2009/11/16

POLÍTICA E MERITOCRACIA



Deambulando pela internet, encontrei este texto:

“Era uma vez um menino, filho de um presidente de uma junta de freguesia em Loures, que andava constantemente a ser expulso de escolas e liceus, e que nunca fez nada na vida.O pai, antigo varredor de ruas, agarrou-se à política, criou o seu séquito na sede local do partido onde 'vivia' de segunda a domingo, chegou a presidente de junta e um belo dia conseguiu negociar apoios com o candidato do seu partido à Câmara Municipal em troca de um lugar de vereador para o seu filho... algo que foi conseguido há muito pouco tempo.Eis um belo - e real - exemplo da política à portuguesa e de como a meritocracia é guardada na gaveta, sobrepondo-se a esta o nepotismo.Acrescente-se que esse jovenzinho, que talvez nem o 12.º ano tenha completado, chega assim a vereador de uma das principais autarquias do país.”

O texto refere-se ao novo Vereador da Câmara Municipal de Loures, eleito nas listas do PS, Ricardo Jorge Monteiro Lima, filho do Presidente de Junta de Freguesia de Moscavide. Desde já deixo claro o seguinte; ainda não conheço o novo Vereador, nem pude sequer avaliar os seus méritos. Se foi bom ou mau aluno tampouco sei, e é claro que um varredor pode aspirar a qualquer cargo electivo. Faço a ressalva, porque não é necessário ser injusto e incorrecto.

Contudo, há aspectos subjacentes a este texto que merecem alguma atenção.
Recentemente, em vários órgãos de comunicação social, surgiram notícias sobre a nomeação de parentes de eleitos do PS para a estrutura municipal, gabinetes, essessorias e secretariados. Isso tudo é verdade, mas também é verdade que tal ocorre, porque no seio das próprias estruturas partidárias essa “familiarização” e “apadrinhamento” já aconteceu. Assim, a distribuição de beneces de modo equitativo entre os vários clãs é um cimento unificador. Ou seja, enquanto houver para todos e a todos se der algo, não existem descontentamentos, pelo menos partidários.
Já em tempos aqui falei disso. Quem conhecer com alguma proximidade a vida da Câmara Municipal de Loures, conhece todos estes aspectos. São muitos, mas mesmo muitos, demasiados, os lugares ocupados para satisfazer esta lógica. A feira de vaidades, a ostentação, a utilização de viaturas, telemóveis, tudo isto é legal.
Não é ilegal que no jogo dos arranjos e dos lugares muitos tenham encontrado no “serviço ao público” o modo de se servirem a si mesmos e aos seus familiares e amigos, tendo acedido a um nível de vida nunca antes perspectivável pelos próprios.

Nesta campanha eleitoral assisti ao empenho e ao fervor com que as suas posições foram defendidas. Um vigor, e aqui permito-me fazer um juízo de valor, que resultava talvez do facto de não se estar somente a defender uma ideia, mas antes uma parte do poder, um estatuto, um nível de vida, um emprego bem pago e nem sempre muito exigente.

A moral da República é a Lei, pelo que não são conhecidas incompatibilidades legais nesses nomeados. É legal que assim seja.

Deste modo todo o juízo deve ser político e reduz-se ao campo da ética. É politicamente condenável esse tipo de aproveitamento do poder conferido pelo voto dos cidadãos. Mas porque o problema é exclusivamente político, devem ser os cidadãos a tomar consciência que suportar este tipo de posturas é empobrecedor da democracia, porque esta deve ser o reconhecimento da palavra honrada, do mérito e da dedicação, do escrutínio de propostas e da elevação das práticas.

3 comentários:

Anónimo disse...

Tudo isto seria acertivo e correcto não fosse escrito por alguém que faz parte de um partido (PCP) que um dia fez o mesmo em Loures (com exemplos que estaria a tarde toda a dedilhar) e que continua a fazer em inumeras Autarquias deste País onde são poder (também passaria a tarde a dedilhar os exemplos. Por isso à mulher de César não basta ser séria. É preciso parecer ser séria. Meu caro amigo: aceito, enquanto eleitor do Concelho, este tipo de denuncias/criticas mas vindas de alguém que não tenha telhados de vidro. Volto a pegar na elementar frase opular que diz: são todos iguais. Venha o primeiro dizer-me que é diferente. Por isso não acredito e já não voto pois para mim são mesmo mesmo todos iguais. Quanto ao facto do menosprezo com que se refere a um varredor de rua deixe-me dizer que fica mal a alguém que defende,em teoria, os trabalhadores e a luta de classes fazer considerações desta natureza sobre a profissão dos varredores. Se vir bem são tão ou mais importantes que um médico ou um engenheiro. E são muito mais importantes e precisos que qualquer politico deste País! Fiquem bem entretidos nessas vossas guerras constantes de atoardas que qualquer dia têm de passar o voto de dever a obrigação poisporeste andar qualquer dia a abstenção toma conta do que falta deste País!

António Câmara e Sousa disse...

Caríssimo;

Obrigado pelo seu comentário, mas permita-me os seguintes esclarecimentos:

Começando pelo fim, note que o texto que surge destacado não é da minha autoria. Aliás contém um hiperlink para a sua localização original. Se reparar, distancio-me do seu conteúdo, em parte por não poder confirmar ou infirmar algumas das suas afirmações e no caso em concreto da referência à profissão do actual Presidente de Junta de Freguesia de Moscavide, também afirmo que é um aspecto irrelevante.

Sobre o resto, note que no seu comentário não contradiz nenhuma das minhas afirmações, contenta-se com realidade, justificando-a.

Eu considero o nepotismo uma prática errada, ética e politicamente condenável, não se justificando por que é praticada por este ou porque foi praticada por outro. É errada e ponto. Pelo que a minha crítica abrange todas as situações em que possa ter ocorrido. Posição diferente da sua, que parece autojustificar uma má prática actual com uma má prática anterior.

Mas desde já lhe digo, que ao contrário do que afirma, nunca conheci uma situação de governo no Município de Loures, onde tantos familiares directos, ascendentes, descendentes ou laterais, de titulares políticos tivessem ocupado lugares de nomeação em gabinetes e secretariados dos seus familiares ou nos gabinetes dos seus colegas de administração. Você conhece. Eu não. Mas se as conhecer, mantenho a minha opinião e censura.

Algo que me parece que você tem menos à vontade para fazer.

Cumprimentos.

Anónimo disse...

É uma situação muito Caricate em Loures os dois Ricardos Jorges o lima e o leão,filhos de presidentes de junta uma grande anedota...

Assinado: Jorge Fascista(batista)