2007/10/22

O MEU AMIGO CARLITOS




Ultimamente tem-me visitado um amigo, rapaz pela minha idade, vizinho no espaço e na condição.
E o seu simples mas acutilante relato de infância, reaviva-me memórias antigas.
Faz-me sorrir com a lembrança dos bifes que só se comiam ao domingo e nunca em muita abundância. Com a certeza de que os dentes do Salazar só podiam ser de ouro, ou não fosse ele o dono de Portugal, podendo por isso mandar fazer muitas notas, as que ele entendesse.
As calças que as mães faziam, para a Casão ou, como a mãe do Carlitos, para a Casa Africana.
Os pais das amigas que estavam em Caxias, o que quer que isso fosse. O regresso do sr. O, num fim de tarde de Outono, com o jantar de família à espera, mas com a alegria contida e festejada no medo.
E ontem lembrou-me o Natal. O Natal sem subsídio, com o Presépio de musgo, com os chocolates que se esperavam no sapatinho, com a esperança que o patrão desse as Broas.
O medo, o medo das paredes com os seus ouvidos.

Muito provavelmente o Carlitos andou comigo no Liceu, participou nas reuniões do MAEESL, foi às RGAs, andou à pancada com os do Padre António Vieira…

E hoje… Será que continua interessado e interveniente?

De que servirão as memórias se com elas não conseguirmos construir outras? Outras com a mesma ternura do relato, com mais bifes e paredes sem ouvidos.

Todos os domingos, depois do jantar, sento-me no sofá e espero pela visita do Carlitos que, tenho a certeza, se cruza comigo muitas vezes, nas festas, nas lutas, nos silêncios e nos gritos.

1 comentário:

Anónimo disse...

O passado já lá vai e já não volta.Agora estamos na Era do Marketing e do branqueamento, o braqueamento dos dentes do Portas; o branquamento de pedofilias; e até do Sr. Pinto da Costa, a casar com a sua esposa original para nos dar uma imagem de homem com moral. Será suficiente para arquivar o Apito Dourado? se não for por essa razão, há-de ser arquivado por uma outra qualquer.