2008/04/19

SOMBRAS CHINESAS



"Pi Ying, é um espectáculo de sombras. As figuras, os cenários e os acessórios do espectáculo são feitos de couro de burro ou boi. Para fazer o espectáculo, usam-se um tecido de seda branco como pano em frente, e lâmpadas atrás do pano; os apresentadores manipulam as figuras, os cenários e os acessórios atrás do pano, falando e cantando, acompanhados com música. São as sombras no pano que contam a história. Esta forma de entretenimento surgiu na Dinastia Song do Norte (960 - 1127)."





"Há dias um blog veiculava em termos oficiosos (sob anonimato) a opinião oficial da CDU (redigida por alguns dos seus autarcas) sobre a intervenção do Partido Social Democrata, relacionada com as últimas cheias em Loures, o que lhes causaria algum incómodo.
Alegadamente, as minhas posições críticas em relação à inoperância da maioria socialista confundiriam os eleitores, em virtude de alguns representantes do PSD na Assembleia Municipal defenderem de forma mais “acalorada e veemente” o executivo municipal. Logo, estaríamos na presença de um “embuste”.
Esta ideia é reveladora de um profundo desnorte nos criativos tácticos da CDU. Não entenderam que tal como uma árvore não se confunde com a floresta, também as intervenções infelizes de dois ou três elementos não corporizam a mensagem política do PSD, não são representativas dos seus órgãos políticos e não apagam a virtude das propostas apresentadas no executivo municipal. Logo, o argumento não colhe, mesmo sabendo eu e os eleitores que é a contagem decrescente para as eleições autárquicas que motiva esta mal ensaiada tentativa de estabelecer a confusão. Confusão que no limite até lhes poderia ser útil. Não foi a CDU que promoveu uma campanha, em jeito de balanço, sobre “os seis anos de má memória” da gestão socialista? E que na prática são quatro, pois os dois primeiros foram-no em gestão partilhada PS/CDU?
Por outro lado, também é caricato que a CDU tente agora, tardiamente, cavalgar a onda de descontentamento das vítimas das cheias apresentando propostas similares às que eu propus em tempo útil e que, entretanto, rejeitaram ou não viabilizaram. Em Outubro de 2007 votaram contra a possibilidade de reduzir o Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI) na área afectada pela penúltima cheia, em Sacavém. E em Fevereiro de 2008 optaram pela abstenção na proposta que preconizava a criação urgente de um grupo de trabalho para avaliação do plano de emergência municipal e do impacto das cheias e o estabelecimento de cooperação institucional com o Ministro do Ambiente e o Instituto da Água (INAG), alegando que tal decorria de aproveitamento político…Como no teatro de sombras nem tudo o que parece é!"


Texto do Vereador Paulo Guedes da Silva, retirado daqui.


Recentemente publiquei no Palácio um texto sobre as posições políticas do PSD. O mote fora uma entrevista dada pelo Vereador Paulo Guedes da Silva à RTP 1. Grosso modo, o texto referia a diferença entre as posições políticas defendidas pelo Vereador em questão e a postura do Partido que integra.
Cabe-me antes de mais voltar a referir, aquilo que à saciedade já referi neste blogue, as ideias, todas, incluindo as políticas, não são exclusivas dos partidos ou dos seus militantes, qualquer cidadão pode ter a veleidade de opinar politicamente, sendo que essas opiniões podem coincidir ou não com a opinião deste ou daquele partido. O Palácio é uma aventura, partilhada neste momento por vários colaboradores, todos eles com diferentes posturas e convicções políticas. As opiniões aqui expressas vinculam única e exclusivamente os seus autores. O Palácio não tem a pretensão de se assumir como veículo oficioso do que quer que seja, ou de quem quer que seja. Deste ponto de vista é um exercício individual de liberdade.

Posto isto, voltemos ao texto em apreço. Diz o Sr. Vereador que “as intervenções infelizes de dois ou três elementos não corporizam a mensagem política do PSD, não são representativas dos seus órgãos políticos e não apagam a virtude das propostas apresentadas no executivo municipal.”. Seria verdadeira esta afirmação, se a infelicidade dessas intervenções não tivesse a força aritmética e funcional de se impor como a posição política de facto maioritária do PSD nos órgãos municipais. Essas infelizes intervenções garantem neste momento uma confortável maioria ao PS na Câmara Municipal e ainda servem de guarda avançada na Assembleia Municipal. A confusão instalada, ao ponto de propostas apresentadas na Assembleia Municipal em nome do PSD, escritas em papel timbrado, serem enjeitadas, pior que rejeitadas por eleitos, também do PSD, é responsabilidade desse partido.

Pouco me importa quem neste momento é a facção dissidente, sei quem é facção determinante. E essa é a que tem força e representação suficiente para suportar o PS e rejeitar as propostas do Vereador Paulo Guedes da Silva. Não o devia incomodar tanto a falta de apoio da CDU às suas propostas, quando nem o seu próprio partido as apoiou, seja na Câmara Municipal de Loures, seja na Assembleia Municipal. Esse facto é que era merecedor de umas palavras suas.

Por fim, o problema dos acordos políticos merece uma referência específica. No mandato passado, a CDU estabeleceu um acordo de gestão com o PS. Esse acordo durou cerca de 2 anos, sendo unilateralmente rompido pelo PS mediante a retirada dos pelouros distribuídos a vereadores da CDU. O acordo estabelecido era claro e público. Nesse acordo a CDU estabelecia condições claras; a manutenção do Protocolo de Descentralização de Competências, a manutenção da natureza pública dos serviços, a estabilização do quadro de pessoal, liberdade para o desenvolvimento de políticas próprias nas áreas que lhe estavam adstritas e a consulta prévia na elaboração dos planos de actividades e restantes documentos de gestão. O PS obteria a estabilidade política para desenvolver as suas políticas e a CDU ganhava um peso de aferição e influência políticas. Um acordo estabelecido com estes contornos permite não só a real partilha de responsabilidades políticas, como permite a aferição das responsabilidades de gestão.

Lembrar-se-á bem do desfecho desta história. Quase a meio do mandato, o PS estava farto deste “espartilho” e queria ficar mais “à vontade”. Rompeu o acordo. Pensei na altura que daí em diante governaria à vista, tentando dobrar o Bojador. Nada disso! Obteve o benefício de uma “dissidência” do PSD. O Vereador António Teixeira, eleito pelo PSD, assumiu o papel de moleta do PS até ao fim do mandato. Fê-lo do modo como estas coisas podem ser feitas, ora faltava, ora chegava mais tarde, ora saía mais cedo, ora se abstinha, seja como for, lá foi garantindo a maioria deliberativa nas reuniões do executivo ao PS.
Neste mandato, o PSD celebrou um acordo de gestão com o PS. Pelos vistos nem todo o PSD, um bocado do PSD, mas que se arroga de ser todo o PSD. Sabe alguém hoje que acordo é esse? Quais são as suas premissas políticas?
Daqui resulta o embuste político referido. Não me referia à qualidade da intervenção do Vereador ou das suas propostas, cuja minha opinião é clara, mas sim ao facto dessa intervenção não ser neste momento, por muito que custe ao Vereador, a do PSD. Como no teatro de sombras chinesas, nem sempre o que se quer fazer parecer, é aquilo que realmente existe!

3 comentários:

Anónimo disse...

Temos que ser compreensivos. A dor da CDU, é que ao que parece, o facto do tal vereador que fala, fazer mais e melhor oposição ao PS

Anónimo disse...

"Gaba-te cesta, que vais à vindima..." Já era tempo de alguém afagar o ego ao homem, já que nos últimos tempos teve quase a levar umas porradas dos seus companheiros de partido. Esta porrada não é em sentido figurado!

Anónimo disse...

Como é que o Vereador Guedes da Silva consegue convencer alguém a depositar novamente o seu voto no PSD depois de confusão instalada. O PSD não controla os seus eleitos. Chegados ao poder cada qual desenvolve a estratégia que pessoalmente mais lhe convem. Foi assim com o vereador António Teixeira e é assim com o vereador Galhardas.
Votar no PSD de Loures é sempre um tiro no escuro, nunca se sabe o que vem a seguir.
É degradante a imagem de querela interna. Na última Assembleia Municipal destrataram-se mutuamente e chegou a ameaças de bofetada à porta do edifício.