2008/02/08

1808




O Governo e o Rei estão a meio do Atlântico, deixaram a Europa dia 10 de Fevereiro, em fuga, ou, de acordo com outras perspectivas, pondo em prática uma estratégia de manutenção da independência nacional. Dirigem-se ao Brasil. As forças francesas ocupam e controlam o território nacional. Os ocupantes trazem a liberdade na ponta da baioneta. É para mim um momento de indecisão. Talvez seja hora de voltar? Lá para 7 de Março as elites portuguesas voltam a por pé em terra firme, ainda que do outro lado do Atlântico, voltarão a governar.

É um momento sublime para Portugal e para o Brasil. Durante quase dois meses, neste ano de 1808, as elites governativas portuguesas estão de quarentena a meio do vasto mar. Já não governam em Lisboa, nem a partir de Lisboa, e ainda não governam no Rio de Janeiro, nem a partir do Rio de Janeiro.

Dia 7 de Março, será o primeiro dia do futuro do Brasil. Que Deus os ajude! Pés no Brasil, procura-se cama e mesa, apresentam-se cumprimentos, apreciam-se as vistas... Dia 1 de Maio, declara-se oficialmente guerra à França que nos ocupara, já lá vão três meses!

Este pequeno texto de introdução serve em primeiro lugar para dizer, - Olá, estou de volta. A ausência foi prolongada e total. Quase três meses sem passar as ombreiras deste Palácio, nem sequer uma breve espreitadela por cima dos muros. Foi de tal modo longa a ausência, que me sinto a entrar em casa alheia. Está quase tudo na mesma. O Palácio está habitável e é frequentado, e vejo que a minha afilhada, francesa mas não invasora, soube fazer a sua manutenção. Publicamente, deixo-lhe uma palavra de agradecimento pela sua regularidade e qualidade. Quase que me sinto impelido a pedir-lhe licença para voltar a entrar.

Em segundo lugar, o pequeno texto introdutório serve também para um conselho literário. 1808 de Laurentino Gomes, é um livro sobre a “fuga da família real portuguesa para o Rio de Janeiro, um dos momentos mais apaixonantes e revolucionários do Brasil, de Portugal e do mundo. Guerras napoleónicas, revoluções republicanas, escravidão formaram o caldo no qual se deu a mudança da corte portuguesa e sua instalação no Brasil. O propósito deste livro, resultado de dez anos de investigação jornalística, é resgatar e contar de forma acessível a história da corte portuguesa no Brasil e tentar devolver seus protagonistas à dimensão mais correcta possível dos papéis que desempenharam."

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