2007/03/21

PRIMAVERA

Primavera, Botticelli



AMOR DESCALÇO


Ela ia minada de beleza
E eu , pé-ante-pé , seguia
como um imam preso
à memória que fica.
No entanto ,
a indecisão se foi evaporando
até acender o meu espanto.
E para não me ouvir os passos
descalcei-me.
E , descalço , ia no seu encantado encalço
do seu encanto.
De repente ela parou.
Fiquei mudo de atitudes !!!
E antes que eu falasse ,
Disse-me : Cale-se !
,
E eu calcei-me ...



A LUA

A lua pode-se tomar á colherada
Ou como um comprimido em cada duas horas.
É boa como hipnótico e sedativo
e também alivia
os que se intoxicaram de filosofia.

um pedaço de lua no bolso
é melhor amuleto que uma pata de coelho:
serve para encontrar quem se ama
para ser rico sem que o saiba ninguém
e para nos afastarmos de médicos e clínicas.
Pode-se dar de sobremesa as crianças
quando não tenham adormecido
e umas gotas de lua nos olhos dos velhos
ajudam a morrer melhor.

Põe uma folha terna da lua
debaixo da tua almofada
e verás o que queiras ver.
Leva sempre um frasquinho de ar da lua
para quando te afogues
e dá a chave da lua
aos presos e aos desencantados.
Para os condenados á morte
e para os condenados á vida
não há melhor estimulante que a lua
em doses bem precisas e controladas

Jaime Sabines


TENDRESA (TERNURA)


È longo o caminho que vou deixando para trás
mas quero-me ligeiro da sua bagagem
que de nadam valem tantos azares
nem os velhos caminhos, nem o azul do mar
se dentro não sinto como bate,
a frágil arte da ternura

Do teu amor espero tudo e tanto
que escrevo uma canção para o meu entardecer
amo a ânsia dos teus olhos
o impúdico arco do teu corpo nu
mas amor, amo-te ainda mais e mais ainda
sabendo-te escravo da ternura

Do doce latido da ternura
que espera
a ternura
que celebra
a ternura
que nos cura … quando nos dá medo a solidão

O Mundo que vivo, não o sinto como meu
e conheço os porquês de uma revolta
miséria e guerra, fome e morte
fascismo e ódio, raiva e medo
rejeito um Mundo que chora estas tristezas, que tristeza...

Mas de repente chega a ternura

Ah, se não fosse pela ternura
que espera
a ternura
que celebra
a ternura
que nos cuida … quando nos dá medo a solidão.


Luis Lach

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