2008/07/25

ÓPERA, MÚSICA PARA OPERÁRIOS, MAS NÃO SÓ...




"Em conferência de imprensa de apresentação do programa da Festa do "Avante!" 2008, Ruben Carvalho afirmou que esta oferecerá aos seus visitantes um vasto, rico e diversificado programa de espectáculos com a tradicional qualidade e transversalidade, que decorrerão nos vários Palcos da Festa, dos quais destacamos, para além da presença da música portuguesa e das presenças estrangeiras, a Grande Gala de Ópera que abrirá o Palco 25 de Abril na noite de sexta-feira. "


Espectáculos

Apontamentos sobre os espectáculos na Festa do «Avante!» 2008

"Entre as numerosas polémicas que ao longo de anos e anos atravessam a história e a crítica da música, conta-se a discutível análise de Wagner sobre a obra de Beethoven, defendendo que a evolução das nove sinfonias que constituem parte fulcral da música europeia correspondiam a um processo de apuramento de construção formal que conduzira Beethoven a reconhecer a voz humana como o paradigma final de criação sonora. Os majestosos edifícios sonoros crescentemente mais complexos das nove sinfonias beethovanianas teriam conduzido o compositor à progressiva complexidade da composição até, ao atingir a sua última obra, a IX Sinfonia, nela ter finalmente integrado lado a lado com a riqueza orquestral a multiplicidade dos timbres da voz humana com coro e solistas a darem outra forma aos versos de Schiller no «Hino à Alegria» - segundo muitos e convincentes investigadores efectivamente um Hino à Liberdade, de nome alterado pelas imposições censórias da época…
A velha polémica wagneriana surge inevitavelmente quando, após ter marcado uma viragem reconhecida nos grandes festivais de ar livre em Portugal ao introduzir na sua programação uma orquestra sinfónica em 1994 exactamente com uma sinfonia de Beethoven – a 7ª, interpretada pela Orquestra Metropolitana de Lisboa, dirigida por Miguel Graça Moura – a Festa dá este ano novo passo trazendo ao maior palco português uma programação que inclui das mais complexas e apaixonantes expressões musicais: a ópera. O público habitual das sextas-feiras de Atalaia recorda naturalmente o êxito conquistado em 1995 com o espectáculo da Metropolitana pela primeira vez no Palco «25 de Abril», interpretando obras de Tchaikowsky, com destaque para a sempre espectacular Abertura 1812: na realidade, fora a experiência realizada no ano anterior no Auditório «1º de Maio» com a mesma formação e uma programação baseada em Beethoven e que encerrava com a 7ª que abriu caminho a criarem-se as complexas condições técnicas para o ciclo aberto em 95.

Depois disso, passaram pelo palco «25 de Abril» Gerswhin e Shostakovich, Lopes-Graça e Haendel, Bach e Leonard Bernstein, Benjamim Britten e Bartok – e Beethoven! Quando se realizou a 25ª Festa, a programação correu o risco que o público entusiasticamente saudou de trazer exactamente – a IX Sinfonia de Beethoven! Já lá vão portanto mais de seis anos que a Festa apresentou o panorama integral das sonoridades da música erudita, do completo naipe de instrumentos sinfónicos à voz humana a solo e em coro.
Mas faltava, de facto, a ópera! A junção, como tão bem a definiu Lopes-Graça, de todas as artes cénicas, do teatro à música, da dança à riqueza da encenação. As dificuldades a enfrentar eram conhecidas: a ópera tem exigências quando apresentada como uma peça integral que requerem situações especiais: a existência de uma estrutura narrativa dada por um libreto cantado e declamado, a necessária expressividade dramática a conceder ao enredo, a importância expressiva das encenações e dos cenários associaram a ópera ao recinto teatral fechado, com todas as suas capacidades e exigências técnicas e acústicas. Desta condicionante, mas do desejo de proporcionar a mais vastas audiências as criações operáticas – na composição e sobretudo na interpretação, crescentemente importante – levaram ao surgimento da Gala de Ópera, no fundo uma espécie de antologia de grandes momentos musicais das composições, prescindindo do enredo dramático e das suas exigências cénicas para valorizar sobretudo os momentos musicais – árias, aberturas, coros – que autores e público elegeram como momentos estruturantes e especialmente estimados.

As evoluções tecnológicas na captação e amplificação sonora tornaram crescentemente possível trazer aos grandes palcos de massas a riqueza interpretativa das grandes vozes e as suas combinações com grandes massas orquestrais: a Gala de Ópera é hoje possível ao ar livre, ao mesmo tempo que as últimas décadas transformaram completamente o panorama musical português vendo surgir intérpretes de uma qualidade e de uma apaixonada entrega à sua arte.D e Rossini a Verdi, de Mozart a Bizet, o número de convidados da música clássica no Palco «25 de Abril» da Festa do «Avante!» cresceu este ano como nunca."
Quando já aqui tanto se falou sobre os gostos populares em relação às ofertas culturais, a Festa do Avante continua a manter a mesma filosofia face a essa questão.
As pessoas merecem sempre o melhor!

Vamos à Ópera!

9 comentários:

Clube Europeu ESJAL disse...

Muito bom post. Parabéns!

Anónimo disse...

INTELECTUALISMOS DE ESQUERDA! EU CÁ GOSTO É DO PESSOAL DAS FARC E DO CARACOL SALOIO EM LOURES!

O MARQUÊS DA PRAIA E MONFORTE disse...

Caríssimo

Pois eu, acho piada à ópera, à música clássica, gosto de caracois, não aprecio saloios, nem morro de amores pelas FARC!

O Marquês

Anónimo disse...

em suma, não aparecia aqueles que o elegeram....olhe que se eles descobrem que não os aprecia......

O MARQUÊS DA PRAIA E MONFORTE disse...

Caríssimo

Cabe um esclarecimento exegético;"(...)não aprecio saloios,(...)" é diferente de "não aprecio os saloios", tendo eu utilizado a primeira forma.
Na primeira frase, "saloios" é um adjectivo, na segunda é um substantivo, que não utilizei.
Seja como for, o meu título é hereditário.

O Marquês

Anónimo disse...

não creio mas..... já agora, e mudando de assunto, o freitas já deu sopa nos andrades e no "artista" do presidente do conselho de justiça do fpf e só faltou chamar-lhe vigaro com todas as letras. seria interessante um post sobre este problema mas deixo à sua consideração. se calhar este blog é literado demais para albergar um post de natureza tão bélica!

O MARQUÊS DA PRAIA E MONFORTE disse...

Caríssimo

O Palácio é um rio de grande amplitude, pelo que pode muito bem versar sobre futebol e quejandos, contundo não é um tema sobre o qual, os contribuidores regulares se debrucem.
Se quiser fazer as honras de propor um texto sobre o assunto, o Palácio dar-lhe-á espaço.

Cumprimentos

O Marquês

antoniocamaraesousa@sapo.pt

Anónimo disse...

hummm já trocam endereços de mail, não tarda nada estão ao telefone e mais dia menos dia o anónimo (ex-anti-Marquês) é convidado para gerir a companhia teatral do Palácio.

Anónimo disse...

A flexibilidade e polivalência são caractristicas do ser humano, ou melhor, falando por mim, que eu tenho. Aquilo que me move não são os partidos nem os ideais politicos de um qualquer politico. São as ideias. Eu penso pela minha cabeça ao contrário de muita gente. Para muitos a democracia não passa de um conjunto de pessoas a fazerem aquilo que um determinado politico pensa. Eu não estou nesse conjunto. Sou um cidadão livre. Do sugerir um tema para debate até á colagem a um determinado pensamento ou campanha de um blogue vai uma grande, enorme, distância! O caríssimo das 15h38 acredita em fantasmas?