Não sei se existe o Zé Calanga, morador na Quinta do Mocho. Com esse nome, mas com K, conheço o jogador angolano. É médio direito da Selecção Nacional de Angola. A existirem ambos, o primeiro e o segundo não serão seguramente a mesma pessoa. Um joga futebol em Angola, o outro morará na Quinta do Mocho e assinou recentemente uma petição online a solicitar que o Eng.º Demétrio Alves fosse candidato à Presidência da Câmara Municipal de Loures. Até aqui nada de assinalável, existem muitas marias na terra, assim como calangas.
A situação do Município de Loures é de facto, tal como se lê nos considerandos da petição, francamente preocupante. “O Concelho de Loures, hoje mais pequeno do que aquele que dirigiu, está sem rumo e sem esperança. Perdeu-se o exemplo que Loures era no país. Na educação, na cultura, no desenvolvimento económico, no desporto, nos Bombeiros, na reflorestação, no Projecto Trancão. Perdeu-se o orgulho de viver num Concelho que perde identidade e não sabe para onde vai. Constrói-se, constrói-se, constrói-se, não se sabe para quê, nem para quem. Armazéns nascem como cogumelos, atafulham-se as estradas de camiões, o Hospital voltou a ser uma miragem, o metropolitano um sonho, o eléctrico rápido uma utopia, fecham os centros de saúde, as esquadras, as escolas, tudo é deslocalizado de Loures.”
Comungamos, eu e o autor da petição, em todos os considerandos. Mas por isso não posso concordar com a conclusão. Não pelo objectivo em si, a candidatura do Eng.º Demétrio Alves à Câmara Municipal, mas pelo meio escolhido.
A alternativa séria, competente e interessada começa pela oposição e pela denúncia das actuais políticas municipais e do que elas pesam na degradação da qualidade de vida dos habitantes do Concelho de Loures. No âmbito dessa oposição, devem ser definidas politicas alternativas que sejam o programa mobilizador das pessoas, que as leve a associar-se a um movimento de mudança. Neste processo serão encontradas as melhores alternativas para protagonizar esse projecto político de mudança. Se for o Eng.º Demétrio Alves, que seja ele.
Assinar esta petição, é, não só construir a casa pelo telhado, como não ser rigoroso na análise do que foi a Presidência do Eng.º Demétrio Alves, em Loures. Faço também eu um juízo positivo dos anos em que foi Presidente da Câmara, ele, a sua equipa, o Partido que os apoiava e o programa que desenvolveram qualificaram o município. Na cultura, no ambiente, no urbanismo, nas acessibilidades, na economia e no peso e respeito institucionais esses foram tempos assinaláveis para Loures, tornando-o numa referência. Reeditar esses tempos é necessário, mas não se fará com a facilidade apontada na petição. O Calanga acreditará que com essa facilidade se fará, resolveu o seu dilema e paziguou a sua consciência, eu não.
6 comentários:
Sem dúvida que os Zé Calangas, ora promotores, ora subscritores, da dita petição, têm um dilema e, inequívocamente, podem estar a começar a casa pelo telhado. Contudo, têm já um mérito: há quem comece a pensar no assunto e há também quem comece a debater o assunto. Mas há uma outra coisa que emerge neste artigo de opinião e que será, talvez, um trilema do seu autor: 1. O autor admite que o Eng. Demétrio Alves poderia ser uma solução; 2. Mas também acha que se calhar pode não ser a solução; 3. Como não se decide, fica com a consciência inapaziguada.
Por mim, antes Zé Calanga, que coisa nenhuma, por isso me associei, embora com reservas em relação aos seus resultados práticos.
Mas perece-me que já posso ficar mais satisfeito. Está a funcionar e é uma pedrada no pântano em que está este Concelho e a discussão do seu futuro.
Já agora, porque me escapou e é imperdoável, parabéns Sr. António V. Silva. Já conseguiu o que muitos desejavam e não foram capazes: fazer discutir o que é preciso discutir! Mantenha e amplie a sua iniciativa, pode ser que seja possível construir a alternativa que diz desejar.
Não ficará a consciência inapaziguada, nem existe o trilema da anedota... Pode bem ser que o Eng.º Demétrio Alves seja uma opção válida. Admito-o sem reservas prévias. Mas muito claramente digo que, num partido que vive assombrado... um espectro tem pairado sobre o comunismo, o espectro do abaixo-assinado,,, esta iniciativa pode ser contraproducente. Apenas isso. Se existisse um candidato que eu não gostasse ou não quisesse, no contexto que é este e não outro qualquer, lançava-o num abaixo-assinado.
António Câmara e Sousa
Confesso que me despertam muito interesse todas as questões que fazem de nós o povo escolhido para a construção do V Império. Gosto das manhãs de nevoeiro e o sol radioso de Ourique deslumbra-me.
Desde Bandarra a Padre António Vieira, de cujo messianismo alguns se aproveitaram em épocas escuras que, em momentos de desassossego, procuramos encontrar alguém com características sebastianícas, que nos salve do marasmo.
Não me parece que seja por aí o caminho, com todo o respeito e admiração pelo eng. Demétrio Alves.
Neste concelho a oposição é o que é. Mas é difícil sê-lo quando a participação nas poucas acções que se promovem é cada vez mais reduzida. Que tal mais acção para além de colocar o nome num qualquer abaixo assinado, no aconchego do lar, em frente a um qualquer computador no intervalo do futebol?
Talvez o nome surja depois ou durante...
Um abraço
Maria CC
Vê-se que o amigo não percebe nada de futebol. O Kalanga joga na Europa. Quanto ao resto, subescrevo.
Um pequeno grão de areia, contaminado embora de imperfeições, pode gerar no interior de uma ostra selvagem, a mais bonita e inesperada pérola.
Os tempos que correm, difíceis, vorazes, mas exaltantes e prenhes de potencialidades, poderão exigir soluções inesperadas, e menos normalizadas. O Demétrio Alves,estamos certos, saberá contribuir, da melhor forma para, aceitando ou não o desafio que o Kalanga lançou, ajudar a encontrarmos,em comunidade de interesses, um novo futuro em Loures. O HORTELÃO ACIDENTAL
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