2007/03/26

O PIOR, O MELHOR, E TUDO O QUE VAI PELO MEIO


A RTP concluiu ontem o Programa “Os grandes Portugueses”. O resultado era esperado, venceu o concurso Oliveira Salazar, cognome “O Ditador”. Com 41% dos votos dos telespectadores, tem a sua segunda vitória este ano. Há uns meses havia sido “eleito” pelos leitores do Público, nomeadamente do seu suplemento “O Inimigo Público” e do programa “O Eixo do Mal”, como o Pior Português de Sempre e o maior responsável pelo estado em que estamos. A RTP, prevendo o desfecho do concurso, encomendou a semana passada, à Eurosondagem, um estudo de opinião no qual foi feito um escrutínio dos mesmos nomes a concurso, mas através do método de amostragem, sendo nessa sondagem o vencedor D. Afonso Henriques.

Nem angústias nem euforias devem marcar o comentário desta sucessão de palermices. A verdade histórica não se escrutina pela aferição de opiniões, nem se sujeita à mobilização de grupos ou às suas intenções. Para mim, o resultado é indiferente. Não se desvaloriza porque foi este e não outro. Se o Dr. Álvaro Cunhal vencesse este concurso, significaria que o povo português estaria disposto para uma revolução amanhã? Não. Significava apenas que, através da mobilização os seus apoiantes teriam conseguido que ele obtivesse esse lugar. Os opositores políticos do Dr. Álvaro Cunhal mobilizaram-me e apostaram no cavalo que lhes poderia assegurar a derrota do seu inimigo figadal. Que terão pensados os apoiantes do Dr. Mário Soares quando este nem sequer se qualificou? Perceberam ontem o favor que lhe fizeram.

Estavam na lista a votação três personalidades do século XX, actores políticos marcantes, dois dos quais profundamente marcantes e antagónicos. Logo, fracturantes e potenciadores de discursos apaixonados, não isentos. Desse modo, rapidamente remeteram para a categoria de figurantes os restantes nomes a concurso. Sairá beliscada a importância histórica ou cultural de Vasco da Gama, Afonso Henriques, Pessoa ou Camões, por terem sido os residuais no resultado? Obvio que não.

Que sirva de lição. Não se trata assuntos sérios em contextos que não foram concebidos para tal. Espanta-me que os mais conscientes não tenham disso tido consciência.

1 comentário:

Anónimo disse...

Não dei para esse peditorio! Quem deu deve estar arrependido.