2008/04/28

A DESQUALIFICAÇÃO DO TERRITÓRIO




O Governo anunciou hoje, com grande festival multimédia, o projecto Nova Alcântara, continuando a colocar a requalificação da frente ribeirinha da cidade de Lisboa na agenda pública. Lisboa, não ignorando a importância que as estruturas portuárias têm para a cidade, tem tentado desafectar todas as áreas possiveis dessa utilização, devolvendo-as ao usufruto da comunidade e reforçando a ligação da cidade ao Tejo. Essa reconversão foi bem conseguida na intervenção da Expo 98, na frente ribeirinha entre Alcântara e Belém e nas recentes intervenções entre o Terreiro do Paço e o Cais do Sodré.
As localidades ribeirinhas vão-se apercebendo da mais-valia económica da sua ligação às frentes de rio na promoção de valores ambientais, turísticos e identitários.

Se em vários lugares assistimos a este movimento, em Loures circula-se em contra-mão. Durante décadas a ligação das suas freguesias ribeirinhas ao rio esteve hipotecada pela existência de um denso tecido industrial, que se estendia de Sacavém até Vila Franca de Xira. A progressiva desactivação dessas empresas criou novas perspectivas de gestão e ocupação desse território. O desafio que se colocava era o da requalificação ambiental da frente ribeirinha e ao mesmo tempo criação de novos pólos de desenvolvimento económico de novo tipo, que ocupasse a vacatura deixada pelo fim das actividades industriais tradicionais. A estratégia parecia clara. Atrair actividades de maior valor acrescentado e pouco impacto ambiental. A interligação desse espaço com os núcleos urbanos existentes, deslocando para lá equipamentos e criando espaços de fruição colectiva.
A Plataforma Logística da Bobadela veio hipotecar essa requalificação. Hoje, quem circular pela EN 10 ou pelo IC é confrontado com uma muralha contínua de contentores e parques logísticos que ocupam a frente ribeirinha de Bobadela, São João da Talha e Santa Iria de Azóia. Esta nova barreira, que se está a criar, mantém muitos dos problemas das antigas ocupações, sem o benefício do emprego. Ao contrário da antiga cintura industrial, profundamente importante para as comunidades vizinhas. Esta nova ocupação não traz quaisquer benefícios.
O Município de Loures não se pode alhear deste problema e o Governo, que tão pomposamente tem defendido a qualificação do território quando anuncia projectos em Lisboa, não pode promover o seu oposto logo ao lado.

1 comentário:

Anónimo disse...

Pois! A perspectiva que transmite no seu texto em relação à frente ribeirinha do município de Loures é justamente a mesma que tenho em relação a Lisboa.
De uma vez por todas as coisas têm de ser vistas e ponderadas em relação à área metropolitana. Senão, como ouvi ontem num seminário, cada concelho quer ter o seu hospital central.

Deixo aqui também o meu obrigado pelo seu comentário no meu blogue