2007/06/29

PS LEVA ASSEMBLEIA DE FREGUESIA DE SACAVÉM A TAIWAN!

Há muito que os diferendos entre dois dos eleitos do PS na Assembleia de Freguesia de Sacavém não auguravam um bom desfecho para aquela contenda. Em causa estão o Presidente da Assembleia, Dr. Augusto Moura Brito (PS) e o porta-voz do Grupo de Eleitos do PS, António Canhão, também assessor na Câmara Municipal de Loures. Ambos figuras proeminentes da estrutura local do Partido Socialista no Concelho de Loures. Os diferendos entre ambos terão porventura fundamentos intelectuais e de divergência política. Por várias vezes a animosidade tem tomado conta dos trabalhos dessa Assembleia de Freguesia em resultado da troca de palavras mais ásperas entre estes dois eleitos do PS. Porém, nenhum dos relatos que me têm chegado, nem mesmo os mais acalorados, faziam prever que esta incompatibilidade cultural degenerasse numa agressão.
Mas assim foi. Ontem, antes do início dos trabalhos da Assembleia de Freguesia, o Dr. Augusto Moura Brito foi agredido pelo seu camarada de partido, António Canhão. Entre a agressão, a chamada da polícia ao local, que entretanto foi “desconvocada”, e o abandono do local pelo agressor, afim de que se iniciassem os trabalhos da Assembleia, decorreu quase uma hora. Os eleitos das restantes forças políticas iam sendo surpreendidos, à medida que chegavam, com os relatos do sucedido.
A comoção tomou conta dos restantes eleitos do PS, que para vergonha sua, viram dois dos seus camaradas envolvidos em insultos e agressões físicas nas instalações da Assembleia de Freguesia.
Foi um espectáculo vil e degradante. Não sendo hábito uma grande elevação da intervenção política do PS na Freguesia de Sacavém, longe estava dos espíritos mais premonitórios um episódio com estes contornos. Não sendo imputável ao PS os actos em si que ontem se verificaram, existe uma responsabilidade política associada.
Um Partido que se transforma numa soma de caciques locais, que perde perspectiva política e ideológica e no qual não existem valores de solidariedade entre os seus membros, torna-se num terreiro de digladiação estéril e até violenta. Mas mais relevante, um Partido assim torna-se incapaz de fazer a defesa dos interesses das populações, porque o esforço e a dedicação dos seus membros se esgota na luta do poder pelo poder. Outro nível de responsabilidade política do PS, nesta situação, decorre das responsabilidades que tem nessa autarquia, onde governa. Caber-lhe-ia o papel mais relevante no que concerne à dignificação da actividade política, mas tem sido incapaz de o desempenhar. Cabe-lhe ainda a responsabilidade de ter sido no seu seio que alguns dos quadros políticos mais desqualificados da política local do Concelho de Loures encontraram promoção.

2007/06/27

LOURES, VAI SER A PÁTRIA DE UMA BEBIDA EXÓTICA

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Todos se lembram, do anúncio do Malibu. Sem stress tudo se resolve. Nas Caraíbas o tempo corre com outro ritmo. Sem pressa. Com calma. Loures deriva para lá. Os credores queixam-se que não recebem a tempo e horas. Aliás, alguns já dão de barato o tempo e as horas em que lhes venham a pagar, desde que lhes paguem. Na Assembleia Municipal, a oposição desespera pela resposta a requerimentos e perguntas. Ontem, pôde-se ouvir um deputado municipal acusar a recepção a um pedido de informação que fizera há um ano e três meses.
Na boa, sem pressa. A miríade de assessores e adjuntos não têm tempo para coligir as informações solicitadas e fornece-las atempadamente aos eleitos da Assembleia Municipal. Não que isto aconteça para dificultar o trabalho de fiscalização da mesma. Longe disso. Tal facto resulta apenas de uma especificidade cultural do local. Na boa, sem pressa.
Perante a repetição destes alongamentos temporais, o Presidente da Assembleia Municipal, trejeita franzindo sempre o sobrolho, não sei se condenando se anuindo a postura da Câmara. Encolhe os ombros. É um fatalismo. Que fazer? Levar na boa, sem pressa.
A conclusão do anúncio é: “Se eles levassem a vida tão a sério como nós, não teriam inventado o Malibu.”
Parece inevitável que Loures venha internacionalmente a ser conhecida por uma bebida exótica, com aroma a banana.

2007/06/23

Publico este texto por entender que o mesmo contém algumas reflexões que devem merecer atenção. O estado actual do desenvolvimento das sociedades capitalistas e as alternativas a construir, derrotados que foram os nodelos ensaiados durante o século XX, são um dos maiores desafios dos sectores progressistas actuais. O texto é da autoria de um amigo que recentemente visitou Cuba. Todos os contributos são válidos. Este é muito válido.



Como construir sociedades humanas mais justas?
A propósito de viagem a Cuba.

Em recente viagem a Cuba pareceu-me, pelo que vi, li e falei com habitantes, que o país resolveu no essencial e a nível considerável bom os problemas de educação e saúde, que são gratuitos para toda a população. Os crimes violentos são raros, havendo razoável segurança nas ruas, mesmo de noite.
A cidade de Habana tem 2,3 milhões de habitantes. O alojamento é encargo pequeno (até 5% do salário mensal) e as necessidades básicas de alimentação são asseguradas por uma quota alimentar (por pessoa) vendida a preço baixo.
Asseguradas as necessidades básicas da população (alojamento, alimentação, saúde e educação sendo estas a nível bom) não restam aos cubanos grandes recursos para outras despesas. São poucos os carros e, dos que há, um bom número tem 20 ou 30 anos. Apesar disso a frota de taxis parece suficiente. Muitas casas aparentam pelo exterior precisar de pintura e de reparação.
A impressão colhida é de sociedade remediada e fraterna com as necessidades básicas resolvidas a nível muito mediano, sem grandes desníveis. É grande o contraste com o que se conhece da generalidade dos países da América Latina, onde muitas crianças vivem ao abandono, há muita criminalidade violenta e a riqueza e a ostentação dos bairros das elites se exibe ao lado da flagrante miséria das favelas, dos morros, dos bairros de lata.


As dificuldades

Apesar dos Estados Unidos da América do Norte boicotarem quanto podem a economia cubana, o país resiste. A preocupação com a justiça social do regime político e a forte base ética assente na vida modesta dos dirigentes legitimam o regime aos olhos da maioria da população. Mesmo em períodos difíceis, como o que se seguiu a 1990 com o colapso dos países socialistas europeus, tendo o produto interno bruto caído então 35%, a unidade à volta dos dirigentes políticos não foi destruída. A direcção política soube dar resposta às graves dificuldades económicas, abrindo ao investimento estrangeiro com empresas em parceria com o Estado Cubano sendo metade do capital de cada parte e admitindo que a população crie pequenas empresas familiares que não contratem outros trabalhadores. A economia cubana retomou com essas medidas o crescimento, procurando a política cubana manter o princípio de não haver cubanos a comprar força de trabalho a outros cubanos. Por essa razão o regime não autoriza que as empresas de cubanos recorram a outro trabalho que não o familiar.

Maior flexibilidade

Esta restrição impede que os cubanos com maior iniciativa e criatividade impulsionem mais o desenvolvimento económico da sociedade. Estima-se que numa sociedade cerca de 10% da população tem boa capacidade de iniciativa, de criatividade e de gestão, enquanto percentagem semelhante, no extremo oposto, não tem capacidade para governar a sua vida e produzir para as suas necessidades precisando de receber apoio da sociedade. Os restantes, cerca de 80%, são normais trabalhadores, muitas vezes excelentes, desde que bem enquadrados em organização produtiva. Dificultar que num país os 10% da sua população com criatividade, capacidade de iniciativa e de gestão desenvolvam as suas capacidades em actividades diversas, nomeadamente económicas, desde que respeitadas regras básicas de justiça e equidade, faz diminuir a eficiência geral da sociedade em todos os campos, em especial no económico. A compra de força de trabalho e a consequente possibilidade de exploração económica, não pode ser erigida em tabu quando se pretende construir uma sociedade mais justa. Por medidas legislativas e outras é possível estabelecer normas e práticas que garantam os direitos dos trabalhadores e a observância da regra básica de justiça: a cada um segundo o seu trabalho, prestando-se o necessário e possível apoio aos que dele necessitam.




A separação, no fim da Segunda Grande Guerra, da Alemanha em dois Estados, um a República Democrática Alemã organizado segundo princípios tidos por socialistas, outro a Alemanha Federal segundo as regras do capitalismo, tornou claro que grande número de trabalhadores da República Democrática Alemã teria ido trabalhar para a Alemanha Federal, onde os salários eram mais elevados, se não tivessem sido estabelecidas barreiras intransponíveis na fronteira entre os dois Estados, incluindo na cidade de Berlim (o chamado muro de Berlim).
Impõe-se concluir que a média dos trabalhadores prefere ganhar mais, mesmo sendo explorada, do que, hipoteticamente não o sendo, ganhar menos.

As sociedades humanas são complexas

Há que reflectir se é possível com eficiência, num Estado, regular centralmente toda a vida social, cultural e económica como se tentou sem êxito na União Soviética e nos países do “socialismo real”.
Uma sociedade humana é demasiado complexa para poder ser entendida por uma parte de si mesma em termos de essa parte ser capaz de dirigir o seu evoluir e funcionamento sem contradições.
Até agora as sociedades humanas evoluíram de forma não dirigida. O seu progresso tem resultado de leis que no último século e neste se têm procurado determinar.
Mas estamos longe de conhecer todos os complexos mecanismos do funcionamento e do evoluir das sociedades humanas e provavelmente nunca se conhecerão completamente, não obstante o contínuo progresso nesse sentido.
É desejável que as sociedades evoluam sem roturas causadoras de grandes prejuízos e sofrimentos.
Não sendo possível determinar completamente o evoluir e o funcionamento das sociedades por desconhecimento da sua complexidade, a sua organização terá fundamentalmente que procurar facilitar os mecanismos de autocorrecção económica e social de maneira que as alterações se tendam a processar de modo gradual e imediato, ou quase imediato, com o mínimo de intervenção da autoridade pública e consequentemente sem roturas.
A autoridade pública terá que intervir fundamentalmente para, pela investigação, aprofundar o conhecimento das leis que regulam o funcionamento e o evoluir das sociedades e, na base desse conhecimento, aperfeiçoar continuamente os mecanismos sociais de autocorrecção. Só nos casos em que os mecanismos de autocorrecção não resolverem disfunções sociais e económicas é que se tornará preciso intervir para procurar resolvê-las e introduzir novos mecanismos de autocorrecção que, no futuro, solucionem o mesmo tipo de contradições.

Uma sociedade humana é assimilável a corpo humano vivo. À inteligência, que é a função superior do corpo, não compete regular cada uma das suas múltiplas e complexas funções, cujas leis a inteligência em grande parte desconhece. A função da inteligência em relação ao corpo é a de procurar resolver os problemas de funcionamento e desenvolvimento que os automatismos biológicos não são capazes de resolver. A inteligência de cada homem não se ocupa do funcionamento dos diferentes orgãos do corpo (coração, aparelho digestivo, pulmões, rins, glândulas, etc.). Se for necessária água no organismo, desencadear-se-á alarme da sede que vai obrigar a inteligência a perceber que tem que lhe ser fornecida água. O coração funciona sem que a inteligência se ocupe dele. Mas se surgem dores provenientes do seu deficiente funcionamento, a inteligência actua de modo a que haja intervenção (remédios, dieta, etc.).

O aceitável e o inaceitável

A compra por um indivíduo da força de trabalho de outro não é necessariamente fonte de injustiça inaceitável, se for regulada por normas e outras formas de controle capazes de assegurar o razoável equilíbrio das prestações mútuas.
O que não é aceitável é o imposto pelas grandes empresas transnacionais sob o comando do governo dos Estados Unidos da América do Norte: O neoliberalismo global está a tornar os países ricos cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres, e, nuns e noutros, os indivíduos ricos cada vez mais ricos enquanto a miséria, o crime, a insegurança e a poluição crescem.
Cuba está a procurar construir uma sociedade alternativa à dominante no mundo de hoje. São de saudar a sua vontade e a sua determinação. O caminho que está a seguir merece reflexão e eventualmente ajustamentos.


texto de João Almeida e Silva

2007/06/22

PAGAR E MORRER, QUANTO MAIS TARDE MELHOR!



Câmara de Loures deve 71 mil euros a empresa de manutenção de espaços verdes

Vereador do Ambiente afirma que já deu ordem de pagamento há 15 dias, mas acusa a firma credora de ter prestado um mau serviço à cidade

A Câmara de Loures está há cinco meses em falta com o pagamento de 71 mil euros a uma empresa de manutenção de espaços verdes. O montante coloca a firma "em situação de falência" e salários de 15 trabalhadores "em risco", assim protestaram ontem cerca de 10 funcionários diante das instalações da autarquia.
Segundo Jorge Soares, director financeiro da empresa, com sede em Castelo Branco e cuja designação não quis divulgar por poder ser "prejudicial" a futuros trabalhos com outras autarquias, a Câmara de Loures deve mais de 71 mil euros à firma referentes à limpeza de mato no concelho. "A câmara insiste em não pagar. Há uma factura de mais de 71 mil euros de Novembro que deveria ter sido paga em Janeiro", explica Jorge Soares, afirmando que a câmara "dá como desculpa" um problema de "processamento da factura na transição de um ano para o outro". Adelino Martins, 47 anos, um dos funcionários em protesto, afirma que não recebe o seu salário há "quatro, cinco meses", mas "compreende que "o patrão não possa pagar se a câmara também não lhe paga". O vereador do ambiente da Câmara de Loures, João Galhardas (PSD), afirma que já deu ordem de pagamento, há cerca de 15 dias, de um montante de cerca de 68 mil euros. Questionado sobre o facto da empresa reclamar 71 mil euros, João Galhardas afirma que a diferença refere-se a juros reclamados pela empresa. O autarca acusa a empresa de Castelo Branco de ter feito uma "mau serviço", que "não foi todo feito" nem concluído no prazo estipulado. Em causa estava a limpeza de 104 hectares, dos quais apenas 68 hectares foram limpos. Por outro lado, afirma, houve um muro que "foi danificado durante os trabalhos" e "só foi reparado há uma semana".Contudo, segundo Jorge Soares, foi feito um "acordo por escrito", em Outubro, com a autarquia em que a diminuição da área a limpar ficou combinada entre as partes devido a uma alteração legislativa. Esta definiu que certas áreas de mato deixaram de ser competência da câmara, mas sim dos proprietários. Por outro lado, acrescenta, a dificuldade dos trabalhos fez prolongar a obra. No entanto, afirma, também este prolongamento ficou definido no acordo realizado em Outubro. "O que ficou acordado foi tudo feito", acrescenta. Quanto ao muro, Jorge Soares afirma que "os danos foram assumidos" pela empresa e "não é nada que implique a câmara, pois o proprietário é um privado", tendo sido reparado, ao contrário do que afirma o vereador, "no mês passado". O director financeiro afirma que estão em risco os salários de 15 dos 25 trabalhadores da empresa. Os protestantes prometem ir diariamente à porta da câmara até que a dívida seja saldada. 104hectares de limpeza de mato era o objecto do contrato entre a CM Loures e a empresa prestadora de serviços, reclamando a autarquia que a limpeza foi realizada apenas em 68 daqueles hectares.
22.06.2007, Alexandra Reis, in Público

GRANDE TERRAMOTO


Todas as catástrofes naturais deixam marcas na memória colectiva e histórica, mas o mais comum é que o difícil processo de digestão colectiva dessa memória traumática resulte numa memória romanceada, cheia de valorizações e não comiserações.
Quando se fala de Terramoto de 1755, dificilmente a ideia que nos domina o pensamento será a da destruição. Lembramo-nos da Baixa Pombalina, das suas rua largas e da sua traça geométrica e regular. Lembramo-nos de Pombal, o Marquês. O homem providencial. Mais dificilmente nos lembramos do Monarca reinante e quase seguramente que não nos inundam a memória lembranças de palácios, templos ou espaços de Lisboa irremediavelmente perdidos para sempre naquela manhã de 1 de Novembro de 1755. Só recordamos o pós-terramoto, ou o que dele resultou.
Também nunca temos em memória as pequenas histórias de famílias ou de indivíduos no contexto do terramoto de Lisboa, ou sequer noção do eco estrondoso que o acontecimento teve pela Europa fora.
Por tudo isto, para os mais curiosos, O Pequeno Livro do Grande Terramoto, de Rui Tavares, é uma agradável experiência de leitura. Ligeiro e fluído apaixona e prende. Não consegue ser lido, é logo lido.

2007/06/16


Tenho cá um presentimento que toda a comparação séria entre as várias possibilidades de localização do novo aeroporto de Lisboa, já está dentro desta caixa!

De “jamais” a “porquoi pas?”


Depois do peremptório “jamais” do Ministro Mário Lino sobre a possibilidade de o novo aeroporto vir a ser construído na margem sul do Tejo, muita água correu entre as duas margens do mesmo. A partir dessas declarações, o conflito latente passou a beligerância aberta e o ministro, nunca vergando, foi alvo de fogo à peça. Se este debate andou muito fluvial, saltitando de margem para margem de um rio que lhe é indiferente, o caudal engrossou pela proximidade da foz e o mesmo, o debate, além das margens, ganhou um(a) Costa. Já não é para peixe miúdo, taínha do rio, ganhou outra profundeza e nobreza, onde já entra o safio. Com um tubarão no perímetro, a petinga ministerial, com ares de carapau de corrida, rápido encontrou um coral onde ficar escondida.
Ficou o Ministro enrolado com o “jamais”, ao qual, hoje, acrescentou um espirituoso jornalista do Expresso um “porquoi pas?”
Até 15 de Julho o assunto está arrumado, não se falará mais nele, já não é facto consumado.
Depois de passada esta data, não exista qualquer estranheza, de que a obra volte a ser grande e à francesa.
Como a nobreza tem destas coisas, ainda veremos o Ministro Lino fazer brotar água cristalina das rochas áridas do inóspito deserto do lado de lá do rio. Um genuíno e dedicado Moisés, mais fiel que leal. Só é necessário dizer-se-lhe o que se quer que ele faça, e nem o primogénito lhe escapa.

A MÁQUINA VOADORA DE LEONARDO



“A Máquina Voadora de Leonardo
Passou mesmo agora aqui ao lado
Não se sabe se vem dos tempos ou se para lá caminha:
Sejam honestos, não digam que esta dúvida é só minha.
Lá por dentro vai tudo numa fona
O Freddie Mercury discute com o general Carmona
Assuntos ligados ao movimento gay
Quem vai dar um tiro em quem é que eu não sei.
O Kennedy, cabeça inclinada para a frente
Parece ter morrido outra vez, de repente.
Nada disso. Está a agradecer a uma Marylin Monroe em lã
Que acaba de lhe oferecer o Gengis Khan.
O Hitchcock ri a preto e branco por causa do cagaço
Que pregou ao Sinatra quando lhe deu um abraço
Deixando-lhe uma mancha de sangue na camisa
Mais um bocado de lodo do Tamisa.
O Lenine dá um autógrafo num panfleto à Virgem Maria
Que retribui com um postal ilustrado da Cova da Iria.
Levanta-se o Guevara que faz um discurso de asma
Sem se lembrar que, aos mortos, nada os entusiasma.
Condecorado pelo Estado Novo com a Caravela de Lama
Segue num banco de trás o inolvidável Gama
Sem perceber que desta vez navega, mas voando
Assobia um fado do Marceneiro, e vai remando.
Contando anedotas sobre a ditadura militar
O Allende diz ao Prestes que o que é preciso é não marchar
Quando começa o serviço a bordo, um mártir da Intifada
Pergunta se querem pedras, café ou laranjada.
Neste momento levanta-se às riscas o Picasso
Para leiloar um quadro, As Mulheres Sem Espaço.
Arremata-o o Louis Armstrong que entretanto canta
What a Wonderful World, um título que nos espanta.
Quem não gosta deste estilo é o Gardel
Que vai pedir a quem para cantar?, ao Jacques Brel.
Este, que vai a discutir em flamengo com o Paulo VI
O porquê assim e assado da música e do texto,
Responde ao tanguista, de quem sempre gostou pouco,
Que não pode cantar, depois de morto ficou rouco.
Tremelicando de frio, Goebbels pede uma manta. Quem lha dá?
Essa mulher única, de todos e por todos, Madre Teresa de Calcutá.
Irado, um judeu anónimo quase agride a Madre indefesa
Que com a calma do outro mundo lhe sugere: “Reza filho, reza.”
Deitado, ocupando três lugares e parecendo um puto
Vai o Churchill mascarado de Carnaval de Veneza, com charuto.
Para ele, aquela gente é igual ao litro do Porto, tanto faz
E quer lá saber se foi bom na guerra e mau na paz.
Um filósofo grego que da imortalidade não se safa
Pede ao Hemingway que lhe abra outra garrafa.
Logo ao lado, a Maria Antonieta faz assédio
Ao Louis Pasteur – vacine-me contra o tédio!
Das Galápagos, o Darwin mostra uns folhetos
Com tentilhões irmãos, primos e até netos
Enquanto o Aquilino – como no milagre dos pães –
Tira do regaço A Casa Grande de Romarigães.
O Edison, como o olhar carregado de invenção,
Diz a Cleópatra: - Também inventei a paixão.
Mas vem o Marco António fardado de ciúme
Vociferar: - Também tu, ó Edison, será que não tens mulher?
O Generalíssimo pavoneia-se cheio de medalhinhas.
O Salazar, como o menino Jesus, fica nas palhinhas
De que são feitos os bancos da máquina voadora
De onde, com os balanços, a História vomita borda fora.
Entusiasmado perante Beethoven, Van Gogh, o holandês
Que lhe conhece a música mas lhe desconhece a surdez,
Fala-lhe há horas na sua última peça.
O Ludwing já dorme, mas diz que sim coma cabeça.
A máquina Voadora aumenta muito a altitude
Lá mais para cima, onde o ar dá mais saúde.
E ouve-se o Bogart gritar, cheio de catarro
- Mais devagar porra, não consigo acender o cigarro.
Os autores da Bíblia viajam sisudos, sempre à parte
Cheios de medo que a Máquina Voadora só pare em Marte
De que há pouco ouviram histórias a um tipo da NASA
Que fala do espaço como se estivesse em casa.
Agarrado à cabeça – diz-se que desde a hora da partida –
Vai o comandante Cousteau, implorando pela descida
Não só à terra, mas à profundeza dos oceanos
Onde pesquisou tudo, até petróleos e enganos.
Limpando os óculos pequeninos numa nuvem
Pessoa pede ao piloto para
Mandar uma Mensagem.
- Claro que sim. Em nome de quem mando?
- De ninguém, ou melhor, do estranhíssimo Fernando.
O Pasolini contratou o Marlon Brando para fazer de loura
O Lennon e o Harrison fazem a banda sonora.
Como se vê, a actividade aqui é muito forte
Para lá da turbulência e até da morte.


Aqui só se respeita o caos não há métrica ou rima ou
acordo ou misericórdia
Não se fecham os olhos a nada tudo é absoluto e
simples claro e escuro
As cores não são o que pintamos são cores mortas-vivas
os homens andam por
aqui aos milhões vivem-se aos milhões matam-se aos milhões
desde sempre para sempre
O mundo melhor é haver mundo amanhã se
puder ser a desordem é o
Regulamento universal porque não podemos amar a
quem não nos tem amado
e não podemos perdoar a quem não nos tem
Perdoado vivemos para ter documentos e autorizações
Que é a maneira inventada por alguém em nosso nome
Para sermos anti-terroristas anti-fascistas anti-comunistas anti-depressivos
Anti-traça anti-rugas – produtos colocados no mercado
por uns tipos que a sabiam
Toda civilizadamente claro já não me apetece mais
rigor mais disciplina já nem
O caos me apetece respeitar maravilhoso mesmo só o
concreto impossível que
Há dentro de cada um de nós


Agitou-se muito o voo idealizado por Leonardo.
As pessoas e as vidas foram pelos ares
As folhas onde escrevo
Os sinais de música
Os cálculos de Copérnico
A engenharia das naves
A poesia dos mapas
A prosa perdida

A Máquina Voadora de Da Vinci não tem código
Não é uma adivinha
É a genial imperfeição do que é cruel e belo e não se alinha.
Agora sabe-se que vem dos tempos
E que para lá caminha.
in, "Quando não souberes copia", Fernando Tordo

PALESTINA

"UMA GUERRA SÓ É UMA GUERRA, QUANDO UM IRMÃO MATA OUTRO IRMÃO"









Crise em Gaza estende-se à Cisjordânia

Os confrontos entre a Fatah e o Hamas, até agora circunscritos a Gaza, estenderam-se hoje à Cisjordânia, quando elementos armados da Fatah ocuparam o edifício do Parlamento, em Ramallah.
Os homens armados terão tentado, de acordo com os primeiros relatos que chegaram às agências noticiosas, raptar o vice-presidente do Conselho Legislativo Palestiniano, Hassan Khuraishah.De acordo com a AFP, porém, o porta-voz do Parlamento desmentiu a tentativa de rapto do vice-presidente da Assembleia.Estes confrontos acontecem depois de a Fatah ter sido empurrada para fora da Faixa de Gaza pelo Hamas, terminando uma semana de confrontos que fizeram mais de cem mortos.Um dos principais chefes de um grupo armado ligado à Fatah apelou hoje aos activistas do Hamas na Cisjordânia que deponham as armas e as entreguem à Autoridade Palestiniana, após o controlo da Faixa de Gaza pelo movimento islamista.A crise actualmente vivida no seio da liderança palestiniana conheceu nos últimos dias desenvolvimentos importantes, com a destituição do governo Hamas liderado por Ismail Haniyeh e a sua substituição por um independente que conta com o apoio ocidental, Salam Fayyad.
in Público, 16.06.2007

2007/06/15

A FOTO


Olhei para esta fotografia várias vezes. Não sei em que contexto foi recolhida, nem quando. Tal facto dificulta um comentário apropriado. Contudo publico-a com a única consideração justa que sobre ela posso tecer.
Na fotografia estão, em primeiro plano, o Presidente da Câmara Municipal de Loures, um nabo e um popular.

GUERRA JUNQUEIRO SEMPRE ACTUAL!




"É impressionante como nada, ou quase nada muda.Por isso continuamos, cada vez mais, na cauda da Europa. Para leitura..." Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo,enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, -reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta (...) Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta ate à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados (?) na vida intima, descambam na vida publica em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira a falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na politica portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro (...) Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do pais, e exercido ao acaso da herança, pelo primeiro que sai dum ventre, - como da roda duma lotaria. A justiça ao arbítrio da Politica, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas;Dois partidos (...), sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes (...) vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se amalgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, - de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar (...)"




Guerra Junqueiro, in "Pátria", escrito em 1896