O senhor António Gancho viveu toda a vida numa porta giratória, girava e via apenas aquilo que se cruzava com ímpeto na sua mente. O senhor António Gancho não brincou com a vida, mas sim na vida, lançou os dados nas suas alucinações, as regras não existiam, só delírios poéticos. O senhor António Gancho era poeta e vivia numa casa de loucos, vulgar e ironicamente chamada de saúde. A porta girou tantas vezes que agora era a casa do telhal que estava dentro do senhor António Gancho. O mundo inteiro vivia dentro dele e deixou de ter uma forma esférica para adoptar a humana. Um novo continente, gancho em forma de mão. Poema com a palavra António. António Gancho. Poeta. Louco. Eternamente na porta giratória.
2008/03/21
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3 comentários:
"Quando desaparecer
hei-de pedir à noite
que me consuma com ela
que me devaste a alma
não quero mais
quero desaparecer na noite
e só de noite consumir-me"
António Gancho
Para os menos familiarizados com estas coisas da literatura, António Luís Valente Gancho nasceu em Évora em 1940, foi poeta. Passou grande parte da sua vida em instituições de saúde mental. Morreu em 2006. António Gancho talvez fosse louco, mas foi seguramente poeta.
Morreu durante a noite, tal como desejou num dos seus poemas.
belo belo belo! bela homenagem.
Os poetas e artístas comunistas estão a morrer todos.
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