2008/05/17

A NOVA GRAFIA DO PORTUGUÊS




Acompanhei com bastante interesse o debate em torno do Acordo Ortográfico. A minha posição sobre o tema foi oscilando, sem nunca ser peremptória (cá está uma palavra que não sei se mudará de grafia, por agora fica assim). Tentei ler todos os artigos de opinião, notícias sobre o tema e ouvir os debates entre os prós e os contras. Até li o texto integral do acordo.
A minha posição foi-se então definindo, mas mais contra os contras que a favor dos prós. É sempre um mecanismo possível de formar opinião. Provoca-me muita urticária as concepções (acho que nesta cai o P) imperialistas e elitistas sobre tudo o que disser respeito a todos. O português não é só nosso, dos portugueses, e entre nós, não é só dos “eruditos”. A Língua Portuguesa (creio que aqui a capitação não se aplicará) é de todos os falantes, incluindo-se aqui todas as comunidades lusófonas espalhadas pelo mundo. Este deve ser o ponto de partida. Assumir esta comunidade obriga à existência de uma estratégia de comum de gestão de um património, também ele comum.
A língua é um retrato da sociedade, possui todas as dimensões desta, cultural, histórica e económica. Por outro lado, tal como as sociedades, a língua é uma entidade viva, em constante movimento e transformação, acabando por incorporar e reflectir (mais uma) todas as mudanças sociais. O português, ao ser falado por comunidades tão diferentes e com dinâmicas tão próprias, gerou variantes ricas e com um grande grau de autonomia semântica e sintáctica, sobretudo na variante brasileira. Isto não é dramático, é natural, sendo inclusive uma prova do vigor da língua. Foi flexível o suficiente para se adaptar a novas realidades, contextos e tempos.
O Acordo Ortográfico não contrariará nenhum destes movimentos, porque a vida não se proíbe por decreto. O novo acordo é uma simples, mas necessária, expressão de vontade de reaproximação gráfica das variantes, estabelecendo regras comuns, ainda que flexíveis. Mas porquê esse esforço? Porque uma língua partilhada por vários povos é uma ponte entre esses povos. Porque uma língua comum é um veículo de partilha e de cooperação económica, social e cultural. Porque se a língua inexoravelmente muda, que mude também de acordo com os interesses dos seus falantes e das suas comunidades.
Neste debate aprendi bastante, pelo que ouvi, mas também pelo que procurei conhecer, contudo continuo a achar que o debate nunca se poderia reduzir a uma catarse linguística e cientifica. Neste ponto, ganharam os prós. E ganharam-me.
Entretanto aconselho a leitura de “Atual” (o corrector indica-me que a palavra está mal escrita, mas se calhar corrector é que estará), um pequeno manual da Texto Editora sobre “O que vai mudar na grafia do português”.



9 comentários:

Anónimo disse...

...qualquer língua contém em si qualquer coisa de fuga, que não pode ser apanhada por um acordo político; é pouco importante nesta caso saber se interessa este acordo, uma vez que começando com um... terão que aparecer dois e por aí afora; uma vez que noutros lugares e espaços e outros falantes vão fazer fugir a língua portuguesa mais uma vez...

O MARQUÊS DA PRAIA E MONFORTE disse...

Caríssimo

Não sei se consegui perceber o seu conceito de fuga. Se afirma que as variantes continuarão a evoluir, concordo consigo. É bem possível que haja num qualquer futuro a necessidade de outros acordos, mas isso não é dramático. Foram várias as revisões ortográficas feitas durante o século XX e hoje quase toda a gente crê que escreve assim desde sempre. Imagine que estranho deve ter sido para um adulto no início do século XX deixar de escrever mãi e pae, para passar a escrevr mãe e pai, imagine a dificuldade de ter de fazer você esta mudança?

Anónimo disse...

...em fuga, penso numa língua que não é estática nem estatizada; em permanente mudança pelo povo, nunca decretada por acordos; não me faz confusão o acordo ortográfico pela mesma razão: este impõe uma nova "fuga". A grafia é uma norma, abreviando uma convenção, mas é uma norma que tem valor poético...

O MARQUÊS DA PRAIA E MONFORTE disse...

Nisso tem razão, a língua nunca é estática, nem é estatizável. Os seus falantes alteram-na constantemente. As normas fixam as mudanças, legitimam-nas, tornam-nas coerentes e “normalizadas”. Claro que com o tempo e o uso, novas alterações se imporão, pelo que novos acordos surgirão.
A referência ao povo é que é muito poética.
Durante séculos, o hiato entre a língua erudita e a língua utilizada pelo povo, no português, era abissal. Hoje, muitos dos fenómenos determinantes na evolução da língua esbateram-se, sobretudo os fenómenos fonéticos, sobretudo pela universalização do ensino e da comunicação. A escolarização do povo e a democratização da competência da expressão escrita ajudou a unificar socialmente a língua e a fixá-la gráfica e foneticamente. Aceleram os mecanismos de mudança que se relacionam com o aumento das trocas culturais a nível global e com os avanços tecnológicos e mudanças sociais. Em todo o caso a língua é uma ferramenta da vida em sociedade, que manterá a suas características enquanto estas forem úteis e adequadas, sendo forçada à mudança se se revelar desadequada às necessidades.

Anónimo disse...

Resumindo, portugueses em Portugal já são poucos, uma vez que 5 milhoões (apenas números oficiais) estão fora a trabalhar, barsileiros cada vez mais cá e o até a língua se adapta a eles.
ESTAMOS NO BRASIL VIVA!
Até o seleccionador e Deco são portugueses!
Portugal é coisa do passado, coisa velha e retrogada.

Anónimo disse...

Sacou aí ô cara marquêis? ocê tem de deixar essa escrita sua ultrapassada viu? coisa mais sem graça, naum é?

Anónimo disse...

Éisso memo sr. marqueiz, ocê vai pra paquerar uma gatinha e ela xuta ocê com essa sua maneira antiga de falar, é marqueiz se cuida.
E O BURRO SOU EU?

Anónimo disse...

Viva a caipirinha e a bundinha!

Anónimo disse...

Bom, tenho de ir apanhar o ônibus...