2007/08/15

COMO JÁ NINGUÉM SE LEMBRA DE TORGA




ORFEU REBELDE

Orfeu rebelde, canto como sou:
Canto como um possesso
Que na casca do tempo, a canivete,
Gravasse a fúria de cada momento;
Canto, a ver se o meu canto compromete
A eternidade do meu sofrimento.
Outros, felizes, sejam os rouxinóis...
Eu ergo a voz assim, num desafio:
Que o céu e a terra, pedras conjugadas
Do moinho cruel que me tritura,
Saibam que há gritos como há nortadas,
Violências famintas de ternura.
Bicho instintivo que adivinha a morte
No corpo dum poeta que a recusa,
Canto como quem usa
Os versos em legítima defesa.
Canto, sem perguntar à Musa
Se o canto é de terror ou de beleza.
Miguel Torga
ASENSIO

1 comentário:

Carlos Veiga disse...

Adoro Torga! Parabéns pela breve referência a esse grande poeta...
Pena que nem todos os Portugueses, sobretudo os senhores socialistas do governo tenham a sensibilidade para o reconhecer, deixando de lado o corporativismo rosa.