2007/09/10

AGORA QUE O BURRO SE TINHA HABITUADO A NÃO COMER, MORREU!


Imagem retirada daqui.

“O primeiro-ministro, José Sócrates, considera que o sistema de ensino do país está a “ganhar eficiência” e que, actualmente, “há menos professores e mais alunos, assim como menos desperdício de dinheiro”. Uma das provas do resultado da política educativa do Governo é a subida em dez por cento da taxa de sucesso escolar no ensino secundário. “

Vária peças do anedotário popular poderiam ser utilizadas num primeiro comentário a estas declarações do Primeiro-ministro, mas a que primeiro me ocorreu foi a do camponês que, perante a elevada despesa que lhe dava o alimento do seu burro, decidira ir-lhe reduzindo a ração, ficando frustrado quando no momento em que o animal havia deixado de dar despesa, morrera!
Lendo a peça publicada na página do Público, pode-se resumir em dois traços a tese de Sócrates. Gastamos menos e estamos a fazer melhor. Mas estarão mesmo?

MAIS ALUNOS, MENOS PROFESSORES E MENOS GASTOS!

Parece o milagre da multiplicação dos pães, mas não se percebe se por esta evolução de rácios se se tem alterado o problema das turmas numerosas, que é um real entrave a qualidade das aulas, sobretudo nas escolas mais problemáticas. Tanto quanto sei, não. Por outro lado, o modo como o Governo tem implementado as suas medidas no sector, criou uma das maiores instabilidades de sempre no corpo docente. Duvido que desta situação saia melhorada a qualidade do ensino.
As escolas continuam a ter uma enorme escassez de meios, algo que se faz sentir com maior acuidade naquelas que se inserem em meios economica e socialmente mais desfavorecidos.

QUALIDADE E RESULTADOS!

Em contrapartida Sócrates afiança que os resultados escolares melhoraram, dando como exemplo o facto (ainda não conhecido) de que terão aumentado as transições com aproveitamento entre o 10º e o 11º anos, assim como terá aumentado a percentagem de conclusão do secundário. Neste aspecto, o que Sócrates não diz é que esse aumento se ficará, muito provavelmente, a dever ao aumento da cobertura dos cursos profissionais, que oferecem, na sua generalidade, vias verdes para a conclusão do secundário, com exigência reduzida e saldo final de formação nulo. A via profissionalizante, cuja importância justificaria uma abordagem diametralmente oposta àquela que está a ser seguida, serve sobretudo para este efeito. A propaganda.
Sócrates, em vez do malabarismo dos números, deveria ter condições para dizer ao país, não que se gasta menos na educação e que se arranjam expedientes para garantir taxas de sucesso, mas que o governo estava claramente apostado em formar as novas gerações, em dar-lhes instrumentos fundamentais para o seu desenvolvimento pessoal e colectivo, que isso estava a ser feito, discriminando positivamente os meios mais desfavorecidos, pelo que essas escolas tinham garantido o reforço de meios humanos e materiais para a prossecução da sua missão. Em vez disto, o Primeiro-ministro garante apenas que os alunos transitam e concluem, mas não nos pode dizer se aprendem.

1 comentário:

Anónimo disse...

Hoje, como começou oficialmente o ano lectivo, também fui visitar uma escola. Do nosso concelho. Não levei computadores, porque não estou em campanha e a tal escola até nem precisa.
Mas fiquei preocupada. Com a provável falta de auxiliares, com a redução dos apoios para as crianças com necessidades educativas especiais, com algum desnorte na construção dos documentos orientadores do trabalho. Com a falta de sentido de grupo a nível do Agrupamento, com a ausência de ligação entre níveis e ciclos do ensino.
Com as verbas reduzidíssimas que são dadas às escolas que põem em risco até a sua funcionalidade prática (produtos de higiene, telefones, tineiros para os computadores)... Fiquei preocupada com a divisão entre os professores (titulares e os outros) que o governo inventou, impedindo bons professores de desempenharem determinadas tarefas, impondo as mesmas aos poucos professores titulares que, para além delas terão de dar as suas aulas.
No que se refere à tal escola, sei que encontrarão soluções e tentarão partilhar os conhecimentos que têm.
Mas não seria esta uma boa altura para se enfrentarem os problemas reais e envolverem todos na procura de soluções??

Um abraço
Maria CC