2008/05/23

O ÊXITO E AS OPÇÕES ERRADAS


Imagem retirada daqui.

"A Expo'98 e o Parque das Nações foram um sucesso à escala internacional. Contudo, o êxito não deverá fazer esquecer alguns aspectos menos conseguidos. Logo no primeiro trimestre de 1990 participei numa reunião com o ministro Couto dos Santos, onde se analisou a hipótese de Portugal se candidatar à realização de uma Exposição Universal/Mundial, originada numa ideia de Mega Ferreira e Vasco Graça Moura. Nessa reunião estiveram também os presidentes das câmaras de Lisboa e Oeiras, respectivamente, Jorge Sampaio e Isaltino de Morais.

A ideia, interessante à partida, tinha todas as condições para não vingar. Não havia, ao tempo, uma experiência portuguesa recente adequada a coisa de tal quilate, mas, fundamentalmente, a diversidade partidária e ideológica dos responsáveis políticos cujas competências tinham, de uma forma ou de outra, interferência com o território alvo, era muito grande. Na referida reunião abordou-se a primeira prova de fogo, ou seja, o local da realização. Havia três hipóteses em Algés/Pedrouços, junto ao Tejo, distribuída por vários pólos nas duas margens do estuário, e, finalmente, no local onde acabou por assentar. Convenhamos que, numa primeira leitura, o sítio Pedrouços/Algés era um forte candidato: menos trabalho a fazer e um presidente de câmara activo, experiente e... do PSD. Acabou por se escolher, e bem, o sítio a oriente. Oeiras deu provas de ser elegante e sábia na derrota.

Durante todo o processo, iniciado naquele ano de 1990, ocorreram diversos momentos críticos que, cada um por si, poderia ter condenado o evento. Casos como o da avocação, exigida pela Parque Expo, de certas competências municipais em matérias de gestão e planeamento urbanístico, a retirada do aterro (lixeira) de Beirolas e a respectiva construção da central de tratamento/incineração de S. João da Talha, a variante da EN 10, ou, para ficar por aqui, a localização da segunda travessia rodoviária do Tejo, poderiam ter inviabilizado o projecto, caso não houvesse entendimento e decisão acertada. Provou-se que em política é possível decidir (razoavelmente) bem, sem perder, no essencial, os objectivos partidários de longo prazo.Só depois de ter sido garantida a estabilidade política das soluções, foi possível, a partir de 1993/94, viabilizar o trabalho dos gestores, dos engenheiros e arquitectos, e tantos outros profissionais de grande qualidade. Entre outros salientar Cardoso e Cunha, Torres Campos e Vassalo e Silva.

Foi possível realizar um evento que engrandeceu Portugal, não obstante a gritaria inicial dos que criticavam o citado "despesismo". O único resultado dessas críticas foi o modelo de financiamento de "Custos Públicos Zero", que conduziu a soluções urbanísticas liberais, menos confortáveis para os moradores, trabalhadores, visitantes e comerciantes. Dizemos e escrevemos isto desde 1994.

Finalmente, dizer que me parece mau ainda hoje não estar regularizada a situação político-administrativa do Parque da Nações. Quando saí, voluntariamente, da presidência da câmara municipal de Loures, em 1999, estava-se a um passo de o conseguir. Será que nas próximas eleições autárquicas a administração da Parque Expo/Parque das Nações se candidata?"

Demétrio Alves, in JN, 23 de Maio, 2008

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