jorge Tuna, Jorge Godinho e António Portugal.Adriano, embora não tendo sido contemporâneo, nos estudos, dos cantores referidos, conviveu com eles, sobretudo com José Afonso e Fernando Machado Soares, os quais, embora já fora de Coimbra, continuavam a manter uma ligação muito estreita com a vida académica e a influenciar os cantores estudantes dos anos60, dos quais Adriano era companheiro: Barros Madeira, Lacerda e Megre, Sousa Pereira, Vítor Nunes, José Mesquita, José Miguel Baptista, António Bernardino e outros.Sobre a Coimbra desses anos 60, escreve Manuel Alegre: «Vivia-se, então, quando ele [Adriano] chegou a Coimbra, um tempo de grande tensão histórica e de grande tensão interior, um tempo de impulso e de pulsão, de mudança e mutação. Algo mudara no nosso viver colectivo. Algo mudara dentro de cada um de nós. Era um tempo pejado de apelos e sinais, carregado de perigos e angústias, um tempo prenhe de coisas novas, por vezes indistintas e confusas, mas que buscavam o seu rosto e a sua forma. Ruíam tabus e mitos, levantavam-se barreiras, apertava-se a mordaça e reforçava-se a repressão, mas algo estava em marcha, algo que nenhuma censura e nenhuma polícia podiam travar: era uma nova consciência que despontava, uma energia que pulsava naquela geração sobre que se abatia, por um lado o endurecimento da ditadura salazarista, por outro o espectro cada vez mais próximo da guerra de África. Ao mesmo tempo chegavam a Coimbra ecos e notícias da luta libertadora de outros povos e também da tomada do paquete Santa Maria por Henrique Galvão, do ataque ao quartel de Beja, de manifestações e greves em Lisboa e Alentejo. E já por Coimbra tinha passado o vendaval da candidatura presidencial de Humberto Delgado, bem como a revolta da Academia contra o decreto 40.900 que visava a liquidação da tradicional autonomia das associações estudantis e, no caso particular de Coimbra, da Associação Académica. Tal como noutras épocas decisivas (recordo as gerações de Garrett e de Antero), o sopro do tempo, a corrente das ideias, o próprio fluir da História tinham chegado e provocavam um fervilhar de iniciativas, buscas, enfim, uma extrema tensão geradora duma nova mentalidade e duma nova maneira de ser. Foi nessa Coimbra que Adriano desembarcou. Trazia consigo uma grande generosidade e aquela dose de inocência que nunca haveria de perder. Não sei como, talvez por acaso, ou talvez não (não estará o Acaso, afinal, ma origem de tudo?), começou a aparecer por minha casa onde já se juntavam, entre outros, o António Portugal, o José Afonso, o Rui Pato. Descobrimos então o timbre inconfundível da voz de Adriano e também essa sua conhecida pretensão, que nunca perderia e haveria de provocar infindáveis discussões com o António Portugal, de cantar uma oitava acima de Edmundo de Bettencourt».Com grande sensibilidade para a poesia e para a música popular, dotado de um timbre de voz único e de uma rara expressão em tudo o que interpretava, Adriano, em 1960 – um ano depois de chegar a Coimbra –, grava o seu primeiro disco, um EP com o título "Noite de Coimbra" para a editora Orfeu, de Arnaldo Trindade. O disco inclui quatro temas: "Fado da Mentira" (letra e música de António Menano), "Balada dos Sinos" (letra e música de Eduardo Melo), "Canta Coração" (letra de Eduardo Melo e música do próprio Adriano) e "Chula" (música de António Portugal).
Os três primeiros temas tem acompanhamento de António Portugal e Eduardo Melo (guitarras), Durval Moreirinhas e Jorge Moutinho (violas), sendo o último um instrumental de António Portugal. Nos anos de 1961 e 1962 grava mais três EP com fados de Coimbra. Diz Paulo Sucena: «Foram os fados, na verdade, que ensinaram o jovem Adriano a colocar a voz, a respirar nos tempos certos, a atacar, a segurar ou a esvanecer as sílabas musicais, a valorizar fonológica e semanticamente os matizes das palavras, enfim, a dar aos receptores um canto limpo, verbal e musicalmente.»Participando de corpo inteiro, e de alma e coração, na vida estudantil do início dos anos 60, e na contestação do regime político – que culminou com a greve de 1962 – Adriano cedo se apercebe que a canção era uma forma de intervenção política de grande eficácia. E foi assim que, em plena ditadura, teve a coragem de cantar textos que mais ninguém cantou e que – tal como os de José Afonso – contribuíram para corroer o regime salazarista/marcelista, o mesmo é dizer, para a criação das condições que levariam ao 25 de Abril de 1974. Em 1963, grava o EP "Trova do Vento Que Passa", que além do tema título inclui "Pensamento", "Capa Negra, Rosa Negra" e "Trova do Amor Lusíada" (poemas de Manuel Alegre e composições de António Portugal). António Portugal e Rui Pato são os acompanhantes à guitarra e à viola, respectivamente. A "Trova do Vento Que Passa" (Há sempre alguém que resiste / há sempre alguém que diz não) torna-se rapidamente um dos maiores hinos de resistência e de contestação ao regime ditatorial, a par de "Os Vampiros" de José Afonso, gravado no mesmo ano. Conta o próprio Manuel Alegre: «Por essa altura, andava eu a descobrir a poesia trovadoresca.
Encantara-me precisamente o saber oficinal dos poetas-trovadores e a quase inigualável perfeição de algumas cantigas de amor e de amigo. Encantava-me a tal difícil simplicidade de algumas delas. Eram trovas e cantigas que tinham uma música lá dentro e quase se podiam assobiar. (...) E assim nasceram as Trovas. Nasceram por assim dizer quase naturalmente. Estavam na voz do Adriano, na guitarra do António Portugal, no ar novo que se respirava e vivia em Coimbra. Não mais a capa velhinha, feita mortalha para a sepultura. Havia que cantar a capa transformada em bandeira de luta e liberdade. Eram Trovas que os estudantes cantavam em coro. Trovas que já não eram apenas de Coimbra mas de todo o movimento estudantil português». A seguir, Adriano grava mais três EP: "Lira" (1964), "Menina dos Olhos Tristes" (1964) e "Elegia" (1967), marcados pelas duas vertentes que orientarão a sua obra: a canção popular portuguesa, por um lado, e a poesia criada pelos grandes poetas, por outro. Destes discos merecem destaque duas belas baladas em que se denuncia a guerra colonial: "Menina dos Olhos Tristes" (com poema de Reinaldo Ferreira - O soldadinho não volta / do outro lado do mar / O soldadinho já volta / está mesmo quase a chegar / Vem numa caixa de pinho / do outro lado do mar) e "Barcas Novas" (com poema de Fiama Hasse Pais Brandão - De Lisboa sobre o mar / Barcas novas são mandadas / Barcas novas levam guerra / Sobre o mar com suas armas).Em 1964, Adriano viaja até Paris onde conhece Luís Cília, que permanecerá outra das suas grandes referências e que para ele compõe a música de três temas incluídos no LP "Margem Sul" (1967): "Canção Terceira" (com poema de Manuel Alegre), "Sou Barco" (com poema de Borges Coelho) e "Exílio" (com poema de Manuel Alegre). Deste belo álbum, que conta com as participações de António Portugal (guitarra) e Rui Pato (viola), merecem ainda destaque os temas "Rosa de Sangue" (com poema de António Ferreira Guedes e música de Adriano), "Margem Sul" (com poema de Urbano Tavares Rodrigues e música de Adriano), "Rosa dos Ventos Perdida", (com poema de António Ferreira Guedes e música de Adriano) e "Pedro Soldado" (com poema de Manuel Alegre e música de Adriano).Sempre activo na vida académica, não tardará a trocar o desporto (sagrara-se campeão nacional de voleibol pela Académica) pelo crescimento envolvimento na luta política. A crise académica de 1969, porém já não o encontrará na cidade do Mondego. Quando lhe falta apenas uma cadeira para terminar o curso de Direito, em 1966, Adriano, já casado com Maria Matilde Leite (de quem terá dois filhos, Isabel e José Manuel), troca Coimbra por Lisboa, para onde pedira transferência de matrícula. Trabalha no gabinete de imprensa da FIL (Feira Internacional de Lisboa) e é produtor da editora onde sempre gravou, a Orfeu.
Em 1967, é mobilizado para o serviço militar, sendo incorporado na Escola Prática de Infantaria de Mafra. Será depois transferido para Escola Prática de Cavalaria de Santarém e, por fim, para o Quartel da Ajuda, em Lisboa, de onde sai em 1970.Em Julho de 1969, afirma à revista Flama: «O que eu pretendo fazer é, honestamente, tentar um caminho, que não seja o único, de renovar a música portuguesa, dando às pessoas algo mais que as "chachadas" alienatórias que por aí se cantam». E concretizando as suas palavras, nesse ano, Adriano tem a grande ousadia de gravar "O Canto e as Armas", um álbum quase integralmente dedicado à poesia de Manuel Alegre, que se encontrava exilado em Argel e quando o próprio Adriano cumpria o serviço militar. Todos os 13 temas do alinhamento foram compostos pelo próprio Adriano e têm acompanhamento à viola de Rui Pato. Baladas como "Raiz", "E a Carne de Fez Verbo", "Peregrinação", "Trova do Vento Que Passa n.º 2" e "As Mãos" rapidamente se tornam hinos de resistência ao Estado Novo. "O Canto e as Armas" é assim uma premonição do que viria a passar-se cinco anos depois na madrugada de 25 de Abril: o canto de Adriano e as armas de Salgueiro Maia, ambos com raízes na Escola Prática de Cavalaria de Santarém, seriam decisivos para a restauração da democracia e da liberdade em Portugal. Ainda em 1969, Adriano é distinguido com o Prémio Pozal Domingues.Em 1970, grava o LP "Cantaremos", outro dos álbuns fundamentais da sua discografia, no qual inicia a colaboração com José Niza de resultarão alguns dos mais belos temas do seu repertório. Este disco inclui temas tão emblemáticos como "Cantar de Emigração" (com poema da galega Rosalía de Castro e música de José Niza), "Fala do Homem Nascido" (com poema de António Gedeão e música de José Niza), "Lágrima de Preta" (com poema de António Gedeão e música de José Niza), "Canção com Lágrimas" (com poema de Manuel Alegre e música de Adriano) e "Como Hei-de Amar Serenamente" (com poema de Fernando Assis Pacheco e música de Adriano). Os instrumentistas foram Rui Pato (viola, viola baixo e viola de 12 cordas) e Tiago Velez (flauta, em "Cantar de Emigração" e "Lágrima de Preta"). Contou ainda com a colaboração de Carlos Alberto Moniz nos arranjos dos temas populares açorianos ("O Sol Perguntou à Lua" e "Sapateia") e de "Canção Para o Meu Amor Não se Perder no Mercado da Concorrência" (poema de Manuel Alegre e música de Adriano).Em Outubro de 1971, edita o LP "Gente de Aqui e de Agora", sendo a totalidade das músicas da autoria de José Niza, que as compôs no norte de Angola, durante a Guerra Colonial, onde cumpria o serviço militar como alferes-médico. O álbum, gravado nos Estúdios Polysom, sob a supervisão técnica de Moreno Pinto, inclui um poema de Fernando Assis Pacheco na contracapa e 10 canções no alinhamento, entre as quais "Emigração" (com poema do galego Manuel Curro Enríquez), "E Alegre se Fez Triste" (com poema de Manuel Alegre), "O Senhor Morgado" (com poema de Conde de Monsaraz), "Cana Verde" (com poema de Fernando Miguel Bernardes), "A Vila de Alvito" (com poema de Raul de Carvalho), "Canção Tão Simples" (com poema de Manuel Alegre), "Roseira Brava" (com poema de António Ferreira Guedes) e "História do Quadrilheiro Manuel Domingos Louzeiro" (com poema de António Aleixo). Este álbum representa ainda o início de uma nova fase na obra de Adriano, caracterizada por maiores exigências de natureza estético-musical, por um tratamento mais apurado dos acompanhamentos e arranjos e por uma pesquisa e escolha poética mais exaustiva e diversificada. É o próprio Adriano que, em entrevista a Vieira da Silva (Mundo da Canção, 1971), explicita: «Este disco é um passo enorme em frente. Em todos os aspectos: instrumentação, construção musical (que pertence a José Niza), vocalização (onde houve um trabalho muito mais cuidado do que anteriormente na técnica de cantar). Demorou mais tempo a realizar do que normalmente, porque valia a pena, porque eu sabia que estávamos a trabalhar no caminho certo e com segurança. Com segurança graças exactamente à direcção do José Niza que me podia apontar quando as coisas estavam certas ou não». Neste álbum, Adriano canta pela primeira vez com acompanhamento de orquestras, dirigidas por José Calvário (em "E Alegre se Fez Triste", o primeiro arranjo do maestro, então com vinte anos) e por Thilo Krassman (em "Cantiga de Amigo"), e por pequenos conjuntos instrumentais: viola (José Niza), piano e acordeão (Rui Ressurreição), baixo e harmónica (Thilo Krassman), bateria (José Eduardo L. Cardoso).Até à queda da ditadura, Adriano não gravará mais discos porque se recusa a enviar os textos à Comissão de Censura. Nesse período saem alguns EP com temas dos álbuns anteriores e um LP intitulado "Fados de Coimbra" (1973) que reúne os fados dos três primeiros EP (editados em 1960 e 1961).
Em 1975, em pleno PREC, Adriano edita o LP "Que Nunca Mais", no qual musica e interpreta nove poemas de Manuel da Fonseca, corolário do trabalho que desenvolvera durante os últimos anos da ditadura. O álbum, gravado nos estúdios da Rádio Triunfo, por José Manuel Fortes, tem a direcção musical e arranjos de Fausto Bordalo Dias e conta com participação musical do próprio Fausto (guitarra acústica, percussão, kazu, coros), Júlio Pereira (guitarra solo, baixo, piano, órgão, bandolim, buzuki, cadeira, coros), Zau e Pantera (percussões), José Luís Simões (trombones de varas), Vitorino Salomé (acordeão) e Carlos Paredes (guitarra portuguesa). O alinhamento começa com "Tejo Que Levas as Águas", cuja letra (vide abaixo), passadas mais de três décadas sobre a Revolução dos Cravos, readquiriu uma surpreendente e preocupante actualidade. O álbum vale a Adriano Correia de Oliveira o Prémio de Melhor Artista do Ano atribuído pela revista britânica "Music Week".A partir de 1975, Adriano não pára de cantar, quer em Portugal, quer no estrangeiro o que, naturalmente, lhe retira tempo para preparar novas gravações. Quer antes, quer depois do 25 de Abril, pode dizer-se que não existe sítio em Portugal onde Adriano não tenha cantado, a maioria das vezes sem as mínimas condições logísticas e técnicas e sem qualquer compensação monetária. E, por isso, morreu pobre, conta José Niza. Gravará apenas mais dois discos: em 1978, um single intitulado "Notícias d’Abril", com duas composições suas sobre poemas de Alfredo Vieira de Sousa ("Se Vossa Excelência... " e "Em Trás-os-Montes à Tarde"); e em 1980, um álbum de título genérico "Cantigas Portuguesas", em que Adriano retoma e aprofunda a exploração do nosso riquíssimo cancioneiro tradicional que havia iniciado nos anos 60. Os arranjos e a direcção musical são mais uma vez de Fausto Bordalo Dias e entre os instrumentistas contam-se o próprio Fausto e Pedro Caldeira Cabral.Fiel ao espírito de grupo que sempre o animou, Adriano Correia de Oliveira é, em 1979, um dos fundadores da Cantarabril, cooperativa de músicos ligada ao Partido Comunista Português. Decorridos dois anos, será alvo de um processo pouco digno para a direcção da cooperativa que, pura e simplesmente, decide expulsá-lo. Motivo invocado: uma alegada dívida de 40 contos e a «inadaptação de Adriano à perspectiva mercantilista de mercado». Alguns dos seus colegas de ofício como Luís Cília, Fausto e José Afonso solidarizam-se com ele. A saúde do cantor já está consideravelmente degradada devido ao consumo imoderado de álcool. As suas actuações no último ano de vida, nomeadamente num concerto de apoio aos jornalistas da ANOP, ameaçados de desemprego, são fortemente afectadas por esse problema. A cooperativa ia endossando os convites dirigidos a Adriano para outros cantores da casa. Na altura em que mais precisava de apoio e de ajuda, Adriano vê-se abandonado e atraiçoado por muitos dos seus antigos companheiros de luta. Dois anos mais tarde, numa sessão assinalando o primeiro ano sobre a morte de Adriano Correia de Oliveira, na presença de vários membros da Cantarabril, o jornalista Júlio Pinto, também ex-militante do PCP, acusa de assassinos os que o expulsaram da cooperativa. Adriano seria depois recebido na cooperativa Era Nova, ligada a cantores próximos da extrema-esquerda, como Fausto e José Mário Branco. Mas já de pouco lhe serviu.
Morre a 16 de Outubro de 1982, em Avintes, nos braços da mãe, vítima de uma hemorragia no esófago. Tinha 40 anos de idade e deixa vários projectos por realizar, designadamente uma regravação dos seus temas mais antigos.No ano seguinte, a Orfeu lança um LP duplo contendo 22 temas intitulada "Memória de Adriano" (reeditado em CD pela Movieplay, em 1992). Em 1994, a Movieplay publica a sua "Obra Completa", numa caixa com 7 CDs (organizados tematicamente por José Niza) acompanhados de um livrinho com textos de Manuel Alegre, Paulo Sucena e José Niza. Ainda em 1994, a mesma editora lança uma compilação de 18 temas do cantor, na série "O Melhor dos Melhores". Posteriormente, alguns dos álbuns originais como "O Canto e as armas", "Cantaremos", "Gente de Aqui e de Agora" e "Que Nunca Mais" são também editados em CD.«A voz do Adriano era uma voz alegre e triste. Solidária e solitária, havia nela ternura e mágoa, esperança e desesperança, amparo e desamparo, festa e luta. E também saudade e fraternidade. Nenhuma outra voz portuguesa, com excepção das de Amália Rodrigues e José Afonso, está tão carregada desse não sei quê antigo que trazemos no sangue, como o apelo do mar e o amor da terra, como a toada e o tom do nosso próprio ser, do seu ritmo secreto, da sua música primordial. Voz de Fado e de destino, herança talvez do mouro e do celta que nos habitam, a voz de Adriano tinha também o masculino apelo do rebate e do combate. Era uma voz que precisava de poesia e de que a poesia precisava», escreve Manuel Alegre. E acrescenta: «Sem a voz de Adriano, muitos dos poemas que os poetas escreveram não teriam chegado onde chegaram. Foi pela sua voz que eles chegaram ao povo e ao país inteiro, a tal ponto que alguns desses poemas deixaram de ter autor para passarem a fazer parte da nossa memória comum e do nosso canto colectivo».Contudo, os media portuguesas, sobretudo a rádio, muito pouco têm feito em prol da memória de Adriano Correia de Oliveira. Apesar de estar totalmente publicada em CD, a sua riquíssima obra tem sido alvo de um silenciamento, a todos os títulos criminoso, principalmente por estar a ser negada aos mais jovens a oportunidade de tomarem conhecimento do legado de um dos compositores / intérpretes superlativos da música portuguesa de sempre.
Em Maio de 2006, lavrei o meu protesto pelo que se estava a passar na rádio pública, designadamente na Antena 1 mas, infelizmente, e apesar de ter enviado uma cópia do texto aos altos responsáveis da estação pública, constato com mágoa e revolta que o grande cantor continua arredado dos alinhamentos de continuidade ("playlists"). Espero que no ano em que se comemoram os 65 anos do seu nascimento e se assinalam os 25 anos da morte, a direcção da RDP encabeçada por Rui Pêgo tenha a lucidez e a sapiência de corrigir a vergonhosa situação, mais própria de um país obscurantista e culturalmente atrasado. Foi também a pensar nisso que tomei a iniciativa de elaborar este texto."
2007/04/09
PREVENINDO A INJUSTIÇA
A ROSA ALARANJOU!
Agora é tudo mais claro. O novo Vereador do PSD, que veio substituir o Frasquilho, vai assumir Pelouros. Ainda não fixei o nome do Senhor e para este texto nem me dei ao trabalho de consultar a página do Município para suprimir essa lacuna. As muletas vão e vêm, quem se importa com elas.
Esta coligação PS/PSD em Loures não terá programa político, nem objectivos mínimos de entendimento, não fará em torno de princípios conciliados. Será um zero em política. O Senhor quer ser Vereador, ter subordinados, ter carro, ter motorista, receber vencimento, dar emprego a uns amigos e familiares, exercer e exibir um pequenino poder. O PS precisa de mais um voto seguro que, na Câmara Municipal de Loures, lhe proporcione uma maioria que não teve nas urnas. Diria o povo que se juntou a fome à vontade de comer. Este queijo nem sequer é Limiano. É um daqueles sucedâneos alaranjados que encontramos dentro dos hambúrgueres de comida rápida.
Dia 4 de Abril o Senhor Vereador do PSD, que substituiu o Frasquilho, já começou a fazer estragos. O seu voto foi um dos que aprovou o parecer favorável ao desmantelamento do Agrupamento de Escolas de Fanhões. O outro Vereador do PSD, Paulo Guedes da Silva, votou contra, assim como os eleitos da CDU.
BRIGHT SIDE OF LIFE
Always Look on the Bright Side of Life
Some things in life are bad,
They can really make you mad,
Other things just make you swear and curse,
When you're chewing life's gristle,
Don't grumble,
Give a whistle
And this'll help things turn out for the best.
And...
Always look on the bright side of life.
Always look on the light side of life.
If life seems jolly rotten,
There's something you've forgotten,
And that's to laugh and smile and dance and sing.
When you're feeling in the dumps,
Don't be silly chumps.
Just purse your lips and whistle.
That's the thing.
And...
Always look on the bright side of life.
Always look on the right side of life,
For life is quite absurd
And death's the final word.
You must always face the curtain with a bow.
Forget about your sin.
Give the audience a grin.
Enjoy it. It's your last chance, anyhow.
So,...
Always look on the bright side of death,
Just before you draw your terminal breath.
Life's a piece of shit,
When you look at it.
Life's a laugh and death's a joke it's true.
You'll see it's all a show.
Keep 'em laughing as you go.
Just remember that the last laugh is on you.
And...
Always look on the bright side of life.
Always look on the right side of life.
Always look on the bright side of life!
Always look on the bright side of life!
2007/04/05
JUST POETRY
i carry your heart with me(i carry it in
my heart)i am never without it(anywhere
i go you go,my dear; and whatever is done
by only me is your doing,my darling)
i fear
no fate(for you are my fate,my sweet)i want
no world(for beautiful you are my world,my true)
and it's you are whatever a moon has always meant
and whatever a sun will always sing is you
here is the deepest secret nobody knows
(here is the root of the root and the bud of the bud
and the sky of the sky of a tree called life;which grows
higher than the soul can hope or mind can hide)
and this is the wonder that's keeping the stars apart
i carry your heart(i carry it in my heart)
E. E. Cummings
A Dream Within A Dream
Take this kiss upon the brow!
And, in parting from you now,
Thus much let me avow—
You are not wrong, who dêem
That my days have been a dream;
Yet if hope has flown away
In a night, or in a day,
In a vision, or in none,
Is it therefore the less gone?
All that we see or seem
Is but a dream within a dream.
I stand amid the roar
Of a surf-tormented shore,
And I hold within my hand
Grains of the golden sand—
How few! yet how they creep
Through my fingers to the deep,
While I weep--while I weep!
O God! can I not grasp
Them with a tighter clasp?
O God! can I not save
One from the pitiless wave?
Is all that we see or seemBut a dream within a dream?
Edgar Allan Poe
LE MONDE DIPLOMATIQUE
2007/04/04
A MADEIRA É O JARDIM
Dessa última reunião do Governo Regional, deu conta o Jornal Oficial da Região (espécie de Diário da República) que publicou as 15 deliberações então tomadas. De lá para cá já foram publicados 7 suplementos a esse número do Jornal Oficial da Região, dando conta de novas deliberações, todas imputadas à reunião de 16 de Fevereiro.
Ficará para a história como a mais longa e densa reunião do Governo Regional da Madeira, neste momento a essa reunião são atribuídas 161 deliberações, mas o número promete aumentar. Confrontado com a situação, o Presidente do Governo Regional afirmou que a acta da reunião de 16 de Fevereiro continua aberta para acolher todas as decisões necessárias. Assim, mesmo sem peias, Alberto João Jardim anuncia que está a contornar a lei que o impede de tomar algumas decisões além das tipificadas na lei como gestão corrente.
O facto de não poder promover inaugurações de tudo e mais alguma coisa, nem que seja um chafariz com uma torneira como há dias fez numa freguesia rural, foi ultrapassado por ele, colocando os autarcas a promover as inaugurações e aparecendo como “convidado” a quem é dada a palavra.
Espantoso é que a Presidência da República, numa situação em que a lei é claramente desobedecida, opte pelo silêncio. Na Madeira a barreira da autocracia continua a aumentar, tornando todos os comportamentos naturais.
LISBOA
Esta névoa sobre a cidade, o rio,
as gaivotas doutros dias, barcos, gente
apressada ou com o tempo todo para perder,
esta névoa onde começa a luz de Lisboa,
rosa e limão sobre o Tejo, esta luz de água,
nada mais quero de degrau em degrau.
Eugénio de Andrade
2007/04/03
O texto foi escrito em 1914 e foi editado nove anos mais tarde, um ano após a morte do seu autor, Franz Kafka.
A história é sobre um homem, Josef K, ele próprio um burocrata cinzento, moldado pelo meio profundamente administrativo do seu mundo. Não desperta simpatia nenhuma no leitor. É agreste com os seus subalternos a quem não admite desvios ou opiniões à aplicação das suas ordens. É um executivo cioso do seu estatuto, que utiliza até para destratar os oficiais de justiça.
Porém, na encarnação do burocrata, o torturador ultrapassa K. no zelo. Espanca por que é a sua missão e não a questiona. Kafka nunca revela qual a acusação que recai sobre K.. Ao longo de todo o romance, apenas lhe pode ser imputado o crime de desobediência que resulta da contradição ultrajante que sente entre o seu estatuto e os procedimentos processuais no desenrolar do processo. É o Homem sem culpa formada que é julgado, é a culpa do Homem que é aferida.
Nunca ninguém é inocente, nunca ninguém está inocente. Mesmo sem delito, prova ou culpa formada. A sentença seria sempre justa contra qualquer um.
No dia em que cumpria o seu 30º aniversário, um homem é preso. Arrasta-se um ano no purgatório de um processo judiciário que se revela um hino à burocracia. Um dia antes de completar 31 anos é executado. Culpado de ser Homem!
"Estou aqui, mais do isso não sei."
ABRIL ESPERANÇAS MIL
2007/04/02
FOI APRECIADA NA AR PETIÇÃO QUE VISA A SALVAGUARDA DOS ESPAÇOS DE MEMÓRIA DA RESISTÊNCIA
BOA VIAGEM
Eles não querem imigrantes ilegais, que vivem do rendimento mínimo, são violentos, não trabalham e pertencem a umas mafias criminosas. Enganaram-se certamente no destinatário do amável desejo de "boa viagem". Vamos dar-lhes uma oportunidade de se corrigirem."