2008/02/29

CRÓNICA DE DOURES




"Caro Primo

Tenho lido com assiduidade os relatos do que vê, lê ou lhe contam. São deveras impressionantes muitas das coisas que descreve. Coisas fantásticas que me trazem à memória outros acontecimentos passados, que conheço por testemunho de gentes locais, mas também por experiência vivida nos tempos em que por lá andei em campanhas civilizacionais e guerras contra os bárbaros.

Num concelho denominado Doures, talvez por ter sofrido muito nos anos negros do fascismo, quando metade da população não tinha água canalizada, ou electricidade e os esgotos corriam em valas pelas ruas de poeira no verão e lama no inverno, o povo pagava impostos e não via obras. Veio uma revolução e mudou o país. Em Doures, a população resolveu organizar-se para formar uma Câmara de homens bons que lhes resolvessem os problemas. Disseram eles que estavam dispostos a continuar a pagar impostos mas queriam que a Câmara fizesse as obras necessárias, lhes construísse as escolas que não tinham, os parques infantis, os centros de dia para os idosos, e a electricidade tal como a água chegasse a todas as casas. Uma meia dúzia de homens bons aceitou o desafio e organizou uma Câmara nova de acordo com o espírito da Revolução e vontade do povo. Os homens bons compraram contentores para recolher o lixo, e deram emprego a trabalhadores que faziam a recolha e varriam as ruas. O trabalho era duro e demorava muito tempo. Então os homens bons compraram camiões que recolhiam o lixo em quatro horas. Sobrava agora mais tempo para varrer as ruas e ainda fazer alguns pequenos trabalhos de conservação das valetas. Os homens bons viram que o dinheiro que recebiam da população chegava para fazer mais coisas e admitiram mais trabalhadores para as obras. Os camiões ainda tinham tempo para transportar os trabalhadores e os materiais. Os homens bons que também ajudavam a orientar os trabalhos estavam sempre a dialogar com a população para perceberem quais os trabalhos mais prioritários e a forma de melhor gastar o dinheiro que o povo lhes tinha confiado. Quando os moradores os viam na rua por onde andavam constantemente e lhes exigiam novas obras eles punham-nos a discutir para que todos participassem nas decisões do que fazer e dos dinheiros disponíveis para o efeito. Duma dessas discussões alguém alvitrou que se a Câmara distribuísse materiais os próprios moradores poderiam, nos fins de semana, ajudar os trabalhadores da Câmara. Assim com pouco mais de despesas a Câmara e moradores passaram a fazer muito mais obras. Fizeram esgotos, canalizações de água, redes de electricidade, parques infantis e creches para as crianças e aumentaram o número de escolas. Parecia milagre que, com tão poucos trabalhadores e tão pouco dinheiro, se fizesse tanta coisa. As exigências da população aumentavam. Era preciso fazer obras muito maiores para as quais a Câmara não estava preparada. Os homens bons reuniram e depois de muito discutir resolveram propor ao povo que o dinheiro que davam para as obras fosse também para admitir técnicos para fazer projectos. Uma comissão de moradores que estava a fazer uma ponte sobre o rio disse logo que, com o dinheiro pago ao técnico, compravam mais ferro para a ponte ficar bem forte. Contudo os homens bons conseguiram demonstrar que o dinheiro gasto no técnico era bem empregue porque as obras sairiam mais bem feitas e mais económicas. E de facto assim foi. O mesmo se passou com a compra de algumas máquinas que passaram a fazer o trabalho de vários homens. Com as máquinas vieram os manobradores. As Obras feitas pela Câmara e moradores duplicaram. Feitas as contas estavam mesmo a sair mais baratas. Com o mesmo dinheiro da população fazia-se quase o dobro das obras. No entanto novas necessidade surgiram. Com as obras que a Câmara passou a fazer, aumentou o trabalho administrativo. Os camiões ou as máquinas quando avariavam e o motorista não era capaz de as reparar tinham que ir a uma oficina. Mas gastava-se muito tempo e dinheiro. Os homens bons mais uma vez reuniram e depois de fazer muitas contas concluíram que se montassem uma pequena oficina as máquinas seriam regularmente assistidas sem grandes interrupções dos trabalhos e as despesas não aumentavam tanto. O número de trabalhadores de apoio às obras aumentou mas feitas as contas o custo das obras não aumentou porque todos estavam a trabalhar para as obras directa ou indirectamente e o resultado final era melhor. Mas as necessidades não pararam e veio a colocar-se um problema novo. Os trabalhadores exigiam, tal como a população, melhores condições de trabalho. Novamente os homens bons reuniram ouviram os representantes da população e dedicaram uma parte do dinheiro do povo para a construção de um refeitório e para admitir uma cozinheira.
Com todas as viagens que tinham que fazer, os homens bons acharam que era justo que uma pequena parte do dinheiro do povo fosse desviado das obras e servisse para comprar um pequeno carro, barato e económico, para a sua utilização nas deslocações ao serviço do povo. Assim propuseram e assim foi aceite não sem algumas contestações. Contudo as obras continuavam a aumentar e como toda a estrutura municipal estava dirigida para fazer obras, feitas as contas o mesmo dinheiro, davam para mais obras. O ritmo era extenuante e os homens bons começaram a ficar cansados. Reuniram o povo e disseram que queriam ser substituídos por outros que merecessem igual confiança do povo. E assim foi . Escolhidos outros foram mudados alguns métodos de trabalho. Acharam os novos homens bons que se perdia muito tempo a consultar o povo e ainda por cima o povo muitas vezes contrariava a sua opinião. Apesar de reduzirem as deslocações para orientar as obras e confirmar as opiniões do povo, ou pedir a sua participação, acharam que o carro onde se deslocavam não tinha a dignidade suficiente para a sua posição. Deixaram de realizar algumas obras e, com esse dinheiro, resolveram comprar um carro novo, de muito melhor qualidade, para seu próprio serviço. Os consumos de gasolina foram também mais elevados o que obrigou a reduzir mais umas obras. Uma vez adquirido o carro novo concluíram também que os seus gabinetes precisavam de ser melhorados. Alteraram então o Plano de Actividades retiram mais umas obras e compraram novo mobiliário e uns quadros, para decorar as paredes. Viram também que era incómodo utilizar uma só fotocopiadora e compram uma para cada um. Novamente o Plano de Actividades foi alterado e reduzidas mais umas obras. Os trabalhadores da Câmara começaram a dar indícios que tinham pouco trabalho, por falta de dinheiro para materiais e, os novos homens bons, resolveram mudar-lhes algumas funções passando-os para tarefas administrativas. Aumentaram-se as instalações para acolher os trabalhadores que passaram a estar mais tempo nas instalações e menos tempo nas obras. Aumentaram as despesas de instalações e mais obras tiveram que ser reduzidas. Como foram reduzidas mais obras por não haver dinheiro para comprar os materiais novos trabalhadores foram transferidos para as instalações em Doures. Como os novos trabalhadores agora administrativos, já não cabiam nas instalações alugaram-se outras em vários locais da cidade.
O dinheiro que o povo pagava já não chegavam para as despesas com pessoal, das instalações, dos telefones, da gasolina dos automóveis dos novos homens bons, do papel que as fotocopiadoras gastavam, apesar de não haver obras a fazer. Os trabalhadores das obras passaram a fazer de contínuos para transportar papeis entre as várias instalações, outros passaram a limpar as instalações que eles próprios sujavam. Mesmo assim o dinheiro não chegava. Os homens bons pediram dinheiro emprestado ao banco. As despesas aumentaram agora para pagar os juros. Novas obras foram retiradas do Plano de Actividades. Alguns amigos dos homens bons, que tinham oficinas e empresas de construção sugeriram que a Câmara despedisse o pessoal das obras e que passasse a encomendar os trabalhos a eles. As obras passaram a ser mais caras, pois era preciso pagar o lucro dos amigos, os trabalhos mais demorados, pois os amigos tinham também outras obras que tinham prioridade. Novos empréstimos foram pedidos e as encomendas de obras foram anuladas para pagar os empréstimos anteriores. Os homens bons preocupados, com a possibilidade de perderem a confiança do povo, decidiram alterar a sua estratégia. Deixaram de fazer obras e com esse dinheiro poupado, encomendaram campanhas de publicidade e passaram a realizar espectáculos para alegrar o povo descontente. O povo de Doures continuava a pagar, mas agora em vez de obras tinha publicidade e espectáculos. Se muitos estavam contentes por ir a espectáculos que julgavam que não pagavam, outros criticavam cada vez mais. Os homens bons tiveram então novas ideias. Foram falar com os amigos urbanizadores e fizeram com eles um novo acordo. As urbanizações aprovadas seriam aumentadas, onde se tinham autorizado mil fogos, passariam a construir dois mil, e o lucro assim obtido seria dividido, um terço para os urbanizadores, outro terço para eles e o restante para fazer as obras que a Câmara tinha deixado de fazer. Voltaram a ser feitas obras mas agora feitas pelos urbanizadores. Parecia que a solução tinha ido ao encontro de todos. Todos estavam felizes e o povo contente por ver novamente obras. Esta solução tinha ainda a vantagem de muita gente julgar que muitas das obras eram para o povo quando na realidade era para serem vendidas aos que compravam os fogos das urbanizações. Mas entretanto surgiram novos problemas. A construção era tanta que eram precisas mais escolas, mais creches, mais estradas. Algumas foram feitas mas, depois de algum tempo precisaram de ser arranjadas e não havia dinheiro. As estradas foram ficando esburacadas. O trânsito aumentou e os engarrafamentos também.
Vieram as chuvas mais fortes e com elas as cheias, pois as linhas de agua tinham sido ocupadas com construção. Por vezes faltava novamente a água e a electricidade. Os esgotos já não chegavam e transbordavam para as ruas e para os rios. Então algumas pessoas do povo, as mais velhas, lembraram-se dos tempos antigos, do início desta história.
Talvez por isso Doures não mudou de nome como se chegou a admitir.”

Cumprimentos e estima pessoal;

Conde de Matacães"

Pela primeira vez dou a conhecer uma missiva do meu preclaro primo, o Conde de Matacães, visita assídua do Palácio. Cabe, antes de mais, esclarecer que o título do meu caro primo não advém de qualquer abjecta guerra contra os nobres animais fieis amigos, mas do facto das suas possessões se localizarem na digna terra de Matacães, próximo de Torres Vedras, famosa por se ter associado em tempos na luta contra os bárbaros infiéis.

ÚLTIMO GRITO DA MODA



Pensava eu que as cheias que me arruinaram o piso térreo do Palácio tinham sido uma calamidade, mas havia-me esquecido que regularmente por cá se realizam as reuniões da Assembleia Municipal de Loures. Isso sim, são verdadeiras calamidades!Ontem, a casa encheu-se de nobres que, tal como eu viram os seus palácios devassados pela fúria das águas. Foram pedir contas ao Presidente da Câmara Municipal! Gabo-lhes a credulidade de ainda sentirem ser útil depositar esperança na personagem! Como vem sendo comum apenas escutaram desculpas e promessas vagas. Mas o momento da noite resultou do debate em torno do anunciado encerramento da extensão de saúde na freguesia de Camarate. A CDU apresentou uma moção contestando a decisão do governo de encerrar esse serviço de saúde, o PS, que na Câmara Municipal tinha chumbado uma proposta idêntica, optou desta vez pela abstenção. Os mais incautos podem pensar que este partido se tornou sensível aos argumentos contra o encerramento, mas nada disso. Ao contrário do que se tinha passado na reunião de Câmara, desta vez estavam a assistir ao debate vários habitantes de Camarate. Esse facto, fez com que no exacto momento da decisão os eleitos tenham optado por continuar a voar, mas desta vez mais baixinho. Tão baixinho, que sobre este assunto não disseram uma palavra! Incrível, que em torno de um problema tão concreto, o partido que detem a maioria absoluta na Assembleia Municipal não tenha nada para dizer aos cidadãos. Honra seja feita ao Presidente da Câmara, que acabou por dizer que não compreendia como é que os habitantes de Camarate se recusavam a ser transferidos para um Centro de Saúde fora da sua freguesia, que entendia ele ser o "último grito da moda". É verdade que a velhinha extensão de saúde de Camarate é Demodé, mas em Camarate, enquanto não existir uma melhor, as pessoas recusam-se a andar nuas. Compreensível!

A CASA ONDE ÀS VEZES REGRESSO É TÃO DISTANTE


Fotografia: Ricardo Cabaça
A casa onde às vezes regresso é tão distante
da que deixei pela manhã
no mundo
a água tomou o lugar de tudo
reúno baldes, estes vasos guardados
mas chove sem parar há muitos anos
Durmo no mar, durmo ao lado do meu pai
uma viagem se deu
entre as mãos e o furor
uma viagem se deu: a noite abate-se fechada
sobre o corpo

Tivesse ainda tempo e entregava-te
o coração

José Tolentino Mendonça

2008/02/28

MARCHA DA INDIGNAÇÃO




Imagem retirado do blog anterozoide

Seguindo a promessa que aqui deixei, tentarei abordar hoje o modo de organização e gestão das escolas.



Actualmente os jardins-de-infância (JIs), as escolas do 1º, 2º e 3º ciclos estão organizadas em agrupamentos, cuja escola sede é sempre uma escola básica 2, 3 (2º e 3º ciclos) que agregam os JIs e escolas EB1 (escola básica do 1º ciclo) de uma determinada área geográfica.
No nosso concelho existem 13 agrupamentos que oscilam entre os 450 e os 2 000 alunos e entre 4/5 escolas e 15/20 escolas.
Cada agrupamento tem uma gestão única (Assembleia de Escola, Conselho Executivo, Conselho Pedagógico e Conselho Administrativo).
As escolas secundárias têm os mesmos órgãos, mas não funcionam como uma única unidade.
A Assembleia de Escola é composta por docentes, funcionários auxiliares e administrativos eleitos pelos seus pares, representantes dos pais, das autarquias e, eventualmente de outras forças da região.
O Conselho Executivo (Presidente e Vices Presidentes) é eleito por todo o pessoal da escola/agrupamento e por representantes dos pais.
O Conselho Pedagógico é composto pelos representantes dos vários departamentos da escola/agrupamento, por representantes do pessoal auxiliar e por representantes dos pais.
O Conselho Administrativo é um órgão técnico composto pelo Presidente do CE, por um Vice Presidente e pelo Chefe dos Serviços Administrativos.

Com o novo modelo de administração e gestão recentemente aprovado em Conselho de Ministros os órgãos serão os seguintes:

Conselho Geral – composto por docentes e não docentes, pais, autarcas e, eventualmente, representantes das forças sociais, económicas e culturais da região. Terá até 21 elementos. Os representantes da escola (Docentes e não docentes) não podem exceder os 50%, ou seja 10 elementos.
É este o órgão que irá escolher o Director Executivo, de entre os candidatos que poderão ser docentes da escola de fora da escola, que se proponham para o lugar.
Director Executivo – Escolhido pelo Conselho Geral, sem a consulta aos professores e pessoal auxiliar e administrativo.
Conselho Pedagógico – terá praticamente a mesma composição do CP anterior, mas os seus elementos são designados pelo Director Executivo.
Conselho Administrativo – mantém a composição do modelo actual.

As principais diferenças destes dois modelos são:

A perda da escolha directa do principal actor da gestão das escolas. A escolha do director passa a ser decidida pelo Conselho Geral onde a autarquia e os pais têm a maioria dos elementos.
O órgão executivo passa a ser unipessoal deixando a colegial idade.
Os órgãos intermédios da escola (coordenadores de departamentos, coordenadores de escola) passam a ser designados pelo Director, deixando de ser eleitos pelos pares.

Os argumentos para defenderem este novo modelo são de que é necessário abrir as escolas à comunidade e de que é importante fortalecer as lideranças.

Resta dizer que não há notícia de o modelo actual ter sido alvo directo de avaliação, não sendo possível afirmar que não cumpria os objectivos anteriores.

O relatório da Avaliação Externa efectuada a 100 escolas/agrupamentos no ano lectivo de 2006/2007, publicado na página do Ministério da Educação, revela que 83% das escolas tem uma boa e muito boa liderança, sendo apenas 1% (uma escola) que teve insuficiente neste item de análise.
Os restantes itens em análise não revelam problemas graves, sendo a grande maioria das escolas/agrupamentos considerados como bem organizados, com uma boa capacidade de análise e tentativas de resolução de problemas.

ESTARÃO OS AUTARCAS E PAIS MAIS PREPARADOS PARA ESCOLHER QUEM DEVE DIRIGIR A ESCOLA DO QUE OS PROFESSORES E FUNCIONÁRIOS QUE AÍ GASTAM OS SEUS DIAS?

2008/02/23

O SECRETÁRIO DO MARQUÊS



Tornei-me secretário pessoal sem o ambicionar com fervor. Ambicionava outros sonhos e profissões, mas acabei por tomar conta da desorganização do meu patrão. Talvez tivesse sido um bom escritor, ou quem sabe, um médico elogiado. E como nem uma coisa nem outra aconteceram, fui obrigado a gerir as palavras e contas de outros. Nada disto me deixa triste, longe disso, tenho uma vida bastante agradável e agitada. Entenda-se que quem a agita não sou eu, mas sim o meu patrão. E antes de falar dele é necessário fazer uma pequena apresentação da minha vida.
Nasci às mãos de uma parteira no dia 27 de Março do ano da graça de 1829. Tomei no meu corpo uma severa pancada para chorar e apercebi-me que desde o primeiro ao último dia das nossas vidas as pancadas acompanhar-nos-ão como o ar que respiramos. A minha primeira casa foi na província, mais especificamente em Atalaia, pequena terra próxima de Constância. Os meus pais eram negociantes de ferro e vivíamos de uma forma confortável, mas longe de sermos uma família abastada. Ao contrário dos meus progenitores tornei-me estudante de Filologia por sugestão do pároco da Atalaia, segundo ele por ter apetência natural para as letras. Confiei nele e ainda hoje julgo que ele tinha toda a razão. Não sou escritor, mas podia ter sido.
Acabados os estudos em Coimbra resolvi descer no mapa e vim para Lisboa, as oportunidades seriam maiores na grande cidade. E foi no primeiro dia em Lisboa que eu conheci o meu patrão, o excelentíssimo Marquês da Praia e Monforte, um cavalheiro culto e apreciador das belezas, mistérios e vícios da vida. Os nossos caminhos cruzaram-se quando eu procurava uma pensão e por engano entrei numa casa de fins duvidosos. Ou por outras palavras, conhecemo-nos quando ele avaliava com as mãos as pernas de uma jovem moça num bordel. O bordel da meretriz Nini. Nunca mais voltei àquela casa. Tenho a certeza que o Marquês – e com muita frequência -, porém, sem o admitir, que lá voltou muitas vezes. Trocámos algumas palavras de circunstância (circunstância bizarra, sem dúvida), como habitualmente fazem os cavalheiros, quando o Marquês da Praia me convidou para seu secretário. Desconfiei do seu tom ébrio, mas não hesitei em aceitar a proposta.
Sou dedicado ao Marquês e a todos os seus pertences, o trabalho aumenta a par do cansaço e dos anos que passam. Ainda assim acredito que sou afortunado.
Durante algum tempo fomos grandes amigos e confidentes, até que o Marquês trouxe para o palácio a sua afilhada francesa. Enfim, perdi protagonismo e favoritismo, todo o tempo é para a afilhada e para os seus caprichos. Longas horas no quarto ora de um ora de outro, mas nem quero pensar em Miss Nini ou outras semelhantes.
Esta é a história da minha insonsa vida.

Alfredo Pinto da Silva


2008/02/22

DA JUGOSLÁVIA À JUGOSLÁVIA




Para quem não gosta de ir na corrente e tomar por bom tudo o que lhe metem no prato, deixo aqui duas referências sobre a actual situação nos Balcãs.

A primeira é o Underground de Emir Kusturica. "Em Abril de 1941, Marko e o seu amigo Blacky trabalham no mercado negro, organizando ao mesmo tempo a resistência contra os nazis. Em 43, Marko esconde Blacky numa cave. Este é procurado pelos alemães. Em 44 é a paz, mas Marko convence Blacky de que o país continua em guerra. Em 61, Blacky descobre a traição do seu amigo. Em 91, Ivan sabe da impostura do seu irmão Marko e do novo drama que destrói a sua terra natal. «Underground»: era uma vez um país..."

A segunda é o livro de Carlos Santos Pereira sobre a desagregação da Jugoslávia e o papel das potências ocidentais naquele território.

Este post é sobretudo uma manifestação de solidarieade com o povo Sérvio e um reconhecimento da sua capacidade de resistência.

HÁ-DE FLUTUAR UMA CIDADE


Imagem retirada daqui.


há-de flutuar uma cidade no crepúsculo da vida
pensava eu... como seriam felizes as mulheres
à beira mar debruçadas para a luz caiada
remendando o pano das velas espiando o mar
e a longitude do amor embarcado

por vezes
uma gaivota pousava nas águas
outras era o sol que cegava
e um dardo de sangue alastrava pelo linho da noite
os dias lentíssimos... sem ninguém

e nunca me disseram o nome daquele oceano
esperei sentada à porta... dantes escrevia cartas
punha-me a olhar a risca de mar ao fundo da rua
assim envelheci... acreditando que algum homem ao passar
se espantasse com a minha solidão
(anos mais tarde, recordo agora, cresceu-me uma pérola no coração. mas
estou só, muito só, não tenho a quem a deixar.)

um dia houve
que nunca mais avistei cidades crepusculares
e os barcos deixaram de fazer escala à minha porta
inclino-me de novo para o pano deste século
recomeço a bordar ou a dormir
tanto faz
sempre tive dúvidas que alguma vez me visite a felicidade

Al Berto

2008/02/21

MARCHA DA INDIGNAÇÃO






Até ao dia 8 de Março, dia da Marcha da Indignação dos Professores, proponho-me abordar os assuntos que sustentam tanta indignação.
Começo por um pequeno resumo da organização do sistema educativo português e das responsabilidades do poder local e central, perante as escolas.
Seguirei abordando o que se prevê para o próximo ano nesta matéria.



A responsabilidade actual das autarquias face à educação limita-se à Educação Pré-Escolar e ao 1º Ciclo do Ensino Básico.
Essa responsabilidade traduz-se na conservação e manutenção dos edifícios e equipamentos, na atribuição de verbas de expediente, limpeza, assinatura da linha telefónica e na ligação à Internet (só no 1º ciclo).
A gestão dos refeitórios, dos prolongamentos de horário nos Jardins-de-infância e os transportes para os alunos que deles necessitam, são assegurados pelos serviços municipais.
O pessoal não docente dos Jardins-de-infância passou a ser da competência dos municípios desde há “meia dúzia” de anos, mediante autorização de colocação do Ministério da Educação e correspondente transferência de verba.
O incentivo e apoio a projectos das escolas do 1º ciclo e Jardins-de-infância são assegurados pelas Câmaras, se essas forem as suas opções políticas em matéria de educação.

Em suma, para além do pessoal docente e parte do não docente, tudo o resto é da competência das autarquias.

As escolas dos 2º, 3º ciclos e secundárias são da inteira responsabilidade do Ministério.

2008/02/20

PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE LOURES APOIA A DECISÃO DO GOVERNO DE ENCERRAR CENTRO DE SAÚDE EM CAMARATE

Tal como seria de suspeitar, o Presidente da Câmara Municipal de Loures, Carlos Teixeira, escolheu a defesa do Governo em vez da defesa dos munícipes de Loures. Confrontado hoje, na reunião de Câmara, com uma proposta de posição da CDU, saiu em defesa da decisão do Governo, ignorando o profundo sentimento de indignação que se vive em Camarate com o anunciado encerramento.
Mais uma vez, revelou-se incapaz de perceber que lhe cabe em primeiro lugar a defesa intransigente dos habitantes, neste caso da freguesia de Camarate.
Hoje, os mais de 20 000 habitantes desta freguesia, passam a saber que deixaram de poder contar com o Presidente da sua Câmara Municipal na defesa dos seus interesses.
No passado sábado, numa reunião pública que encheu o Pavilhão do Águias de Camarate, os habitantes de Camarate rejeitaram unanimemente a anunciada decisão do Governo em encerrar o Centro de Saúde existente. Garantido que estava o apoio dos autarcas locais nessa recusa, houve mesmo apelos a que o Presidente da Câmara, que apesar de ter sido convidado não compareceu, fizesse o mesmo.
O Presidente foi insensível a esse apelo, prestando mais uma vez um mau serviço às populações que o elegeram.
ACTUALIZAÇÃO

PARA A COMPREENSÃO DO FENÓMENO DAS CHEIAS

A ocupação imponderada do território é um dos factores que mais tem contribuído para o agravamento de fenómenos como aqueles a que recentemente assistimos. As fragilidades do território desaconselham a ocupação de zonas baixas, leitos de ribeiras, mas também a impermeabilização excessiva de solos, facto este tão ponderoso seja numa zona baixa, seja numa vertente.
Loures possui alguns dos piores exemplos nesta matéria. Algumas das imagens das recentes cheias de 18 de Fevereiro, são da várzea, nomeadamente da zona do infantado, onde a expansão continua, subtraindo terrenos alagáveis e outrora agrícolas.
Neste contexto, publicamos duas reflexões sobre a Urbanização do Infantado, que nos foram remetidas por mail. Elas vêm datadas pelo autor.


Loures Shopping, Infantado, Loures

"Urbanização da Quinta do Infantado"

"Grandes negociatas permitem um dos maiores crimes urbanísticos e um atentado ao ambiente e à vida das populações de Loures."


"A urbanização da Quinta do Infantado foi tentada durante o regime fascista, pouco antes do 25 de Abril de 1974.

Para servir esses interesses a Junta Autónoma das Estradas previa a construção da Radial da Malveira (actual A8), que passaria às portas dos terrenos do Infantado e assim viabilizaria a urbanização com o aumento do valor dos terrenos que passariam a ser servidos por uma auto estrada para Lisboa. (A 5 minutos de Lisboa como se dizia nas campanhas publicitárias).

Após o 25 de Abril de 1974, as várias entidades responsáveis, governamentais e camarárias, verificaram a monstruosidade deste projecto e os graves problemas que iria acarretar para toda a região.
Tratava-se de criar mais um grande aglomerado (10 000 fogos e 35 000 habitantes) mais um dormitório na periferia, como já tinha acontecido com os que conhecemos às portas de Lisboa.

Infantado, cheias de 18 de Fevereiro 2008

Os problemas de trânsito iriam ser diariamente agravadas, os impactos nas infra-estruturas e equipamentos já insuficientes iriam prejudicar ainda mais a já precária qualidade de vida de Loures.

Terrenos agrícolas de alto valor eram inutilizados, zonas de cheia ocupadas, quer pela urbanização quer pela via rápida e seus acessos.

Apesar de ser prometida a construção da via rápida, esta deixaria de ser rápida, na entrada em Lisboa (Calçada de Carriche) já totalmente saturada.

Depois de analisados estes problemas, todas as entidades consultadas após o 25 de Abril foram unânimes em considerar tal projecto megalómano e de graves consequências para o concelho de Loures. Note-se que nessa altura estava já em curso na zona mais uma grande urbanização, a Cidade Nova, de igual dimensão.

O Concelho de Loures tinha em poucos anos triplicado de população (100000 habitantes em 1960 para cerca de 280 000 habitantes em 1975).


Infantado, cheias de 18 de Fevereiro 2008


Tais factos levaram a alterar os pareceres para o percurso da via rápida que deveria deixar de passar na Várzea de Loures e passar a meia encosta, servindo as populações já instaladas (e não os interesses especulativos das novas urbanizações) e causando menos problemas ambientais, sem inutilizar terrenos de alto valor agrícola e evitando a passagem em leito de cheias.

Em 1977 a Câmara de Loures, recentemente eleita, (maioria PS) tomou posição no sentido de alterar o traçado da via rápida para a Malveira. Este facto motivou desde logo grandes pressões do urbanizador (Sr. Arnaldo Dias) sobre os eleitos da Câmara o que levou a que algum tempo depois o Presidente da Câmara (Eng.º Riço Calado) viesse a alterar a sua posição e impusesse um parecer para a JAE retomar o traçado da via rápida pela várzea de Loures.

Estava então aberto o caminho para o grande negócio da urbanização da Quinta do Infantado.
A Radial da Malveira (A8) passando à porta dos terrenos da Quinta do Infantado garantia a sua viabilidade e a valorização especulativa dos terrenos.
Infantado, cheias de 18 de Fevereiro 2008
De imediato começaram a dar entrada na Câmara os projectos, que foram aprovados próximo das eleições de 16 de Dezembro de 1979.

A então APU (CDU) fez do exemplo da Quinta do Infantado a base da sua campanha contra as negociatas da especulação imobiliária, e contra a conivência do então presidente Eng.º Riço Calado.

A população do concelho vítima de situações idênticas em Odivelas, na Póvoa St.º Adrião, no Olival Basto, em St.º António dos Cavaleiros, em Sacavém, como em muitos outros locais, confirmou o repúdio por estas negociatas e derrotou o PS e o Engº Riço Calado.

Logo que souberam o resultado das eleições, entre o dia 17 de Dezembro de 1979 e o dia 28 de Dezembro os urbanizadores conseguiram o que nunca tinha sido visto. Foram obtidos os pareceres, feitas as informações, negociadas as condições do alvará e em reunião de Câmara expressamente convocada para o efeito, e, já com as eleições perdidas, aprovaram o alvará da urbanização.

Este expediente não resultou uma vez que se esqueceram de aprovar as actas e as deliberações não foram consideradas válidas quando a nova administração tomou posse em 2 de Janeiro de 1980.

O urbanizador não aceitou esta contrariedade e iniciou de imediato as obras de urbanização. O facto de a nova administração da Câmara CDU não ter a maioria absoluta impediu que fossem tomadas posições definitivas e o assunto foi sendo arrastado até que a maioria PS + PPD + CDS impôs a queda da Câmara em 1981. O urbanizador tentou entretanto aumentar o número de fogos de 10.000 para cerca de 11.500. No intervalo das eleições foi nomeada uma Comissão Administrativa para a CM Loures, com maioria PS, que logo tratou de aprovar os processos de urbanizações que estiveram retidos. As eleições intercalares de 1981 foram novamente dominadas por campanhas da CDU contra a especulação imobiliária e as negociatas que deram origem a novas urbanizações (Casal do Monte, Quinta do Conventinho, Quinta do Almirante e Quinta do Infantado, etc.).

Parque Verde junto ao Loures Shopping, Infantado, 18 de Fevereiro de 2008
Novamente o PS foi derrotado e a CDU alcançou uma maioria mais confortável aumentando o número de votos.

Mais uma vez a urbanização da Quinta do Infantado foi posta em causa. Contudo como entretanto tinha sido reaprovada e várias construções estavam já em estado avançado, a Câmara impôs que fosse completamente reformulado o projecto e o alvará da urbanização.

As condições foram reduzir o número de fogos para um máximo de cerca de 6000, não ocupar zonas abaixo da cota 10 (terrenos inundáveis) não ocupar terrenos agrícolas e ceder espaços para equipamento na base de cerca de 80 m2/fogo.

Em 1983 o Concelho de Loures foi gravemente atingido por cheias que se tornaram particularmente graves devido aos aterros feitos para a construção da Via Rápida. Infelizmente confirmou-se o erro de fazer passar a Via Rápida por dentro da Várzea, mas o serviço à especulação imobiliária fora mais forte.

O urbanizador arrastou a reformulação da urbanização até 1987, altura em que finalmente aceitou as condições impostas pela Câmara. Note-se que na altura a CDU tinha acabado por conquistar a maioria absoluta.

Estamos na final de 2002, e após 22 anos, o PS voltou a ganhar as eleições para a CM Loures. A memória das populações é fraca e foi esquecido o que foi feito (e o que não foi) no tempo do Presidente Eng. Riço Calado. O PS desta vez com a condescendência da CDU voltou a aprovar aquilo que até hoje tinha sido considerado como um dos maiores crimes urbanísticos do concelho de Loures e da região de Lisboa.

As notícias nos jornais e as declarações dos responsáveis a manifestar apreensão não conseguem esconder as cedências que fizeram contra os interesses das populações. "

Loures, 30 de Dezembro de 2002
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"As pressões do urbanizador para retomar o antigo projecto aprovado pelo PS/Riço Calado em 1979, não pararam. O que realmente é grave é que essas pressões tenham resultado e os “responsáveis” da Autarquia, tenham cedido e feito a vontade ao urbanizador prejudicando gravemente as populações. Foram aceites alterações que elevaram a área urbanizável de 63 para 127,86 ha, o número de fogos de 2700 para 6.615, e a área de construção de 380.000 para 946.000m2. Terrenos da Reserva Agrícola (RAN) e Reserva Ecológica (REN), foram desafectados para mais construção e para a grande superfície comercial. Aumentaram os índices de construção e de ocupação a ponto de na área acima da cota 10 já não haver possibilidade de cumprir as necessidades de espaços para equipamentos e cedências para zonas verdes.

Recentemente fomos confrontados com o novo alvará correspondente ao novo estudo de urbanização. Para além destes aumentos, foi alargada a área de intervenção ocupando áreas defendidas, áreas inundáveis, e chegando ao cúmulo de prever Zonas Verdes dentro de rotundas viárias, em zona inundável e equipamentos ocupando integralmente o interior dos quarteirões de prédios. A Escola Secundária ocupa parte do terreno defendido e inundável. Ainda iremos assistir aos pais das crianças irem buscar os filhos à Escola de barco.

Várzea de Loures junto ao Infantado, 18 de Fevereiro de 2008
As monstruosidades e crimes urbanísticos virão ainda a aumentar uma vez que, o alvará prevê novas ocupações, explicitando: “ As parcelas de RAN a ceder ao município poderão ser afectas a qualquer uso de interesse municipal ou equipamentos colectivos, mediante as autorizações necessárias das entidades com competência na matéria...”, A utilização de terreno agrícola e inundável para equipamentos, mesmo com autorização das entidades, numa grande área onde o que menos falta é o terreno para construção é inaceitável. Para tentar justificar o injustificável, ou seja a utilização do terreno agrícola cedido, o Alvará diz ainda que essas áreas “ poderão ser fruídas no seu uso legal quer pelo município directamente quer por título precário concedido a terceiros nomeadamente em regime de hortas urbanas...”. Isto é, no mínimo, criminoso e caricato.

Há muito que se sabe, e hoje é impossível continuar a esconder, que o aumento desenfreado da construção, na Área Metropolitana, acarretou grandes prejuízos para os habitantes desta região. Os estudos do PROT-AML, no seguimento de muitos outros, contêm dados insuspeitos. Aumento dos problemas de trânsito, défice de infra-estruturas e serviços públicos, favorecimento das condições para o aumento da insegurança, criminalidade, marginalidade, redução da qualidade de vida e ambiental.

Loures e agora também Odivelas, vão pagar caro este crescimento não sustentado. Dia a dia continuaremos a ver agravados os problemas ambientais, hídricos, das cheias, de trânsito em especial nos acessos a Loures e na Calçada de Carriche."

Loures, 20 de Janeiro de 2003

2008/02/19

A CULPA É DO CICLO DA ÁGUA, PÁ

Conjunto de videos sobre as cheias de final de setembro de 2007, encimados pela prestação televisiva do Presidente da Câmara Municipal de Loures.









E SE O PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DEMITISSE O SEU CUNHADO, CHEFE DE GABINETE


António Baldo é cunhado do Presidente da Câmara Municipal de Loures, aliás foi essa uma das "qualidades" evocadas pelo Presidente para a sua escolha. Parece que a afinidade familiar garantiria a confiança necessária para ocupar o lugar. Após as declarações feitas em nome da Protecção Civil de Loures no programa da RTP- "Depois do Adeus", logo em nome do Presidente da Câmara, o Sr. revelou-se de confiança, através da defesa da sua dama política, mas montrou-se pouco confiável no que respeita à defesa da segurança dos munícipes.

Perante tal prestação, espera-se um despacho da Presidência que exonere este Sr. das funções para as quais foi nomeado. Não deve continuar a ter relação com a proteção civil, não deve continuar a ser Chefe de Gabinete da Presidência do Município, mas claro que pode continuar a ser cunhado do Presidente.

APESAR DE SE TER CONSTRUÍDO UMA PONTE...




O Inverno é tempo de chuvas.
Estamos no Inverno, portanto é natural que chova.
As chuvas abundantes que provocam inundações são recorrentes em vários locais do nosso planeta e acolhidas por homens da terra como sinais de futura abundância.
Desde pequena que me lembro que a zona da lezíria de Loures se inunda no Inverno. Também as margens do Trancão, em Sacavém sofriam com a subida do leito do rio.
Recordo calamidades que o nosso concelho viveu, em 1967, em 1983. Prejuízos patrimoniais, famílias desalojadas das suas casas, comércios em dificuldades. Mas sobretudo a morte, a morte de pessoas, sempre os mais pobres e desprotegidos.
Nesse tempo pensei impossível a repetição da desgraça. Não a das chuvas, das inundações. Mas a da morte por causa de chover.
Pois, mas ontem, no ano de 2008, morreu um homem, sobrevivente de outras cheias, porque teve o azar de viver num concelho inundado. Num concelho que pretende atingir o milhão de habitantes, mesmo que para isso se ocupe o lugar da água.

Apesar de se ter construído uma ponte.

LOURES À DERIVA


Várzea de Loures

Estação Elevatória Sacavém

Praça da República, Sacavém, onde a água passou os 2 metros

Praça da República, Sacavém

Santo António dos Cavaleiros

Praça da República, Sacavém

Praça da República, Sacavém

Praça da República, Sacavém

Infantado, Loures

Acesso à A8, Loures

Parque da Cidade, Loures

Infantado, Loures


Ainda tenho os pés enlameados, desta vez as águas entraram-me pelo Palácio dentro. O piso térreo do Palácio dos Marqueses da Praia e Monforte, sede da Assembleia Municipal de Loures, ficou parcialmente destruído. As suas amplas vidraças não aguentaram a pressão da água e cederam. Da minha janela, para onde virasse o meu olhar só vislumbrava água, lama e destruição.
Simbólico foi ver a maqueta do concelho de Loures, que decora o átrio do edifício, a boiar, balanceada pela corrente da enxurrada.
Loures à deriva, foi o que se pode verificar ontem. Uma imagem terrível!
Domingo à noite na RTP, uma nova série de debates, da autoria de Maria Elisa, dedicava-se ao debate das fragilidades do território nacional no que respeita às cheias, evocando os acontecimentos de 1967 e 1983. Loures, um dos concelhos mais afectados em qualquer um destes acontecimentos, estava representado por António Baldo, como representante da Protecção Civil de Loures, também Chefe de Gabinete do Presidente da Câmara Municipal e seu cunhado. Da única vez que lhe foi dada a palavra, na sequência de uma referência feita por Pacheco Pereira em relação à fragilidade do Município, mais concretamente sobre a localização do parque de máquinas do Município numa zona sensível, o referido representante, em estilo arrogante, desvalorizava a preocupação e dava uma perspectiva de controlo do problema. Nesse mesmo instante a natureza preparava já o seu contraditório, enquanto falava, abatiam-se sobre Loures fortes aguaceiros. Os sistemas de drenagem começavam entrar em ruptura. As zonas baixas de Bucelas, Frielas, Sacavém, Loures, Camarate, e um pouco por todas as freguesias iniciavam o alagamento.
Esta negação da realidade é o fenómeno mais perigoso, e talvez aquele que mais agrava estas situações. O primeiro passo para a resolução de um problema e a assunção da sua existência e nunca sua negação (ler texto de Pacheco Pereira no Abrupto.

Tal como em Setembro passado, as ocorrências da madrugada de segunda-feira, ficam a dever-se em larga medida à excepcionalidade climatérica que se viveu. Contudo, tal excepcionalidade, cada vez mais frequente, logo menos excepcional, carece de medidas de prevenção cada vez mais eficazes.
Em Setembro, a baixa de Sacavém foi alagada pela ruptura do caneiro da Ribeira do Prior Velho, que a atravessa, a baixa cota do caneiro no seu troço final, associada à acumulação de detritos provenientes de montante estiveram na origem da ocorrência. Se bem que a chuva não se impede, menos verdade não deixa de ser que se impõem medidas no que respeita ao aumento da capacidade dos sistemas de drenagem e nos cuidados permanentes com a limpeza dos leitos das linhas de água. Por outro lado, num sistema tão frágil, qualquer pequena alteração territorial pode desencadear a ruptura. Novas impermeabilizações dos solos, que aumentam a escorrência à superfície e dificultam a infiltração no solo, devem ser automaticamente compensadas com o aumento da capacidade dos sistemas de drenagem. O movimento em relação ao leitos de cheia e das linhas de água deve ser no sentido da sua desocupação progressiva, do seu alargamento, criando zonas de descompressão e bacias retentoras, mesmo que essas estruturas só sejam necessárias quatro vezes num século.
Se em Setembro o Presidente da Câmara Municipal negou a existência do problema, culpando o Ciclo da Água, protagonizando um dos momentos mais patéticos da sua governação, ontem cavalgou no coro de críticas ao Ministro do Ambiente. Bem certo que parte das responsabilidades devem ser endereçadas a esse Ministério, mas tal não deve significar mais uma vez a responsabilidade do Município em relação às suas próprias responsabilidades próprias.
Em Loures continuam-se a licenciar construções em zonas baixas e encostas sem acautelar os efeitos posteriores. Mas pior, continua-se a negar a existência de uma fragilidade estrutural do território, facto que torna os negadores profundamente incapazes de desenvolver as acções necessárias à sua minoração.

A maqueta do concelho de Loures andou ontem à deriva no Parque da Cidade em Loures, do mesmo modo como a actual gestão municipal tem andado no tratamento deste problema.
As fotografias foram retiradas de várias sítios e blogues.

2008/02/16

AFINAL É APENAS ISTO!



Sinto muito, mas não pretendo ser um imperador. Não é esse o meu ofício. Não pretendo governar ou conquistar quem quer que seja. Gostaria de ajudar - se possível - judeus, o gentio... negros... brancos.Todos nós desejamos ajudar uns aos outros. Os seres humanos são assim. Desejamos viver para a felicidade do próximo - não para o seu infortúnio. Por que havemos de odiar e desprezar uns aos outros? Neste mundo há espaço para todos. A terra, que é boa e rica, pode prover a todas as nossas necessidades.O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos.
A cobiça envenenou a alma dos homens... levantou no mundo as muralhas do ódio... e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios. Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.A aviação e o rádio aproximaram-nos muito mais. A própria natureza dessas coisas é um apelo eloqüente à bondade do homem... um apelo à fraternidade universal... à união de todos nós. Neste mesmo instante a minha voz chega a milhares de pessoas pelo mundo afora... milhões de desesperados, homens, mulheres, criancinhas... vítimas de um sistema que tortura seres humanos e encarcera inocentes. Aos que me podem ouvir eu digo: "Não desespereis! A desgraça que tem caído sobre nós não é mais do que o produto da cobiça em agonia... da amargura de homens que temem o avanço do progresso humano.
Os homens que odeiam desaparecerão, os ditadores sucumbem e o poder que do povo arrebataram há de retornar ao povo. E assim, enquanto morrem homens, a liberdade nunca perecerá.Soldados! Não vos entregueis a esses brutais... que vos desprezam... que vos escravizam... que arregimentam as vossas vidas... que ditam os vossos atos, as vossas idéias e os vossos sentimentos! Que vos fazem marchar no mesmo passo, que vos submetem a uma alimentação regrada, que vos tratam como gado humano e que vos utilizam como bucha de canhão! Não sois máquina! Homens é que sois! E com o amor da humanidade em vossas almas! Não odieis! Só odeiam os que não se fazem amar... os que não se fazem amar e os inumanos!Soldados! Não batalheis pela escravidão! Lutai pela liberdade! No décimo sétimo capítulo de São Lucas está escrito que o Reino de Deus está dentro do homem - não de um só homem ou grupo de homens, mas dos homens todos! Está em vós! Vós, o povo, tendes o poder - o poder de criar máquinas.
O poder de criar felicidade! Vós, o povo, tendes o poder de tornar esta vida livre e bela... de faze-la uma aventura maravilhosa. Portanto - em nome da democracia - usemos desse poder, unamo-nos todos nós. Lutemos por um mundo novo... um mundo bom que a todos assegure o ensejo de trabalho, que dê futuro à mocidade e segurança à velhice.É pela promessa de tais coisas que desalmados têm subido ao poder. Mas, só mistificam! Não cumprem o que prometem. Jamais o cumprirão! Os ditadores liberam-se, porém escravizam o povo.
Lutemos agora para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais, dar fim à ganância, ao ódio e à prepotência.
Lutemos por um mundo de razão, um mundo em que a ciência e o progresso conduzam à ventura de todos nós.
Soldados, em nome da democracia, unamo-nos!
Hannah, estás me ouvindo? Onde te encontrares, levanta os olhos! Vês, Hannah? O sol vai rompendo as nuvens que se dispersam! Estamos saindo da treva para a luz! Vamos entrando num mundo novo - um mundo melhor, em que os homens estarão acima da cobiça, do ódio e da brutalidade. Ergue os olhos, Hannah! A alma do homem ganhou asas e afinal começa a voar. Voa para o arco-íris, para a luz da esperança. Ergue os olhos, Hannah! Ergue os olhos!Charles Chaplin

2008/02/15

RUA COM ELES


Imagem retirada do blog anterozóide


A propósito de fumar…
Hoje passei ao portão de uma escola.
E lá estavam eles. Os professores.
A fumarem ao portão.
Não seria bem menos prejudicial se continuassem a fumar na sala que lhes era reservada em cada escola, onde só entrava quem queria e que ficava longe dos olhares dos alunos?!

SMOKE IS BEAUTIFUL, DUAS ABORDAGENS AO VÍCIO





A mulher da tabacaria do filme Amarcord de Federico Fellini.

PILATOS




Pôncio Pilatos é uma das figuras mais marcantes dos evangelhos. Passou à memória colectiva como simbolo da hipocrisia e da falta de coragem para assumir a defesa da justiça. Foi Prefeito da província romana da Judeia e apesar do seu calculismo acabou por perder a confiança do Imperador romano, acabando por se suicidar.


Lavar as mãos como Pilatos, universalizou-se como adágio relativo à covardia nas suas múltiplas formas.




ALERTA




GOVERNO QUER ENCERRAR O CENTRO DE SAÚDE DE CAMARATE

De acordo com os dados constantes no sítio da Câmara Municipal de Loures, a freguesia de Camarate tem 18821 habitantes, dado que pecará por defeito, tendo em conta as características da população residente em mais de 20 bairros, os fracos índices de recenseamento eleitoral e de participação nos censos, este número superará os 20 000 residentes.
De entre as múltiplas carências desta freguesia no que respeita a equipamentos colectivos, a precariedade das instalações onde se encontra a funcionar há décadas a extensão de saúde local, sempre foi a que maior preocupação gerou nos habitantes e autarcas desta freguesia.
O "Posto Médico", como lhe chamam as pessoas, funciona nos 1º e 2º andares de um prédio de habitação no centro da vila, sem elevador. Perante tal situação, a unanimidade sobre a necessidade de construir um edifício em Camarate para albergar a Extensão do Centro de Saúde foi sempre um dado adquirido.
As promessas percorreram vários governos, ora do PS ora do PSD, mas a obra nunca foi feita. Há falta de melhor desculpa, alegava-se a falta de sítio para tal equipamento. Como o problema era por demais grave, a Câmara Municipal de Loures indicou, em 2000 (esta informação ainda consta na página da Câmara), um terreno no centro da vila. O local foi visitado pelos técnicos da ARS, que consideraram ter as características adequadas.

Já vão 8 anos e 3 governos sem que nada fosse feito.

Agora, sai da cartola a decisão do Governo de encerrar o actual Posto Médico em Camarate, não para o deslocar para melhores instalações em Camarate, mas para deslocar os utentes de Camarate para o novo Centro de saúde de Sacavém.
Esta inacreditável decisão coloca problemas a vários níveis. Em primeiro lugar é inaceitável que se ache legítimo fazer desaparecer de uma freguesia com cerca de 20 000 habitantes a extensão de saúde. Não só pela dimensão da freguesia em questão, mas sobretudo pelas suas características geográficas, urbanas e sociais. Camarate é a freguesia mais populosa de toda a zona oriental de Loures, com empreendimentos urbanísticos em curso que a farão crescer ainda mais em número de habitantes. A sua população encontra-se dispersa por mais de vinte bairros. Camarate é uma freguesia económica e socialmente deprimida, com grandes bolsas de pobreza e população trabalhadora das classes média e média-baixa. Tal decisão é antes de mais uma maldade. É uma maldade, que passados tantos anos sobre a identificação deste problema nada tenha sido feito para o resolver do único modo aceitável, a construção de um equipamento de saúde no centro da vila da Camarate. Em vez disso, a Administração Central apostou no agravamento da situação física e funcional do serviço prestado.

Perante a actual decisão só existe uma alternativa viável, a firme contestação e denúncia desta farsa.A solução encontrada não serve a população de Camarate, ficando muito longe da solução que lhe é devida. Esta solução viola todas as promessas feitas até hoje e lesa as fundadas e legítimas expectativas dos habitantes de Camarate. Por outro lado, levantam-se outros problemas, com a deslocação dos quase 20 000 utentes de Camarate para o Centro de Saúde de Sacavém. O novo Centro de Saúde de Sacavém foi concebido para satisfazer as necessidades da freguesia de Sacavém (que tem menos utentes do que Camarate), mas também para acolher um serviço CATUS, que viria colmatar a falha deixada pelo encerramento do CATUS do Prior Velho. A solução proposta inviabiliza a instalação deste serviço, na medida em que as instalações destinadas a esse fim serão ocupadas pelos serviços provenientes de Camarate. Os habitantes de Camarate perdem a proximidade ao seu serviço de saúde e as freguesias de Camarate, Apelação, Unhos e Sacavém, perdem a possibilidade de um CATUS próximo de sí. Esta medida, lesa globalmente todos os habitantes das zonas limítrofes de Sacavém, incluindo os habitantes das restantes freguesias da zona oriental, que continuarão a ter o CATUS de Moscavide saturado. Esta solução não serve ninguém!

Como já referi anteriormente, a construção de um novo Centro de Saúde em Camarate foi durante muito tempo a solução defendida pela Câmara Municipal de Loures, que chegou a indicar uma localização para o mesmo. Neste momento onde está a Câmara Municipal? Que posição tomará o Presidente da Câmara perante mais esta malfeitoria cometida contra os interesses dos munícipes de Loures? Para mal de Loures, estará a preparar-se para justificar o injustificável. Prepara-se mais uma vez para tomar a defesa das más opções do Governo, em vez da defesa dos interesses do Município e dos munícipes.