2007/04/03



Kafkiano é um adjectivo que entrou no uso corrente da língua moderna. De toda a obra de Kafka, da qual destaco “O Castelo” e “A Metamorfose”, é a “ O Processo” que devemos a popularização do conceito. Mesmo os que são menos familiarizados com a sua obra ou a desconhecem por completo, utilizam o termo para caracterizar o absurdo, o burocrático, a irracionalidade e o pesadelo em sentido figurado.

O texto foi escrito em 1914 e foi editado nove anos mais tarde, um ano após a morte do seu autor, Franz Kafka.

A história é sobre um homem, Josef K, ele próprio um burocrata cinzento, moldado pelo meio profundamente administrativo do seu mundo. Não desperta simpatia nenhuma no leitor. É agreste com os seus subalternos a quem não admite desvios ou opiniões à aplicação das suas ordens. É um executivo cioso do seu estatuto, que utiliza até para destratar os oficiais de justiça.


Porém, na encarnação do burocrata, o torturador ultrapassa K. no zelo. Espanca por que é a sua missão e não a questiona. Kafka nunca revela qual a acusação que recai sobre K.. Ao longo de todo o romance, apenas lhe pode ser imputado o crime de desobediência que resulta da contradição ultrajante que sente entre o seu estatuto e os procedimentos processuais no desenrolar do processo. É o Homem sem culpa formada que é julgado, é a culpa do Homem que é aferida.

Nunca ninguém é inocente, nunca ninguém está inocente. Mesmo sem delito, prova ou culpa formada. A sentença seria sempre justa contra qualquer um.

No dia em que cumpria o seu 30º aniversário, um homem é preso. Arrasta-se um ano no purgatório de um processo judiciário que se revela um hino à burocracia. Um dia antes de completar 31 anos é executado. Culpado de ser Homem!


"Estou aqui, mais do isso não sei."

1 comentário:

Anónimo disse...

Parabéns pelo seu blog...adorei este post... e o mais curioso é que reli "O Processo" a poucos dias...
Abraços