2007/07/18

SÃO OS ESPANHÓIS, SÃO OS ESPANHOLITOS, SÃO OS CARACÓS, SÃO OS CARACOLITOS




“Devíamos ser espanhóis” Esta frase pode ouvir-se com grande frequência, no final de uma conversa, na qual dois ou mais portugueses carpem as mágoas disto ou daquilo que é mau ou funciona mal. Basicamente a frase poder-se-ia substituir por: “Devíamos ter melhores ordenados, regalias e etc.” Na prática o que se pretende dizer é que gostaríamos de ter o mesmo que o vizinho, dentro do espírito do adágio popular de que a galinha da vizinha é sempre melhor do que a minha. Mas sendo assim, deveríamos que ser franceses, ou ingleses, que sempre ganharíamos mais. Mas não insistimos em ser espanhóis.
Por outro lado, os mesmos portugueses continuam a ter como referências heróicas os personagens históricos que inviabilizaram esse desejo; Afonso Henriques, a mítica padeira de Aljubarrota, etc… Em bom rigor de ser portugueses e de terem constantemente um pretexto para renegarem essa condição. Mas em boa verdade preocupam-se pouco com esse assunto, aliás como os povos sempre pouco se importaram com tal. As nações são realidades bastante recentes, fruto da Revolução Francesa. O recrudescimentos dos sentimentos nacionalistas, colectivamente aceites e partilhados, têm na Europa, pouco mais de 200 anos. Até lá, os servos pouco se preocupavam ou podiam intervir nas delimitações de fronteiras e domínios, que não eram seus, mas sim dos seus senhores. Nesse tempo, esses mesmos senhores, dividiam, ocupavam, ofereciam como dotes, parcelas dos seus domínios, sem que ninguém os acusasse de estarem a vender ou a malbaratar o solo pátrio. Conceito muito moderno. Jogavam com frequência a “independência” dos seus povos na roleta russa dos casamentos, acordos e alianças. Hoje somos portugueses, porque o contexto e os resultados dessa trama infindável de interesses dos senhores, reis e papas assim o determinaram.
Não obstante, fomos lá cimentando essa identidade e, mais por oposição do que por afinidade, fomo-nos integrado e separando dos outros iguais logo do lado de lá da linha imaginária que é a fronteira. Nisso se jogou grande parte da nossa relação com os restantes povos ibéricos, ou hispânicos. Em especial, a resistência ao ímpeto imperialista dos senhores de Castela, empurrou-nos ao longo dos séculos para alianças de oposição, como a centenária aliança como Inglaterra, cujos efeitos históricos são bem conhecidos.
A união da península foi sendo assim inviabilizada por interesses muito distantes dos interesses dos povos que a ocupam. A união dos povos, que a seu tempo não se consumou, cavou diferenças bem exploradas entre eles. Hoje, o iberismo saudável existe exclusivamente nos meios intelectuais, filosóficos e literários. Inserem-se neste quadro as declarações de José Saramago, assim como as posições assumidas por Eduardo Lourenço. No pensamento de ambos o conceito assume um carácter utópico e reflexivo. O conceito é, no pensamento de ambos, um exercício intelectual válido e interessante. Este conceito tem raízes profundas na tradição cultural dos dois lados da fronteira, tais como os catalães Joan Maragall e Víctor Balaguer, o basco-salmantino Miguel de Unamuno, o canário, León y Castillo, e os portugueses Oliveira Martins, Magalhães Lima, Guerra Junqueiro, Antero de Quental e Teófilo Braga.
A reacção que normalmente suscita vem revestida de um manto de hipocrisia, que o tornam ainda mais pertinente.
Este conceito é cultural, todas as restantes dimensões, a política, a económica e mesmo a geográfica, são nele subsidiárias e mesmo despiciendas. Não é delas que ele trata, mas é sobre estas que a critica incide.
As críticas a Saramago são bastante hipócritas, vindas de uma elite que tem negociado amiúde a transferência de soberania política para as instâncias europeias, o têm feito nas costas dos povos. São ainda mas descabidas, quando o iberismo, o europeísmo e o internacionalismo dos interesses económicos está plenamente consagrado com o seu beneplácito. Tudo isto é legítimo para os críticos. O entendimento entre os povos é um perigo de lesa-pátria. Não se libertem, porque assim serão mais difíceis de mercantilizar. Compreende-se.

3 comentários:

Anónimo disse...

muito bem! Cada vez melhor.
Obrigada.
Um abraço
Maria CC

Anónimo disse...

Poderiamos aceitar a História, mas criar um só país unificado, a IBÉRIA, sem sermos integrados no país Espanha.
Seria a Região de Portugal, ou dividir fisicamente o país em duas regiões, através da linha do Tejo, em que o Alentejo e Algarve e Andaluzia se integravam numa só região e a norte uma só Região com a Galiza.
A actual Espanha também não é una, e assim até a ETA seria satisfeita e sanados os seus ataques.
Quanto à questão da Língua é que não sei como resolver, mas o José Saramago poderia dar uma solução, existem tantos dialectos na Iberia.
Estou a falar a sério.

Anónimo disse...

Até a ETA já funciona cá!