2008/05/15

“ARROZ DE CABIDELA, SEM FRANGO, NEM ARROZ, NEM A PANELA”

{até Vital Moreira conseguiu dizer que o Primeiro Ministro estava a violar a lei, quando decidiu fumar dentro de um avião}


Num texto publicado ontem, 13 de Maio, no jornal Público, Vital Moreira disserta sobre a possibilidade de um partido ser socialista, sem que seja mesmo socialista. É um exercício dificil, pelo que reconheço coragem de VM em lançar-se em tamanha empresa.

A lógica de VM é simples e reduz-se ao seguinte. O socialismo, enquanto doutrina económica não faz sentido e foi abandonada pelos partidos socialistas e sociais-democratas. Estes partidos partilham com a direita o reconhecimento dos méritos do liberalismo económico. Contudo, continuarão a ser socialistas porque defendem a justiça social e o valor da igualdade. Esta teoria do sol na eira e chuva no nabal propalada por VM, não sei se será eventualmente uma teoria do socialismo-demoliberal-modernaço, mas parece-me ser a maior das utopias. VM vai contudo mais longe, defendendo a possibilidade de existência de uma esquerda que já não seja socialista em coisa nenhuma(!), dando o exemplo do Partido Democrata nos EUA.

VM vai contra corrente, perante os avanços do Capitalismo, nunca antes fez tanto sentido a agenda socialista, em todas as suas dimensões, mas sobretudo na económica. O Capital sem rédea é um cavalo à solta, indómito e destruidor. Deste facto temos tido múltiplos exemplos na história económica recente e na presente crise financeira internacional, na crise dos cereais ou na crise do preço dos combustíveis. Ao contrário dos povos, o Capital é uma entidade abstracta, sem pátria, sem religião, sem etnia, sem valores, sem moral, sem ética, sem humanidade. Acreditar na sua bondade histórica é uma ingenuidade pueril. O Capital necessita de ser controlado, contrariado, regulado, manietado e democratizado. A agenda económica do socialismo oferece ainda hoje as ferramentas teóricas para o desenvolvimento de uma economia social ao serviço dos cidadãoS. Nem todas as fÓrmulas passam pela colectivização dos meios de produção ou pela existência de uma economia totalmente estatizada e bloqueada, mas as fórmulas socialistas ou de esquerda, passarão todas pela existência, na esfera política e democrática, das ferramentas necessárias à correcção económica.

Uma esquerda que descarte a agenda económica socialista, passa a ser uma direita com “consciência social”, sendo que todas as suas acções conducentes à promoção dos valores da equidade social assumirão contornos de assistencialismo e caridade social, porque não influirão nos mecanismos profundos de produção da desigualdade. Esses mecanismos são económicos e próprios do sistema capitalista. Aliás, o assistencialismo e a caridade não enojam o Capital, que até os promove, porque sabe que todo o investimento em paliativos sociais têm o retorno da podre paz social, que tanto lhe convém.
.
Eu hoje venho aqui falar
.
"Eu hoje venho aqui falar
duma coisa que me anda a atormentar
e quanto mais eu penso mais eu cismo
como é que gente tão socialista
desiste de fazer o socialismo
é querer fazer arroz de cabidela
sem frango nem arroz nem a panela
.
Eu hoje venho aqui falar
duma coisa que me anda a atormentar
e quanto mais eu penso mais eu vejo
que esta grande obra de reconstrução
parece mas é uma acção de despejo
é como para instalar uma janela
atirar primeiro os vidros para a viela
.
Eu hoje venho aqui falar
duma coisa que me anda a atormentar
e penso e vejo de todas as cores
já libertaram pides e bombistas
deve ser para lá por trabalhadores
é como lançar cobras na cidade
e pôr dentro dentro da jaula a liberdade
.
Eu hoje venho aqui falar
duma coisa que me anda a atormentar
e vejo e de ver tiro conselho
aquilo que é mesmo reforma agrária
é para alguns o demónio vermelho
esses querem é ver anjos cor-de-rosa
entre Castro Verde e Vila Viçosa
.
Eu amanhã posso não estar aqui
mas também, para o que eu aqui repeti...
é que eu não sou o único que acho
que a gente o que tem é que estar unida
unida como as uvas estão no cacho
unida como as uvas estão no cacho"
.
Sergio Godinho

1 comentário:

Anónimo disse...

O Sr. Belmiro de Azevedo, quando fala dos gestores de topo, esqueceu-se de dizer que os gestores portugueses são dos mais bens pagos da Europa e os trabalhadores dos mais mal pagos. A descrepância é abissal. Mas entende-se, como ele gosta de pagar bem aos seus gestores que exploram os funcionários das suas empresas sonae até ao tutano.