pintura de Zilda Zanella
Nem os amanheceres de luz turva e baralhos,
Nem a amêndoa de Deus escondida entre livros,
Nem a dúvida, serpente cartesiana sem tréguas,
Nem o colmilho frenético do lobo, irmão lobo!,
Nem o sorriso enfático do símio, avô símio!,
Nem as clareiras abertas pela morte em meus bosques,
Nem as pedras bem vivas de antigas catedrais,
Nada abateu meu rumo com igual brisa. Nada
verteu em meu sangue fervente tanta púrpura. Nada
libertou de limites minha matéria finita,
tornou em fibra de antena minha crédula indolência,
me cercou de temores da imprevista entorse
do azar destrutivo, das complexas máquinas.
Nada me convenceu eu ser substância perdurável,
Clamor de rio que corre para lá da morte.
Nada me deu esta fórmula de amar sem outro anseio
Senão amar.
Somente os filhos.
Miguel Otero Silva, Venezuela, 1908-1986
Nem a amêndoa de Deus escondida entre livros,
Nem a dúvida, serpente cartesiana sem tréguas,
Nem o colmilho frenético do lobo, irmão lobo!,
Nem o sorriso enfático do símio, avô símio!,
Nem as clareiras abertas pela morte em meus bosques,
Nem as pedras bem vivas de antigas catedrais,
Nada abateu meu rumo com igual brisa. Nada
verteu em meu sangue fervente tanta púrpura. Nada
libertou de limites minha matéria finita,
tornou em fibra de antena minha crédula indolência,
me cercou de temores da imprevista entorse
do azar destrutivo, das complexas máquinas.
Nada me convenceu eu ser substância perdurável,
Clamor de rio que corre para lá da morte.
Nada me deu esta fórmula de amar sem outro anseio
Senão amar.
Somente os filhos.
Miguel Otero Silva, Venezuela, 1908-1986
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