2007/08/13

AS PALAVRAS SÃO COMO AS CEREJAS


Começou por ser um breve comentário ao texto de Tavares Moreira no 4R-Quarta República, mas foi crecendo, pelo que o coloco também aqui.
Antes do país ter sido arruinado por mais de 20 anos de guerra e seca as principais produções eram Lápis-lazúli, esmeraldas, fio cirúrgico, gás natural, algodão, seda e tapetes. Infelizmente o Afeganistão viu-se envolvido no braço de ferro, durante a guerra-fria, entre as duas potências. Aliás, diga-se em abono da verdade, que os diabolizados taliban ganharam muito em treino, técnicas e meios com os estados unidos quando foram úteis na oposição ao exército soviético a partir de 1979.
A produção agrícola quase desapareceu. A vinha, a batata, a cana-de-açúcar, milho arroz, algodão e frutas, que desempenhavam um papel importante na economia local passaram a ser importados, desequilibrando ainda mais a balança comercial e agravando a dívida externa. Com o fim destas actividades, desapareceu a pouca indústria transformadora que elas tinham propiciado.
A exploração mineira não existe num país rico em jazidas de ferro, carvão e cobre, chumbo, zinco, estanho, tungsténio. Outras das riquezas conhecidas é o gás natural, cuja reserva existente foi avaliada pelo banco mundial em 1998, em 120 biliões de m3.


O narcotráfico e a produção de opiáceas tornaram-se a grande fonte de rendimento dos grupos que disputam o território afegão. A Aliança do Norte, que governa com o apoio militar e politico dos EUA, é responsável pelo controlo de 20% da produção de ópio, apesar de controlar apenas 10% do território nacional. O Afeganistão é responsável por mais de 75% da produção mundial. Estes dados são do Observatório Geopolítico das Drogas (OGD). O preço do quilo do ópio disparou depois dos atentados de 11 de Setembro, era de 44 USD em 2000, sendo hoje cerca de 746 USD.
A intervenção militar internacional só veio agudizar a situação existente num país, em estado permanente de guerra, sem governo, o que existe só o é formalmente, porque não dispõe de uma estrutura que gira efectivamente. O território está balcanizado entre vários grupos e milícias que se financiam através do comércio do ópio e que disputam entre si o alargamento das áreas de influência. O clima generalizado, levou ainda, a uma espécie de economia de guerra que tornou lícita a exploração do narcotráfico pelas facções que culturalmente o reprimiam, como os taliban.



Desta situação é directamente responsável a intervenção internacional, impulsionada pelos EUA no seu combate ao terrorismo. Ela mais não fez do que desagregar por completo económica, social e organizativamente o estado afegão, criando as condições propícias à tomada do país pelas redes organizadas de narcotráfico internacional. Não se perspectiva para breve uma solução para este conflito. Militarmente está perdido, sendo que a saída passaria por um forte investimento na edificação de uma nova economia assente nas potencialidades locais, para tal é fundamental a paz. E essa está cada vez mais distante e é cada vez menos desejada por quem lucra com o actual estado da arte.

Sem comentários: