A (des) propósito do caso da Quinta da Fonte, o blogue
Tomar Partido reproduziu um comentário bolçado por um tal Barão das Neves, pelos vistos amigo do autor do referido blogue, que, devido ao seu cariz difamatório, me merece o mais vivo repúdio.
O citado indivíduo, num estilo que tem sido habitual em determinados meios, veio invocar factos não verídicos pretendendo atingir-me, como se eu tivesse sido alguma vez acusado ou condenado judicialmente por esses factos.
De facto, apenas fui acusado por gente anónima que, cobardemente, pôs a circular algumas atoardas, pretendendo prejudicar-me em tempos eleitorais, o que não conseguiram. Já depois de ter saído de funções, em 1999, por minha exclusiva vontade, e em protesto pela forma como foi criado o concelho de Odivelas, puseram a circular que eu teria ido para Moçambique onde supostamente teria acumulado uma grande fortuna.
Não emigrei nem desapareci, como diz o Barão. Estou e sempre estive em Portugal, trabalhando e estudando, porque não vivo de rendimentos ou de negócios.
É por estas e por outras que sou obrigado a ponderar a hipótese de, aceitando convites que me têm vindo a ser insistentemente dirigidos, candidatar-me para voltar ao activo político, de forma a poder ter a hipótese de clarificar, por uma vez, as várias insinuações caluniosas.
Tudo tem limites, tanto as atoardas, como o silêncio inesperado.
Quero, aliás, deixar bem claro que, caso este blogue, ou outro qualquer pasquim, insista em dar voz a caluniadores que me agridam, participarei judicialmente nos sítios adequados.
Quanto à questão relacionada com a Quinta da Fonte, tendo em conta que o presidente da câmara tentou responsabilizar a gestão realizada há doze anos, quando eu estava em funções, dizer:
a) É frequente ver e ouvir alguns "iluminados", como sejam os políticos que "nunca erram" ou os académicos "sobredotados", virem dizer, em situações semelhantes, que tudo foi mal feito, e que eram previsíveis os maus resultados. Gostava de saber, o que, de facto, fizeram uns, e o que fariam os teóricos se, por acaso, algum dia tivessem que responsabilidades executivas fora do mundo da universidade. Bem pregam estes Frei Tomás!
b) Sabia-se, há já mais de vinte anos, que as operações de realojamento das famílias moradoras em barracas e situações similares são muito complexas, assim como eram discutíveis as possibilidades alternativas de realização prática. Em geral os municípios não ambicionaram a tarefa, e eu próprio só por obrigação irrecusável a aceitei, que agora não posso explicar. Nunca tive a ilusão de que fosse obra que motivasse grandes agradecimentos, e, muito menos, votos. Aliás, é conhecida a referência feita há mais de 150 anos por Engels numa das suas primeiras obras "os problemas sociais não se ultrapassam através da resolução dos problemas habitacionais, mas é exactamente pela via inversa que se terá que actuar".
c) Também não é de estranhar que gente do género daquela que actualmente é poder em Loures, e que, aliás, também é useiro na alimentação de boatos difamatórios, viesse, no meio de um manifesto desnorte, desculpar-se com a gestão de há doze anos atrás! Afinal é perfeitamente visível que alguma coisa está a falhar naquela gestão municipal: Como se pode entender que o presidente da câmara venha dizer que foi "surpreendido" por um problema, que ele próprio afirmou, pouco depois, existir há mais de dez anos? Por outro lado, vir dizer que aquele realojamento está "relacionado com a Expo 98" e que foi feito "à pressa", revela, além de mau carácter, uma profundíssima ignorância.
d) Será que é para não "cometer erros" a câmara de Loures não fez mais realojamentos dignos desse nome nos últimos anos? Então e as "nódoas" urbanísticas e sociais que subsistem por exemplo no Prior Velho e na Portela? Vão manter-se mais quantas décadas há espera de que última teoria sociológica e urbanística?
e) Se a câmara de Loures acha errado o modelo utilizado, "à pressa", na Quinta da Fonte, porque razão a Quinta da Mós, realizada com "muito tempo de reflexão", se desenvolve segundo um padrão equivalente ao da Quinta da Fonte?
f) Foi lamentável o triste espectáculo dado por um poder municipal que se movimentou aos tropeções, claramente ultrapassado pelos acontecimentos, que, segundo dizem responsáveis da administração central, são, no fundamental, casos de polícia. Um poder que deu, num determinado momento, sinais de querer por em prática a segregação habitacional de grupos étnicos diferentes, só para não ter problemas de imagem! Valeu-lhe o apoio "amigo" das entidades da administração central, designadamente o Governo Civil.
g) Infelizmente, o problema não é somente um caso de polícia. Tem-se escondido que estas explosões de violência não podem deixar de estar relacionadas com o apodrecimento da situação social verificado no país.
Não só a carestia de vida e o desemprego, mas, também, o contínuo desinvestimento na justiça e segurança, estão a contribuir para estas situações.
Demétrio Alves