Dos topos, aprendemos a fazer túneis.
Dos castores, aprendemos a fazer diques.
Dos pássaros aprendemos a fazer casas.
Das aranhas, aprendemos a tecer.
Do tronco que rodava pela encosta a baixo, aprendemos a roda.
Do tronco que flutuava á deriva, aprendemos os barcos.
Do vento, aprendemos a vela.
Quem nos terá ensinado as más manhas? De quem aprendemos a atormentar o próximo e a humilhar o mundo?
Auto-retrato Joan Miró
Olhando Miró
Almir D`avila entrou criança, declararam-no demente e nunca mais saiu.
Nunca ninguém lhe escreveu uma carta, nem nunca ninguém o visitou.
Ainda que pudesse sair, não tinha para onde: ainda que pudesse falar, não tinha com quem.
Faz mais de quarenta anos, que passa os seus dias no manicómio de San Pablo, deambulando em círculos, com um rádio pegado á orelha, e no seu caminho cruzando-se sempre com os mesmos homens que deambulam em círculos com uma rádio pegado á orelha.
Um dos médicos organizou uma visita a uma exposição de Joan Miró.
Almir vestiu o seu único fato, muito bem passado pelo colchão, meteu até aos olhos o seu boné de almirante e marchou com todos, rumo ao museu.
E viu. Viu as cores que estalavam, o tomate que tinha bigodes e o garfo que dançava, o pássaro que era uma mulher nua, os céus com olhos e as caras com estrelas.
Andou, de quadro em quadro, de testa franzida. Era evidente que Miró lhe tinha defraudado, mas o médico quis conhecer a sua opinião:
-Demasiada – disse Almir.
-Demasiada quê?
-Demasiada loucura.
Almir D`avila entrou criança, declararam-no demente e nunca mais saiu.
Nunca ninguém lhe escreveu uma carta, nem nunca ninguém o visitou.
Ainda que pudesse sair, não tinha para onde: ainda que pudesse falar, não tinha com quem.
Faz mais de quarenta anos, que passa os seus dias no manicómio de San Pablo, deambulando em círculos, com um rádio pegado á orelha, e no seu caminho cruzando-se sempre com os mesmos homens que deambulam em círculos com uma rádio pegado á orelha.
Um dos médicos organizou uma visita a uma exposição de Joan Miró.
Almir vestiu o seu único fato, muito bem passado pelo colchão, meteu até aos olhos o seu boné de almirante e marchou com todos, rumo ao museu.
E viu. Viu as cores que estalavam, o tomate que tinha bigodes e o garfo que dançava, o pássaro que era uma mulher nua, os céus com olhos e as caras com estrelas.
Andou, de quadro em quadro, de testa franzida. Era evidente que Miró lhe tinha defraudado, mas o médico quis conhecer a sua opinião:
-Demasiada – disse Almir.
-Demasiada quê?
-Demasiada loucura.
A comédia do século
Em 1889 Paris festejou, com uma grande exposição internacional, os cem anos da revolução francesa.
Argentina enviou uma variada mostra de “frutos” do país. Entre outros, mandou uma família de índios da Tierra del Fuego. Eram onze índios Onas, exemplares raros, uma espécie em extinção: os últimos Onas estavam a ser aniquilados nesses anos a tiros de winchester.
Dos onze Onas enviados, dois morreram na viagem. Os sobreviventes foram exibidos numa jaula de ferro. Antropófagos sul- americanos, advertia um cartaz. Durante os primeiros dias não lhes deram nada de comer. Os índios uivavam de fome. Então, começaram a atirar-lhes alguns pedaços de carne crua. Era carne de vaca. Mas, ninguém queria perder aquele espectáculo horripilante. O público, que havia pago entrada, golpeava-se em torno da jaula, onde os selvagens canibais disputavam com garra e garras a comida.
Assim foram celebrados os primeiros cem anos da declaração dos Direitos do Homem.
Dos onze Onas enviados, dois morreram na viagem. Os sobreviventes foram exibidos numa jaula de ferro. Antropófagos sul- americanos, advertia um cartaz. Durante os primeiros dias não lhes deram nada de comer. Os índios uivavam de fome. Então, começaram a atirar-lhes alguns pedaços de carne crua. Era carne de vaca. Mas, ninguém queria perder aquele espectáculo horripilante. O público, que havia pago entrada, golpeava-se em torno da jaula, onde os selvagens canibais disputavam com garra e garras a comida.
Assim foram celebrados os primeiros cem anos da declaração dos Direitos do Homem.
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