2007/08/10

CAPITAL, CAPITALISMO, LIBERALISMO




Henrique Raposo, escreve no Blogue Atlântico uma pequena dissertação, a propósito do que se vai passando na China, sobre o capitalismo e a sua relação directa com o liberalismo político.

“O jornal diz “China está a dar-se bem com o capitalismo”. Pois. O problema é que se dá mal com o liberalismo, que é outra coisa bem diferente. Ainda hoje, muita gente, mesmo alguns que pensam que são liberais, continuam a seguir a falácia de Marx, isto é, transformam o capitalismo num sinónimo de liberalismo. Erro. Dos grandes. Daqueles mentiras que se tornam verdade pela repetição." (É bastante curioso este comentário, na medida em que Marx nunca estabeleceu essa relação inexorável entre o Capitalismo e o Liberalismo Político. Aliás, umas das maiores falácias modernas é o sinónimo que se estabelece entre Mercado e Democracia propagandeado pelas correntes do Liberalismo Económico e do Neo-liberalismo. O Capitalismo sempre se deu bem com quase todos os modelos políticos, desde que estes não interferissem com os fundamentos da sua lógica intrínseca da acumulação. Deu-se bem com as ditaduras da América Latina, com as ditaduras na Europa Ocidental durante o século XX, com as guerras pelos recursos naturais e com a lógica geral da guerra, com as violações dos direitos humanos, ambientais e sociais, até convive bem com a democracia formal e dá-se bem com o sistema chinês onde um estado autoritário lhe garante a estabilidade necessária para a realização dos seus negócios.)
"Pode haver capitalismo sem liberalismo. Como na China e noutras partes da Ásia. E, aliás, esse é um dos perigos de hoje: há estados que acumulam riqueza pela via capitalista, mas que não são transparentes política e estrategicamente porque não são liberais." (A natureza não democrática desses estados é uma panaceia para os interesses capitalistas, onde não existem sindicatos organizados, onde é reprimida a actividade das correntes políticas democráticas, onde é mais fácil subornar para obter vantagens, onde a ética não é um entrave porque nem sequer é exigida. O Capitalismo dá-se efectivamente mal é com uma democracia completa, com uma democracia económica, social e cultural, com preocupações ambientais, onde a economia se sujeita aos interesses dos cidadãos. Esse é o único ambiente hostil ao Capitalismo.)

"E em relação à china até se pode dizer outra coisa: ser-se aberto ao capital não é o mesmo que ser-se capitalista. Capital é guito; capitalismo é um conjunto de regras processuais. E essas regras ainda não existem na China. A China também não é capitalista. É, aliás, uma potência mercantilista que se está a aproveitar do sistema económico global ainda relativamente aberto." (È justa esta distinção entre Capital e Capitalismo. Capitalista é uma sociedade que está sujeita aos interesses do Capital, e onde, se necessário for, o Mercado é apresentado como sinónimo de Democracia, apenas porque isso criará melhores condições de aceitação dos interesses do Capital. Mas só por isso! No texto de Henrique Raposo a distinção entre Capital e Capitalismo é feito como se o segundo fosse o primeiro com ética. Mas qual?)

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