2008/06/14

A VONTADE DOS EUROPEUS É UM PROBLEMA!




O “Não” venceu na Irlanda, pelo que o Tratado de Lisboa, que carecia de ser ratificado pelos 27 países da União, estará moribundo. Se os governos europeus quisessem retirar uma justa conclusão do acontecimento, iniciariam uma reflexão, não só sobre as propostas e as soluções constantes no Tratado, mas sobretudo sobre a qualidade democrática do processo de construção europeia. Aquando do chumbo do Tratado constitucional foram muitas as vozes que defenderam um rumo e um modo diferentes.
Contudo, a totalidade das lideranças optaram por outro caminho. Optaram por afastar ainda mais os cidadãos do processo, que passaram a ser encarados como empecilhos ao processo de construção e reforma das instituições europeias. Assim, em todos os países se evitou o recurso ao referendo, realizando na Irlanda por imperativos constitucionais.
Perante isto, as declarações dos dirigentes europeus só nos podem causar perplexidade.

“Acredito que o Tratado está vivo e que devemos procurar uma solução." José Manuel Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia

"Esperamos que todos os outros Estados-membros continuem o processo de ratificação [do Tratado de Lisboa]" Declaração conjunta franco-alemã

"O Governo irlandês tornou claro que acredita que países como a Grã-Bretanha têm o direito de prosseguir com o processo de ratificação, porque tem de existir uma perspectiva britânica, tal como tem de existir uma perspectiva irlandesa" David Miliband, ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, garantindo que o Reino Unido prosseguirá com a ratificação parlamentar


"Penso que [o resultado do referendo] é um problema, mas acredito que a ratificação e a implementação vão ser concluídas com êxito." Donald Tusk, primeiro-ministro da Polónia

A decisão dos eleitores da Irlanda, os únicos que tiveram a oportunidade de se pronunciar directamente, e que mal ou bem puderam desenvolver um debate sobre a Europa, é encarada como um problema que se tem de ultrapassar. Ou seja, as elites europeias estão já a congeminar a melhor forma de tornar inócuo o chumbo, tentando encontrar um desvio para chegar aos objectivos pré-traçados. Sem os cidadãos e contra os cidadãos.


As citações são da edição de hoje do Jornal Público.

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