Público - 04.08.2007
Artur Lopes anuncia um plano antidoping para a Volta a Portugal "extremamente apertado"
Artur Lopes anuncia um plano antidoping para a Volta a Portugal "extremamente apertado"
PÚBLICO - Porquê tanta polémica sobre doping no Tour?
ARTUR LOPES - Sempre que há um teste positivo há polémica. Houve o caso do Vinokourov, que é uma figura de topo, e de outros de menor mediatismo. A segunda polémica foi causada pelo facto de, pela primeira vez, se ter afastado um corredor [Michael Rasmussen] porque teve uma falta a um controlo surpresa antes da prova que o punha sob suspeita, e obrigou a sua equipa a tomar uma atitude, seguramente depois de ter conversado com o organizador do Tour e de ter ouvido o presidente da UCI [União Ciclista Internacional] a dizer que não seria bom que o Rasmussen ganhasse o Tour. Foi a primeira vez que uma equipa retirou um corredor e putativo vencedor. É uma demonstração cabal de que as coisas estão a mudar.
P- Concorda com decisão da organização da Volta a Portugal em aceitar ciclistas envolvidos na Operación Puerto?
AL- Este caso não tem a ver com a justiça desportiva, mas sim com a civil. No caso Puerto há muitas coisas por apurar e outras que não passam de puras suspeitas. Depois do convite feito e das equipas aceites, o organizador terá de ter uma razão muito forte para rejeitar inscrições, não apenas suspeitas.
P- Poder-se-ia exigir às equipas que cumprissem o mesmo código ético das grandes voltas?
AL- Não se pode exigir.Mas a Vuelta exigiu...Porque está no ProTour. Quis criar um código de ética e a associação de equipas queria subscrevê-lo. Foi a associação de corredores que não aceitou. Não se pode impor um código de ética sem impor uma sanção. Mediante um processo civil, que foi arquivado, em que não há ainda certezas sobre quem estava ligado àquela rede, não se pode de ânimo leve exigir aos organizadores que não aceitem determinados ciclistas. Se quiserem, podem não aceitar. Estarão a fazer bem? Mal? Mas, depois da equipa presente, retirá--los apenas por suspeita pode originar processos nos tribunais.
P- Há risco para a imagem da Volta?
AL- Há sempre. Mas o importante é que preparámos, com o CNAD [Conselho Nacional Antidopagem] e a UCI, um plano de controlo que é extremamente apertado, com testes sanguíneos surpresa, testes antes da Volta e durante a prova, incluindo detecção de eritropoietina.
P- Como é que o ciclismo se livrará da imagem que o liga ao doping?
AL- Vai demorar tempo, mesmo que a partir de hoje não houvesse mais ciclistas dopados. Falar-se-á sempre: "Ele subiu mais depressa que os outros, se calhar..." Quem não quer ser lobo não lhe veste a pele. Neste momento, a malha é muito apertada e gostaria de ver a mesma malha noutras modalidades. Se calhar teriam muitos mais casos. A estatística anual do CNAD indica que o ciclismo é a modalidade com maior percentagem de atletas controlados e não é a que tem o maior número de casos.
P- Este ambiente internacional poderá prejudicar a Volta?
AL- Prejudica sempre. Haverá um prejuízo que não é mensurável. Além de fenómeno desportivo, a Volta é um espectáculo. Continuará a haver muita emoção. O ciclismo é uma modalidade única, porque as pessoas cheiram o suor do atleta, estão ali ao lado dele. Há quem faça 120 km para ver passar, por 20s, os corredores. É algo inexplicável.
P- Há mais dificuldades ao nível dos patrocínios?
AL- Sim, mas mais pelas dificuldades económicas que pelo doping.
P- Será possível um dia ter uma esmagadora maioria de equipas comprometidas com o ciclismo limpo?
AL- Tenho esperanças disso. Se houver sete, oito, dez equipas a demitirem quem se dopa, haverá um efeito de propagação às outras.
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Artur Lopes, além de Presidente da Federação Portguesa de Ciclismo, é Médico e eleito da CDU na Assembleia Municipal de Loures.
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