2007/09/13

TIBETE, O PARAÍSO PERDIDO DOS DALAI LAMA


Imagem retirada daqui, 13º Dalai Lama.
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Perante o muito que se tem dito sobre a visita do 14º Dalai Lama, decidi publicar algumas notas soltas sobre o Tibete ao tempo dos Dalai Lama.


"Por altura da revolução, a população do Tibete vivia extremamente dispersa. Cerca de dois ou três milhões de tibetanos viviam numa área quase igual a metade dos Estados Unidos – 3,9 milhões de quilómetros quadrados [cerca de 40 vezes Portugal ou metade do Brasil – NT]. As aldeias, mosteiros e acampamentos nómadas estavam frequentemente separados por muitos dias de viagem árdua.
Os revolucionários maoistas viram que havia “Três Grandes Carências” no velho Tibete: carência de combustível, carência de comunicações e carência de pessoas. Os revolucionários concluíram que essas “Três Grandes Carências” não eram causadas pelas condições físicas, mas sobretudo pelo sistema social. Os maoistas disseram que as “Três Grandes Carências” eram causadas pelas “Três Abundâncias” da sociedade tibetana: “Abundância de pobreza, abundância de opressão e abundância de temor ao sobrenatural”.

"Os servos tibetanos raspavam as colheitas de cevada da terra dura com arados e foices de madeira. Criavam cabras, ovelhas e iaques para obterem leite, manteiga, queijo e carne. Os aristocratas e os lamas dos mosteiros eram proprietários das pessoas, da terra e da maioria dos animais. Forçavam os servos a entregar a maioria dos cereais e exigiam todo o tipo de trabalhos forçados (chamados ulag). Entre os servos, tanto os homens como as mulheres participavam no trabalho duro, incluindo o ulag. Os povos nómadas dispersos pelas áridas terras altas do Tibete ocidental também eram propriedade dos senhores feudais e dos lamas."

"Os servos eram tratados como seres “inferiores” menosprezados – tal como eram tratados os negros no sistema Jim Crow do Sul dos EUA. Os servos não podiam sentar-se nos mesmos sítios, usar o mesmo vocabulário ou comer com os mesmos talheres que os seus donos. Tocar num dos pertences dos amos poderia mesmo ser punido com chicotadas."

"Há relatos de mulheres queimadas por darem à luz gémeos ou por praticarem a religião tradicional pré-budista (conhecida como Bon). Os gémeos eram considerados prova de que a mulher tinha acasalado com um mau espírito. Os rituais e a medicina popular da Bon eram considerados “bruxaria”. Como noutras sociedades feudais, as mulheres da classe alta eram vendidas em casamentos arranjados. A tradição permitia que um marido cortasse a ponta do nariz da mulher caso descobrisse que ela tinha dormido com outra pessoa. As práticas patriarcais incluíam a poliginia (em que um homem rico podia ter muitas mulheres) e, nas famílias nobres das terras mais pobres, a poliandria (em que uma mulher era forçada a ser esposa de vários irmãos). "

"Cerca de 2% da população do Tibete pertencia a essa classe alta e mais 3% eram seus funcionários, encarregados, mordomos, gerentes das propriedades e oficiais dos exércitos privados. A ger-ba, uma minúscula elite de cerca de 200 famílias, governava no topo do sistema. Han Suyin escreveu: “Apenas 626 pessoas possuíam 93% de toda a terra e riqueza e 70% de todos os iaques do Tibete. Entre essas 626 pessoas estavam 333 dirigentes de mosteiros e responsáveis religiosos e 287 autoridades laicas (incluindo nobres do exército tibetano) e seis ministros do governo”.

"Os maiores mosteiros alojavam milhares de monges. Cada mosteiro “pai” criava dezenas (ou mesmo centenas) de pequenas praças-fortes dispersas pelos vales das montanhas. Por exemplo, o enorme mosteiro de Drepung alojava 7000 monges e era proprietário de 40 000 pessoas em 185 diferentes propriedades com 300 pastos."

"Os servos ficavam frequentemente doentes de desnutrição. A comida tradicional das massas é uma polpa feita de chá, manteiga de iaque e uma farinha de cevada chamada tsampa. Os servos raramente comiam carne. Um estudo feito em 1940 no Tibete oriental dizia que 38% das casas nunca tinham qualquer chá – e apenas bebiam ervas selvagens ou “chá branco” (água fervida). Setenta e cinco por cento das casas eram por vezes forçadas a comer relva. Metade das pessoas não tinha possibilidade de obter manteiga – a principal fonte de proteínas disponível.
Entretanto, um importante santuário, o Jokka Kang, queimava diariamente quatro toneladas de ofertas de manteiga de iaque. Calcula-se que um terço de toda a manteiga produzida no Tibete se transformava em fumo em quase 3000 templos, sem contar com os pequenos altares em cada casa."

Os parágrafos citados podem ser lidos no seu contexto original aqui.

1 comentário:

Anónimo disse...

Muito obrigada. Poupaste-me o trabalho da pesquisa. Confesso que alimentei essa esperança durante todoo dia: "O Marquês h´-de falar sobre o caso".
A propósito que tal irmos à conferência no domingo? Quem sabe se distribuiem manteiga de, de quê??
Um abraço
Maria CC