2007/09/20

O CAÇADOR SIMÃO




Tudo o que se foi escrevendo sobre Aquilino Ribeiro, a sua escrita, mas sobretudo a sua acção política, nomeadamente a sua alegada ligação à Carbonária, trouxe-me à memória um poema, escrito no início de 1890, de Guerra Junqueiro. Depois do recente Ultimato Inglês ter desviado Guerra Junqueiro para as barricadas republicanas, escreveu sobre o jovem D. Carlos "O Caçador Simão" onde parodiava de forma violenta o afastamento do Rei em relação às grandes questões do reino e da governação, referindo a sua absorvente actividade de caçador. Simão era um dos apelidos de D. Carlos. Escrito 18 anos antes do regicídio do Terreiro do Paço, o poema condensa de modo violento e incrivelmente premonitório o reinado de D. Carlos e o seu trágico desfecho.
Até ao 1 de Fevereiro de 1908 a Monarquia Portuguesa deu corpo ao poema de Guerra Junqeiro, altura em que Alfredo Costa e Buiça decidiram escrever a última estrofe.

Jaz el-rei entrevado e moribundo
Na fortaleza lôbrega e silente
Corta a mudez sinistra o mar profundo …
Chora a rainha desgrenhadamente
.
Papagaio real, diz-me quem passa?
É o príncipe Simão que vai à caça.
.
Os sinos dobram pelo rei finado …
Morte tremenda, pavoroso horror!...
Sai das almas atónitas um brado,
Um brado imenso d’amargura e dor …
.
Papagaio real, diz-me, quem passa?
É el-rei D. Simão que vai à caça.
.
Cospe o estrangeiro afrontas assassinas
Sobre o rosto da pátria a agonizar …
Rugem nos corações fúrias leoninas,
Erguem-se as mãos crispadas para o ar!...
.
Papagaio real, diz-me quem passa?
É el-rei D. Simão que vai à caça.
.
A Pátria é morta! A Liberdade é morta!
Noite negra sem astros, sem faróis!
Ri o estrangeiro odioso à nossa porta,
Guarda a Infâmia os sepulcros dos Heróis!
.
Papagaio real, diz-me, quem passa?
É el-rei D. Simão que vai à caça.
.
Tiros ao longe numa luta acesa!
Rola indomitamente a multidão …
Tocam clarins de guerra a Marselheza
Desaba um trono em súbita explosão!...
.
Papagaio real, diz-me, quem passa?
É alguém, é alguém que foi à caça
Do caçador Simão!...


Guerra Junqueiro

7 comentários:

Anónimo disse...

Isto vai bem! Um Marquês republicano e com simpatias pelos regicidas. Além disso ainda pró-comunista.

Anónimo disse...

Será que em Loures é tudo ao contrário? Talvez isso justifique que por cá os socialistas não sejam de esquerda!

Anónimo disse...

Mas ainda existem socilaistas de esquerda em Portugal? felizmente não conheci o fascismo, mas com o caminho que a sociedade está a ter, não devia ser muito diferente deste pseudo socilismo.

Anónimo disse...

ai até tremo e me engano a escrever a palavra SOCIALISMO, agora escrevi bem.

Anónimo disse...

Ou os ex.fascistas integraram o PS?
lá jeitinho não lhes falta.

Carlos Veiga disse...

Desculpa mas não concordo com a perspectiva de que o panteão receba um terrorista, por mais mérito que tivesse enquanto escritor! Já agora dou uma sugestão: o novo livro sobre o regicidio que sairá brevemente de. M. C. Henriques! Saudações!!!

Carlos Veiga disse...

A implantação da República em Portugal, em 5 de Outubro de 1910 (completam-se agora 95 anos), não foi resultado exclusivo da revolta militar personificada na Rotunda pelo comandante Machado Santos e apoiada nas ruas pelas células carbonárias de Lisboa. Uma conspiração internacional, envolvendo a Maçonaria inglesa e a Família Real britânica, deu aos revoltosos portugueses a garantia prévia.
Seria, talvez ...interessante a leitura deste livro:
"com permisão de sua magestade"- Familia real inglesa e Maçonaria na instauração da republica em Portugal.

Autor: Jorge Morais
16,90