Texto de Baptista-Bastos
A pátria ditosa, iletrada e abúlica, foi instigada à curiosidade por uma luta de galos, cuja natureza naturalmentelhe escapa. O assunto que divide os dois grandes dirigentes do Millenium BCP é, acaso, arrebatador mas, claramente, nada original. Um deseja modificar; o outro nega a mudança. Não têm semelhanças com as personagens do Rei Lear; são projecções de Lisboa em Camisa. E a assembleia geral no Porto foi disso testemunho, com avaria cibernética e tudo.
Há uns tempos, Belmiro de Azevedo tornou corriqueiro um acrónimo invulgar para o trânsito corrente das nossas elementares urgências: "opa". O singular vocábulo dominou as conversas de todas as quintas-feiras. Nos outros dias da semana o futebol foi dominante. No entanto, regressou à flor do entendimento quando o loquaz comendador Berardo aplicou o termo às ideias que manifestou sobre o Benfica.
Até então, opa era um modesto substantivo. Significava capa sem mangas, muito própria para uso de membros de confrarias ou de irmandades. Passou a ser uma palavra poderosa, profusa e inquietante. O leve mistério que lhe subjaz foi esclarecido pelas televisões, pelas rádios e pelos jornais. Podemos ser iletrados; porém, destas "opas", ficámos entendidos.
Quando o BCP lançou uma, sobre o BPI, julgávamos estar na posse de todos os segredos. Não estávamos. Aliás, nunca estamos. No universo do dinheiro as coisas passam-se entre mutismos. Teilhard de Chardin doutrinou: "Mesmo na cruz, Cristo não disse tudo." O dr. Ulrich, apesar de exteriormente muito tenso e, ao que consta, intempestivo em demasia, levou a sua avante. E os graves e solenes eng. Jardim Gonçalves e dr. Paulo Teixeira Pinto, irmãos de congregação, de terço e de novena, desavieram-se. Na luta pelo poder não há lealdades irredutíveis nem lembranças queridas. Quando Joe Berardo fala dos 40 guarda-costas que protegem Jardim Gonçalves de perigos medonhos, e de aviões particulares ao serviço de amigos do fundador do BCP, começamos a imaginar uma instância de direitos, fronteiras, mapas e mitologias que escapam ao nosso modesto mundo.
O poder da televisão foi, de novo, concludente. As horas, as emissões e os muitos programas consagrados à "crise" no BCP transferiram os interesses do português comum para a bisbilhotice do que iria acontecer entre dois homens poderosos, membros de uma congregação secreta. Nenhum português fora do cenáculo apoiava um, em detrimento do outro. A questão é mais simples do que transparece. Afinal, este assunto não nos diz respeito: é lá com eles. E, como é lá com eles, tudo voltará a ser como dantes, com delicadas alterações.
Há uns tempos, Belmiro de Azevedo tornou corriqueiro um acrónimo invulgar para o trânsito corrente das nossas elementares urgências: "opa". O singular vocábulo dominou as conversas de todas as quintas-feiras. Nos outros dias da semana o futebol foi dominante. No entanto, regressou à flor do entendimento quando o loquaz comendador Berardo aplicou o termo às ideias que manifestou sobre o Benfica.
Até então, opa era um modesto substantivo. Significava capa sem mangas, muito própria para uso de membros de confrarias ou de irmandades. Passou a ser uma palavra poderosa, profusa e inquietante. O leve mistério que lhe subjaz foi esclarecido pelas televisões, pelas rádios e pelos jornais. Podemos ser iletrados; porém, destas "opas", ficámos entendidos.
Quando o BCP lançou uma, sobre o BPI, julgávamos estar na posse de todos os segredos. Não estávamos. Aliás, nunca estamos. No universo do dinheiro as coisas passam-se entre mutismos. Teilhard de Chardin doutrinou: "Mesmo na cruz, Cristo não disse tudo." O dr. Ulrich, apesar de exteriormente muito tenso e, ao que consta, intempestivo em demasia, levou a sua avante. E os graves e solenes eng. Jardim Gonçalves e dr. Paulo Teixeira Pinto, irmãos de congregação, de terço e de novena, desavieram-se. Na luta pelo poder não há lealdades irredutíveis nem lembranças queridas. Quando Joe Berardo fala dos 40 guarda-costas que protegem Jardim Gonçalves de perigos medonhos, e de aviões particulares ao serviço de amigos do fundador do BCP, começamos a imaginar uma instância de direitos, fronteiras, mapas e mitologias que escapam ao nosso modesto mundo.
O poder da televisão foi, de novo, concludente. As horas, as emissões e os muitos programas consagrados à "crise" no BCP transferiram os interesses do português comum para a bisbilhotice do que iria acontecer entre dois homens poderosos, membros de uma congregação secreta. Nenhum português fora do cenáculo apoiava um, em detrimento do outro. A questão é mais simples do que transparece. Afinal, este assunto não nos diz respeito: é lá com eles. E, como é lá com eles, tudo voltará a ser como dantes, com delicadas alterações.
escritor e jornalista
b.bastos@netcabo.pt
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