2007/03/29

O DELÍRIO DE BOSCH


"Complexa e delirante encenação da iconografia mais popular de um Santo Eremita, brilhante e inconfundível execução pictórica, excelente estado de conservação - estes são, entre outros, alguns dos motivos pelos quais os visitantes do Museu Nacional de Arte Antiga se detêm muito tempo diante deste tríptico, obra-prima absoluta de Jheronimus Bosch.Uma inventada unidade do espaço integra as múltiplas cenas que preenchem o painel central e os volantes laterais, território para um formigar de seres e de episódios que desafiam a nossa interpretação e que ocupam, literalmente, os quatro elementos do universo (céu, terra, água e fogo). Além da narrativa das tentações do santo, a obra encerra uma visão totalizante do mundo invadido pelo mal, personificado aqui por uma legião de seres demoníacos e aparentemente fantásticos que também significam um tributo do pintor a uma longa tradição figurativa medieval. No verso dos painéis laterais, as grisalhas mostram ainda dois passos da Paixão de Cristo. Ambas as cenas são marcadas pela violência e por um espaço desértico em primeiro plano, lugar de cadáveres e de condenados, de morte e desolação, o que vem acentuar a mensagem pessimista, embora não desesperada, de todo o tríptico."

in, Público (P2), 29-03-07

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