2007/07/21

OS DEUSES DEVEM ESTAR LOUCOS

Ontem durante o debate do Estado da Nação, o Primeiro-ministro acusou o PCP de estar por detrás da organização de manifestações contra si. "Durante dois meses [no final do ano passado], o seu partido organizou manifestações contra mim e nem respeitou o Congresso do PS. Onde eu ia, lá estavam militantes do PCP para me apupar". É normal que o PM se queixe, deve ser aborrecido ter, onde quer que se vá, uma comissão de boas-vindas desse tipo. Até aqui tudo normal, e bola passa para o lado do PCP. A resposta é de espantar. O PCP nega o seu envolvimento nessas manifestações! "São insinuações totalmente falsas e o senhor sabe disso porque o secretário-geral do partido lhe garantiu", retorquiu o líder da bancada, Bernardino Soares. "Fica-lhe muito mal usar um argumento falso num momento de aperto do debate."


Não sei o que passou pela cabeça dos Deputados do PCP para assumirem aquela posição. As manifestações incomodam o PM, mas as suas políticas também incomodam os sectores que legitimamente protestam, ou protestaram. Seguramente que muitos militantes comunistas estiveram nessas manifestações, assim como nelas terão estado cidadãos com outras tendências partidárias. Claro que o PCP tem responsabilidade, senão organizacional nesses actos, terá, felizmente, responsabilidade política, na medida em que tem apelado insistentemente a que os cidadãos protestem e se organizem contra a ofensiva neoliberal do Governo. Não percebo como pode o PCP enjeitar o seu papel no processo de contestação social. Aliás, os Deputados do PCP deveriam salientar que essa referência do PM, era um claro reconhecimento que o PCP continua a granjear influência social. Se houve insultos ou calúnias nessas manifestações, aí sim o PCP deve demarcar-se dessas atitudes, mas afirmar que esses actos irreflectidos não reduzem ou diminuem a relevância política dos protestos e da agenda reivindicativa que lhes está adstrita.

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