2007/07/14

O CAMINHO PARA WIGAN PIER




Algumas leituras são um murro no estômago. Esta obra de George Orwel, envergonha mesmo aqueles que se esforçam por ter uma compreensão do mundo assente na justiça e na fraternidade. Editado quando o autor se encontrava em Espanha a combater ao lado das forças republicanas democráticas na Guerra Civil, este retrato da sociedade industrial britânica da década de 30 do século XX, dos seus operários, impressiona pela crueldade das suas descrições e pelas sensações que desperta em quem o lê. Quase se sente o odor nauseabundo dos bairros operários, quase que sentimos a fome e o desespero daqueles trabalhadores, quase se somos levados a limpar na nossa testa a amalgama de suor e fuligem que se acumula no rosto dos mineiros, quase sentimos a dor nas coxas após a leitura.
Mas apesar de tudo isto, é-nos sempre lembrado, que mesmo que estas sensações possam existir, mesmo para o autor, elas são uma breve descida ao quotidiano dos outros e nunca um estado permanente ou uma experiência duradoura.
O discurso de Orwel é violento para com os que em nome dos trabalhadores elaboram teorias e empreendem práticas políticas, mas que no fundo ignoram quase sempre a dura realidade daqueles que defendem. Em frases curtas, sem pretensões literárias, o autor narra, abusando dos adjectivos, dos superlativos, mas deixa-nos a ideia, que mesmo assim o texto peca por defeito face à realidade.
Refere a dado momento, que mesmo ele, que desceu ao fundo da mina, rastejou até à frente de corte, viu como trabalhavam os mineiros, passados meses, quando se aquecia na sua lareira a carvão, toda a experiência se tinha amenizado. Mas os mineiros continuaram lá todo esse tempo. Como resumo, o livro oferece-nos uma experiência e ensina-nos a humildade.

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