2008/10/14

"NÃO É COM UMA ESMOLA QUE NOS CALAM"





Imagens do estado actual da Ribeira do Prior Velho e do aterro ilegal.

Críticas na entrega de apoios

00h30m
LUÍS GARCIA

A atribuição do fundo de apoio às vítimas das cheias de Fevereiro, em Loures, decorreu no meio de muitas críticas. Os moradores e empresários criticaram a falta de medidas para prevenir episódios semelhantes.

Ao todo, a Câmara de Loures distribuiu 500 mil euros por algumas das famílias e empresas que perderam quase tudo nas cheias que assolaram o concelho. O presidente Carlos Teixeira garante que esta foi a primeira vez que uma autarquia prestou este tipo de apoio à população.

Carlos Teixeira justificou a demora na atribuição da verba com a lentidão da entrega dos processos por parte da população afectada e com a necessidade de alterar alguns regulamentos municipais de modo a "fazer tudo dentro da lei". Segundo o autarca socialista, "é muito triste" que o município não tenha recebido "nenhuma verba de apoio" por parte do Governo, apesar de, pelas contas da Câmara, o prejuízo tenha ascendido aos 20 milhões de euros.

Quem não se ficou pelos ajustes foi a população afectada. Aproveitando a presença do executivo municipal, os populares criticaram a falta de medidas para prevenir novas cheias. "Não pensem que nos calam com esta esmolazinha", dizia uma das vítimas das cheias. "Ainda esta noite choveu e eu não preguei olho, sempre a controlar o rio, a ver se não transbordava para a minha casa", queixava-se outra.

Maria Antónia Mendes e Manuel Marques fizeram questão de mostrar aos responsáveis da Câmara a habitação onde residem, em Ponte de Frielas. As condições da casa são tão más que o Tribunal de Menores ordenou que os filhos do casal, com 13 e 17 anos, fossem retirados à guarda dos pais.

A marca de onde andou a água, acima de um metro e meio, ainda é visível na parede. O cheiro intenso denuncia a humidade que também é visível na cor das paredes e do chão. Duas ratoeiras armadas fazem parte do pobre mobiliário do quarto onde o casal dorme.

Maria Antónia Mendes e Manuel Marques, ambos na casa dos 30 anos e desempregados, moram há 12 anos naquela habitação precária, pagando uma renda de 125 euros, apesar de saberem que a zona não é apta para habitação. Mesmo ao lado da casa, a um nível mais elevado do que a própria habitação, corre a Ribeira da Póvoa. Sempre que transborda, a casa fica debaixo de água.
A comitiva municipal deixou um conselho ao casal: que pegassem nos 4.830 euros que receberam de indemnização e procurassem uma habitação com condições. Antónia Mendes não fica convencida. "O dinheiro não nos tem chegado nem para comer", diz, "Se mudarmos de casa, como vai ser quando esta ajuda se acabar?".

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