FRAGMENTOS
1
Um homem
vai no seu corpo
e subitamente
cai. Ouço
desmoronar-se
a sílica do coração.
E ouço também
a terra e o ar
acolherem os ossos
do filho pródigo.
Em si este acontecimento
não é nada original
mas dói. O vento
do Outono
morde-me os ossos
e dói.
201
Quem amou ainda ama,
vai ouvir a vida inteira a canção furtiva,
vai ouvi-la e cantá-la
ao acaso dos ventos que trazem
do Ocidente e do Oriente
árvores e respirações animais
que supuram a febre do mundo — quem amou
ainda ama, vai cantar
a vida inteira
o ninho de mulheres onde se reúnem
a terra e o céu, vai aceitar
o domínio das águas sedentas
sobre o osso e a pedra: o grande ofício
é transformar a terra em osso
e o osso em carne
desamparada. Quem amou
não sabe nada, vai cair
a vida inteira. Mas que força é essa, se não é
um saber? Um saber de bocas invisíveis
e do enigma das águas que são álcool
da carne e pássaro que regressa
ao ninho da mãe. Quem amou
vai amar
a vida inteira.
Quem amou ainda ama,
vai ouvir a vida inteira a canção furtiva,
vai ouvi-la e cantá-la
ao acaso dos ventos que trazem
do Ocidente e do Oriente
árvores e respirações animais
que supuram a febre do mundo — quem amou
ainda ama, vai cantar
a vida inteira
o ninho de mulheres onde se reúnem
a terra e o céu, vai aceitar
o domínio das águas sedentas
sobre o osso e a pedra: o grande ofício
é transformar a terra em osso
e o osso em carne
desamparada. Quem amou
não sabe nada, vai cair
a vida inteira. Mas que força é essa, se não é
um saber? Um saber de bocas invisíveis
e do enigma das águas que são álcool
da carne e pássaro que regressa
ao ninho da mãe. Quem amou
vai amar
a vida inteira.
415
Esta coisa a que chamam amor
é uma criança que salta onde sou velho,
eu que venho de milénios viajando
de reino em reino. Pó
intenso.
Salto e danço e sou contaminado
por águas montanhosas que mantêm para sempre
o rio febril. As árvores, na margem,
dobram-se à sua passagem.
Posso chamar-lhe amor,
pensar na luz crua do nascimento ou simplesmente
nascer de novo sem desejar
coisa nenhuma. Pensar é exercício de palavras
e há momentos em que só o silêncio
ou o sexo no sexo
ou um grito
dizem o que há para dizer.
7 comentários:
Hoje estamos virados para a poesia. Acho bem...
Um abraço
Maria CC
"A poesia espalha entre os seres humanos que a procuram e a entendem uma luz de amor"
Urbano Tavares Rodrigues
Por isso vamos começar pela primeira:
Ai eu coitada!
como vivo en gran cuidado
por meu amigo
que ei alongado!
Muito me tarda
o meu amigo na Guarda!
Ai eu coitada!
Como vivo en gran desejo
por meu amigo
que tarda e nom vejo!
Muito me tarda
o meu amigo na Gruarda!
D. Sancho I - 1154-1211
Nem sempre conseguimos verbalizar o que sentimos... Os poetas têm o génio, de por vezes, serem a voz dos nossos sentimentos.
Dando sentido às nossas angústias, tornam-nas mais leves e organizadas. Como se adviesse conforto da partilha que resulta, do facto de sabermos que outros têm ou tiveram os nossos estados de alma. Também a poesia veste de beleza o que de outra forma podia apenas ser crú e violento.
Lamento colocar o texto que se segue numa parte do blog tão bela. Mas não sei escrever noutro sítio.
Santa ignorância...
A criminalidade mais ou menos dura, os desvios de comportamento, as atitudes marginais, atravessam de uma forma transversal todo o território nacional, com pequenas nuances relacionadas com o tecido social local.
Loures não é excepção.
Vem isto a propósito da notícia de primeira página do jornal Expresso de 30 de Março. Está a decorrer o julgamento de um cidadão residente na Quinta das Sapateiras em Loures, acusado de abusos sexuais auferidos a mais de uma dezena de crianças que estavam à guarda do ATL em que trabalhava. Até aqui, apesar da gravidade da situação, nada a comentar, até porque o caso está a ser devidamente tratado pelos tribunais.
O facto de o referido ATL funcionar em espaços da autarquia que se responsabiliza pelo pagamento da água e da luz, já nos deixa com a pulga atrás da orelha. Se acrescentarmos a condecoração com que o referido senhor foi agraciado pelo CM Loures por bons serviços prestados à comunidade, então é altura de ficarmos de facto alerta. A visita de técnicos da autarquia ao referido espaço relatando que tudo estava bem “muito limpinho…”, faz-nos crer que este assunto, definitivamente, nos diz respeito e que se torna necessário perceber qual o papel e responsabilidade que o executivo camarário tem no funcionamento deste equipamento.
Sabemos que estes actos de criminalidade não são facilmente adivinhados e que os pedófilos não se distinguem a olho nu do comum dos mortais.
Refere a notícia que desde 2004 o acusado é o único adulto que aí trabalha, pois as mães que inicialmente colaboravam, deixaram de o fazer.
O senhor vereador António Pereira interpelado sobre o assunto admite o apoio ao ATL, assume que a instituição não se encontra legalizada, mas “ …Prometia-nos que ia legalizar a situação e fomos adiando.” e “Ele colmatava uma lacuna grave no bairro e responsabilizava-se pelas crianças que durante a tarde não tinham para onde ir.”
Como é agora moda dizer: não tenho palavras para tanta indignação.
Então apoia-se uma instituição que não cumpre os requisitos legais, que é ilegal, com espaço, água, luz e ainda com visitas técnicas?! Permite-se que um espaço por “estar limpinho” e o senhor “ser muito simpático disponível e colaborante” acolha 25 crianças, e depois lamenta-se e ainda se considera “também fomos vítimas no processo.”
Infelizmente esta situação de perfeita ilegalidade no que se refere a ATls não é única no nosso concelho, sendo, até alguns, propriedade de juntas de freguesia, sem licença de funcionamento, sem pessoal especializado, sem os requisitos mínimos de funcionamento.
Quando é que esta gente responde pelas ilegalidades que permite e desenvolve?
Quando é que este vereador será acusado de co- responsabilidade nestes crimes? (por confissão do próprio e pelo facto de não cumprir a função para que foi eleito assumindo a falta de resposta autárquica à lacuna num dos bairros mais problemáticos do concelho.
Um abraço
Maria CC
Será que este Livro das Quedas é de Casimiro de Brito?
è do Casimiro de Brito. Foi por lapso que não se indicou a autoria dos poemas.
O Marquês
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