Na cidade de Sacavém está quase concluído um novo Centro de Saúde. Este equipamento não fica no centro(!) da cidade, estando a ser construído numa das novas zonas de expansão, onde existia terreno adequado à sua instalação. Quase todos os habitantes da cidade sabem onde se localiza e como lá chegar, mas os que não souberem espero que tenham a sorte de não perguntar pela sua localização ao Presidente da Junta de Freguesia. Caso o façam, poder-se-ão ver participantes no seguinte diálogo:
Incauto Freguês - Desculpe. Sabe dizer-me onde fica o Centro de Saúde?
Presidente – Bem, não é longe... Já ouviu falar na Quinta do Mocho? Pois não é lá, porque a Quinta do Mocho não existe. Aquilo chama-se Terraços da Ponte.
Incauto Freguês – Então, diz o senhor que fica nos Terraços da Ponte?
Presidente – Não foi isso que eu disse. Fica em Sacavém.
Incauto Freguês – Mas como chego lá?
Presidente – É fácil. Vai como quem fosse para a Quinta do Mocho, que não existe, porque aquilo chama-se Terraços da Ponte. Quando chegar à rotunda, sai à direita e não vai ver nem a Quinta do Mocho, que não existe, porque aquilo chama-se Terraços da Ponte, mas também não verá os Terraços da Ponte, porque aquilo é Sacavém. Percebeu?
Já vem de longe a embirração presidencial com a toponímia da zona. Nessa zona de Sacavém foi construído um bairro de habitação social para realojar os habitantes de um bairro degradado conhecido urbi et orbi como Quinta do Mocho. Os habitantes foram e levaram o nome do seu anterior bairro, os vizinhos em Sacavém continuaram a identificar o bairro com os seus habitantes, continuando a referir-se ao novo bairro como Quinta do Mocho. Ao lado deste bairro de realojamento está a ser construída uma urbanização que dá pelo belo nome de Terraços da Ponte. Um daqueles nomes feitos para vender o produto. Já teve na moda as Quintas, os Parques, os Jardins, mas neste caso o promotor escolheu este nome pomposo, Terraços da Ponte (não sei se será a ponte sobre o Trancão, a Vasco da Gama ou o viaduto/ponte da A1). Em bom rigor aquilo seria “Terraços das Pontes”.
Há muito que o Presidente da Junta se descabela sempre que alguém se refere à zona, em especial ao bairro de realojamento, como Quinta do Mocho. Aliás, versando sobre este tema, chegou mesmo a protagonizar um momento bem ridículo numa reunião da Assembleia Municipal.
Recentemente, visitou as obras do novo Centro de Saúde que está a ser construído na orla do bairro a que o povo chama de Quinta do Mocho, integrado numa comitiva de autarcas, técnicos municipais e utentes dos serviços de saúde. Na obra quase concluída, deparou-se com uma placa de identificação no edifício, que o designa como Extensão dos Terraços da Ponte. Teve uma apoplexia! Barafustou contra a placa. Disse alto e bom som que não a queria lá, ameaçando retirá-la com os meios da Junta a que preside.
Afinal qual é o problema do nome das coisas por aqueles lados? O problema é simples e reside na cor dos habitantes da Quinta do Mocho, que fez o Presidente renegar a designação Quinta do Mocho e o leva neste momento a já não querer sequer ouvir falar em Terraços da Ponte, porque estes se tornaram sinónimos de uma mesma realidade. Mudando o nome, não se muda a coisa. A cosmética tem os seus limites. Ao tomar uma atitude destas o Presidente da Junta revela uma clara cedência aos estigmas que deveria combater. Receia perder votos se a extensão de saúde for “Terraços da Ponte”? Se o nome for diferente, ela deixará de se localizar onde está?Claro que não. Este é um miserável exemplo de tacanhez de espírito, infelizmente ainda muito presente no nosso poder local. Se a realidade social no bairro da Quinta do Mocho causa desconforto e incómodo na cidade de Sacavém, a preocupação dos seus autarcas seria intervir no sentido de lhe alterarem, na medida do possível, as causas, em vez de se perderem em exegeses toponímicas.
4 comentários:
Afinal quando é que a Afilhada do Marquês dá um ar da sua graça?
E o Palácio do Marquês que esteve quase a ser um museu de cera dedicado ao 25 de Abril?
Afilhadas donzelas num museu de Revolução? pois não liga.
Mas acabou por não ser um Museu dedicado ao 25 de Abril, tornou-se antes uma das casa da democracia, sede da Assembleia Municipal de Loures, talvez até uma forma melhor de homenagear a revolução. Quando às donzelas, desculpe discordar, mas fazem muito sentido. Se o palácio fosso o referido museu, não faltariam por lá figuras seráficas de virgens arrependidas. Seja como for este não é o Palácio do Marquês de sade!
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